Jornalistas e deputados debatem democratização da mídia

Os monopólios dos meios de comunicação, a ameaça sobre as emissoras comunitárias e a distorção da informação foram os...

10/07/2007 - 00:00
 

Jornalistas e deputados debatem democratização da mídia

Os monopólios dos meios de comunicação, a ameaça sobre as emissoras comunitárias e a distorção da informação foram os principais temas debatidos por jornalistas e deputados na audiência pública da Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas realizada na tarde desta terça-feira (10/7/07) na Assembléia Legislativa de Minas Gerais. O requerimento do deputado Paulo Guedes (PT) convidava os jornalistas para debater a democratização dos meios de comunicação no Brasil.

Guedes iniciou a reunião dizendo que a liberdade de comunicação não pode ser restrita por causa dos monopólios, e que a sociedade precisa cobrar sua participação nos mecanismos de outorga das concessões de rádio e TV, compartilhados desde 1988 pelo Congresso e pelo Executivo. "Muitos defendem a criminalização das emissoras comunitárias, e assim contribuem para perpetuar o poder dos atuais concessionários", criticou o deputado.

O vice-presidente da comissão, Juninho Araújo (PRTB), ponderou que "na carona das rádios comunitárias, veio o câncer das rádios piratas, aproveitando a brecha na legislação criada pelo ex-ministro Sérgio Motta".

Délio Rocha, vice-presidente regional da Federação Nacional dos Jornalistas, deplorou a falta de regulamentação nacional da comunicação, que atribui a uma aliança feita entre os donos da mídia e os partidos políticos. Rocha disse que há 20 anos o projeto da Lei de Imprensa dormita nas gavetas do Congresso, e a legislação que vigora é do tempo da ditadura, não havendo qualquer forma de controle social sobre a mídia. "A Rede Globo e a Folha de S. Paulo fazem o que querem e fica por isso mesmo. O jornal Estado de Minas nada publica que seja contra o interesse do governador Aécio Neves, e fica por isso mesmo".

Rádios comunitárias são braço dos movimentos sociais

A razão para esse domínio, segundo Rocha, é que a própria sociedade fica alheia ao debate sobre a ética e a responsabilidade social do jornalista. "As concessões de rádio e TV em Minas devem ser discutidas em Minas, onde irão afetar, e ninguém é chamado a opinar. Não temos sequer participação na escolha do padrão de TV digital que será adotado no Brasil", denunciou.

O jornalista Luiz Carlos Bernardes, ex-sindicalista, disse que o Conselho Federal de Comunicação levou 14 anos para ser empossado, e que o Conselho Estadual, quando for nomeado, terá até gente do governo. Bernardes historiou a criação das agências de notícias, desde a pioneira France Presse, a Associated Press, o despontar da CNN na primeira guerra do Golfo, a Al Jazeera do mundo árabe, a Reuters européia e a tentativa da TV Sur, que envolve Argentina, Chile e Venezuela. Defendeu as emissoras comunitárias como braço importante dos movimentos sociais brasileiros, e propôs que o Conselho Federal de Comunicação tenha caráter deliberativo, e que lute contra a cartelização e a oligopolização dos meios de comunicação.

Otaviano Lage, que foi chefe da sucursal de O Globo, lembrou que os conselhos só podem ser criados por iniciativa do Executivo, e que este não aceita que sejam deliberativos. "Mesmo com caráter meramente consultivo, os conselhos acabam sendo aparelhados por partidos e outros grupos de poder. O Brasil vive sob a égide das regulamentações manoelinas e pombalinas até hoje", criticou.

Dorgil Marinho, candidato a presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), alertou que a tecnologia digital vai reforçar o monopólio atual, e que o monopólio facilita a deturpação da informação e a manipulação das notícias. "O jornalista precisa buscar respaldo na sociedade para exercer o seu papel social e manter o compromisso com a verdade e a isenção da informação", defendeu.

O caso das rádios comunitárias foi analisado por José Guilherme de Castro, da rede Associação Brasileira das Rádios Comunitárias (Abraço). Segundo seus cálculos, a soma das potências das 3 mil rádios existentes no país chega a apenas 750 quilowatts, irrisória diante das emissoras comuns. "Está provado que sinal de rádio comunitária não derruba avião. Derruba tubarão", afirmou. "A Rádio Favela, depois que ficou famosa e recebeu prêmios, foi visitada por 800 policiais que foram fechá-la".

Radialista cego cumpre pena por rádio fechada

O mesmo aconteceu com a Rádio Constelação, criada por um grupo de deficientes visuais no bairro Jardim Vitória, em Belo Horizonte. Segundo Roberto Emanuel, ex-diretor, a rádio distribuía cestas básicas, cadeiras de rodas e conseguia consultas médicas especializadas, mas foi primeiro lacrada em outubro de 2001, até ser definitivamente fechada em outubro de 2004. Emanuel cumpre pena de comparecer em juízo a cada dois meses e está proibido pela Justiça de qualquer atividade de radiodifusão.

Vários jornalistas presentes à reunião deram seus depoimentos sobre as restrições ao trabalho jornalístico que sofreram no exercício da profissão. O presidente da Comissão, deputado Gustavo Valadares (DEM), falou sobre o papel exercido pela TV Assembléia, e anunciou que em breve a emissora estará em sinal aberto em Belo Horizonte, como já está em centenas de municípios mineiros. O papel de disseminação da informação sem interesse comercial da TV Assembléia foi elogiado por vários dos participantes da reunião.

Requerimento - Foi aprovado na reunião requerimento do deputado Ivair Nogueira (PMDB), para debater a vigência do Decreto 44.081.

Pareceres: Foram aprovados os pareceres: de 2º turno favorável ao PL 172/07, de autoria do deputado Gustavo Valadares, que institui a política de mobilidade urbana cicloviária e de incentivo ao uso da bicicleta no Estado; ao PL 417/07, em turno único, de autoria do deputado Djalma Diniz (PPS), que denomina trecho de rodovia em Inhapim; e ao PL 653/07, de 1º turno, de autoria do deputado Célio Moreira (PSDB), que institui passe livre nos ônibus intermunicipais para idosos e deficientes físicos, visuais e mentais. O parecer propõe a aprovação na forma do substitutivo nº 1 com rejeição da emenda 1, e revoga as Leis 9.760 e 10.419. O parecer referente ao PL 509/07, de autoria do deputado Dinis Pinheiro (PSDB) foi retirado de pauta a requerimento do relator, deputado Juninho Araújo (PRTB).

Presenças: Deputados Gustavo Valadares (DEM), presidente; Juninho Araújo (PRTB), vice; deputados Paulo Guedes (PT) e Weliton Prado (PT).

 

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