Plenário derruba veto do governador a proposição que altera MP

O Plenário da Assembléia Legislativa de Minas Gerais rejeitou, na Reunião Extraordinária da manhã desta quinta-feira ...

09/08/2007 - 00:02
 

Plenário derruba veto do governador a proposição que altera MP

O Plenário da Assembléia Legislativa de Minas Gerais rejeitou, na Reunião Extraordinária da manhã desta quinta-feira (9/8/07), a maior parte do veto do governador à Proposição de Lei Complementar 105. A proposição é oriunda do Projeto de Lei Complementar (PLC) 17/07, do procurador-geral de Justiça, que altera a organização do Ministério Público do Estado. Com 60 votos "não", nove "sim" e um branco, o veto foi derrubado. Dessa forma, foram retirados, na proposta original aprovada pela ALMG e enviada ao governador, os incisos II e III do artigo 14. Nesses dispositivos, os deputados acompanharam o veto do governador, com 69 votos favoráveis e um branco. Os incisos II e III elevam à categoria de 2ª entrância as comarcas de Igarapé e Nova Serrana, respectivamente.

Com a derrubado do veto, a proposição segue agora, através de ofício, ao governador. A partir do recebimento da correspondência, começa a contagem do prazo de 48 horas, previsto no Regimento Interno, para que o governador promulgue a proposição de lei. Se, dentro desse prazo, a proposição de lei não for promulgada, o presidente da Assembléia a promulgará. Caso não o faça, também em até 48 horas, caberá ao vice-presidente fazê-lo, dentro do mesmo prazo.

A Proposição de Lei Complementar 105 foi vetada totalmente pelo governador, na última terça-feira (7). Na quarta-feira (8), a Comissão Especial da ALMG criada para analisar o veto opinou pela rejeição do veto do governador a todos os artigos do projeto, com exceção dos incisos II e III do artigo 14. O parecer, que foi acompanhado na votação, acatou o argumento do governador, que avaliou que a alteração da organização judiciária compete somente ao Judiciário; e que a possibilidade de magistrados e membros do MP trabalharem na mesma comarca, mas com classificações diferentes, prejudica a ordem institucional e o interesse público.

Gratificação - Da forma aprovada, a matéria também criou gratificação para promotores designados para atender mais de uma Procuradoria ou Promotoria de Justiça na mesma comarca em que for titular. A gratificação será de até 15% do subsídio (R$ 3.316). Prevê ainda uma indenização por plantões nos finais de semana, feriados, ou em razão de medidas urgentes, com valor a ser fixado pelo procurador-geral de Justiça.

Com exceção dos incisos II e III, o veto aos outros dispositivos da proposição foi rejeitado pelo Plenário. O parecer da comissão, seguido pelos deputados, advoga que todas as normas da proposição, relativas a procedimentos do MP em fase pré-processual, incluído o inquérito civil público, estão fundamentadas na Constituição Federal, que confere ao Estado competência concorrente para legislar sobre procedimento em matéria processual. Além disso, a proposição também encontra sustentação em decisões do Supremo Tribunal Federal, a exemplo da Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) 1.285/SP, que trata de instauração de inquérito civil público.

De acordo com a proposição aprovada, caberá ao procurador-geral de Justiça instaurar e presidir inquéritos em atos praticados por governador do Estado, deputados, magistrados, vice-governador, conselheiros do Tribunal de Contas, secretários de Estado, promotores, advogado-geral do Estado e defensor público-geral. Hoje, a legislação refere-se apenas ao governador, a presidentes da Assembléia ou de tribunais.

Em relação às mudanças de ordem procedimental e outras, de cunho administrativo ou organizacional, a Assembléia entendeu que elas foram efetuadas para dar mais eficiência, eficácia e transparência, que são princípios constitucionais. A proposição traz normas que visam, também, aperfeiçoar os sistemas de controle da atuação do Ministério Público, como, por exemplo, a alternância na condução de órgãos ministeriais especializados. Outra preocupação foi assegurar a transparência e a publicidade dos atos praticados pelos membros do MP, atendendo ao direito fundamental do cidadão, de conhecer a atuação dos órgãos e agentes públicos, quaisquer que sejam.

Deputados fazem declaração de voto

Parlamentares da oposição defenderam o voto da bancada do PT e do PCdoB pela manutenção do veto. Elisa Costa (PT) disse que, desde que o PLC 17/07 chegou à Casa, o PT e o PCdoB discordaram dele, por criar gratificação para os promotores, abrindo-se a possibilidade de extrapolar o teto do serviço público e o limite de gastos com pessoal, previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal. Com esse argumento, concordou o deputado Padre João (PT), que defendeu a coerência do partido, que condenou os aumentos salariais previstos e as restrições ao trabalho dos promotores. Elisa Costa defendeu ainda a retomada do diálogo da Assembléia com o MP e a sociedade, no que foi acompanhada pelo deputado Durval Ângelo (PT). Também o deputado André Quintão (PT) destacou a importância do debate com o MP, inclusive antes da aprovação do projeto.

O deputado Carlin Moura (PCdoB) lamentou que a proposição determine que a abertura do inquérito contra diversas autoridades passe a ser de competência privativa do procurador-geral. Mas ressaltou que, mesmo com esse entrave, não permitirá que em Minas se tenha, em vez de um procurador-geral, "um engavetador-geral de processos". Nessa linha, o deputado Weliton Prado (PT), declarou que a proposição está, na verdade, blindando secretários de Estado e criando gratificações indevidas.

O deputado Sávio Souza Cruz (PMDB) se posicionou pela abstenção na votação. Na avaliação dele, a votação de hoje não passou de uma grande encenação, "uma peça bufa em que o mesmo governador que veta o projeto é o mesmo quem convoca sua base de sustentação na Assembléia para derrubar a proposta". Para o deputado, ao se prestar a esse papel, a ALMG se descaracteriza como Poder e se mostra subalterna.

Mas os deputados Domingos Sávio e Zé Maia, do PSDB, condenaram a declaração de Sávio. Domingos Sávio rebateu com a afirmação de que o Legislativo não foi subalterno ao Executivo, e sim, teve postura de independência em relação ao governo. Já Zé Maia avaliou que Sávio Souza Cruz estaria, com sua fala, desrespeitando os deputados e o Poder.

Também Alencar da Silveira Jr. (PDT) definiu que a derrubada do veto refletiu a liberdade e independência do Legislativo. Outros deputados do PMDB fizeram a defesa da derrubada do veto: Vanderlei Miranda (PMDB) ironizou a posição do PT, dizendo que a Assembléia seria uma "casa do espanto", assim como foi apelidada a Câmara de Belo Horizonte, quando ele era vereador. Isso porque, de acordo com ele, o PT, em relação à Proposição de Lei Complementar 105, votou com o governador, e a base governista, contra. Antônio Júlio disse, com a aprovação da matéria, "caiu a máscara do PT e do Ministério Público". Na visão dele, as duas instâncias sempre foram instrumentos um do outro de denuncismo.

 

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