Comissão visita Reserva de Patrimônio Natural em Chapada Gaúcha

A Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa de Minas Gerais esteve nesta segunda-feira ...

16/07/2007 - 00:00
 

Comissão visita Reserva de Patrimônio Natural em Chapada Gaúcha

A Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa de Minas Gerais esteve nesta segunda-feira (16/7/07) em Chapada Gaúcha, município do Extremo Norte do Estado. Os deputados foram conhecer uma Reserva Particular de Patrimônio Natural mantida pela Usina Coruripe, que produz açúcar no Triângulo Mineiro. São 8.500 hectares de cerrado, com veredas, espécies vegetais e animais não catalogadas, refúgios de onças e ninhos de araras. Seis deputados participaram da visita e sobrevoaram a área num helicóptero do Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG), para formarem opinião sobre esse tipo de preservação, antes de votarem o parecer sobre o Projeto de Lei 6/07 do deputado Paulo Guedes (PT), que pretende limitar a reserva legal das propriedades rurais à mesma bacia hidrográfica.

O PL 06/07 buscar alterar o artigo 17 da Lei 14.309, de 2002, que permite o atendimento à obrigação de formar reserva legal em outra bacia hidrográfica. É o caso dos produtores rurais de soja, cana-de-açúcar e dos pecuaristas do Triângulo Mineiro, detentores de grandes extensões de terras férteis desmatadas há décadas. Para o deputado Zé Maia (PSDB), é inviável para esses produtores abrir mão de 20% de suas propriedades para tentar recompor o ecossistema que havia ali anteriormente. É dele o requerimento da visita à RPPN Porto Cajueiro.

O exemplo visitado é o da Usina Coruripe, sediada em Alagoas e instalada em Iturama, no Triângulo mineiro O diretor-presidente, Vitor Montenegro Wanderley Júnior, escolheu aquela área indicada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG), por se tratar de um bioma extremamente frágil e praticamente intacto. Montenegro Júnior adquiriu 8.500 hectares, construiu uma sede, uma torre de vigia contra incêndios florestais, contratou vigias e brigadistas contra incêndio e agora começou um trabalho profundo de recenseamento da biodiversidade, com a identificação de espécies desconhecidas pela ciência.

Onças pintadas e ninhais de araras

As RPPNs, como são chamadas essas reservas, são fechadas perpetuamente para atividades produtivas, mas se prestam ao ecoturismo e à pesquisa científica. "Até agora já descobrimos dezenas de plantas não catalogadas, cinco tipos de batráquios e alguns répteis. Temos também grotas calcárias que abrigam onças pardas, onças pintadas, ninhais de araras e urubus-reis", revela o empresário.

O deputado Weliton Prado (PT) se interessou especialmente pelo projeto de construção de alojamentos para 30 estudantes, que poderão passar ali até seis meses fazendo estudos aprofundados da fauna e da flora para seus trabalhos de Biologia ou Botânica, desenvolvendo a ciência e ajudando as comunidades vizinhas na busca da sustentabilidade.

O IEF-MG aprova esse tipo de iniciativa, por oferecer a oportunidade de preservar biomas frágeis com recursos particulares, sem ônus para o Estado. Um estudo do órgão indica que seriam necessários R$ 400 milhões só para regularizar as unidades de conservação já existentes. O diretor-geral do IEF, Humberto Candeias Cavalcanti, observa que a permissão contida na lei não pode ser usada para burlar a obrigação de preservar o que ainda existe de patrimônio natural nas áreas densamente exploradas, e que o órgão julga as propostas de criação de RPPNs dentro de estritos critérios técnicos e ambientais. "Numa região como esta, a biodiversidade já está aqui. Não é preciso tentar recompor o que a natureza perdeu", argumenta.

Deputados defendem compensações com o VAF

Wander Borges, deputado do PSB, admirou a imensidão de terras disponíveis para a formação dessas reservas, concorda com a sensatez da iniciativa, mas, como municipalista, argumenta que é preciso discutir a compensação entre os municípios beneficiados. Da mesma forma pensa o prefeito de Chapada Gaúcha, José Raimundo Ribeiro Gomes, que viu a chegada dos gaúchos para plantar soja na década de 70 e agora, dos empresários ecologistas. "Acho bom ver alguém cuidando daquelas terras largadas, queimando à toa, mas temos que tomar cuidado para o Norte de Minas todo não virar uma reserva e ficar sem desenvolvimento", disse ele.

O parecer do deputado Almir Paraca (PT) ao projeto de lei do deputado Paulo Guedes não foi votado na Comissão de Meio Ambiente porque o vice-presidente, deputado Fábio Avelar (PSC), pediu vista, alegando que a proposta lhe pareceu muito restritiva, e que seria necessário dar-lhe uma abrangência maior. Depois da visita, o consenso dos deputados é de que deve ser preparado um substitutivo que contemple os vários interesses.

Paraca antecipa que muitas discussões ainda serão feitas para se encontrar um meio termo que equilibre os interesses da classe produtiva com os do meio ambiente. Ele receia também que a legislação ambiental mineira esteja em desacordo com a federal e menciona inclusive uma Ação Direta de Inconstitucionalidade que teria sido preparada pelo Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural, Urbanismo e Habitação (Caoma), do Ministério Público.

Presenças: Deputados Fábio Avelar (PSC), vice-presidente; Wander Borges (PSB); Zé Maia (PSDB), autor do requerimento; Almir Paraca (PT), relator; Paulo Guedes (PT), autor do projeto; Weliton Prado (PT), e o deputado federal Elismar Prado (PT-MG).

 

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