Lei da Bahia serve de exemplo na atenção ao autismo

O exemplo dado pela Bahia, de promulgação de uma lei específica destinando recursos para o atendimento à população au...

09/07/2007 - 00:00
 

Lei da Bahia serve de exemplo na atenção ao autismo

O exemplo dado pela Bahia, de promulgação de uma lei específica destinando recursos para o atendimento à população autista, foi a novidade da última reunião de coleta de depoimentos da Comissão Especial para o Estudo da Atenção à Pessoa com Transtorno Mental, Deficiência Mental ou Autismo, realizada na tarde desta segunda-feira (9/7/07), no auditório da Assembléia Legislativa de Minas Gerais.

O ex-deputado baiano Padre Joel, autor do projeto de lei, explicou a difícil tramitação do projeto, para o qual ele pediu e desistiu duas vezes do pedido de urgência, ao perceber que seria derrotado no Plenário. Ao longo do tempo, com a pressão das famílias, das entidades e sobretudo da imprensa, segundo ele, o projeto foi ganhando atenção dos deputados, que terminaram por aprová-lo por unanimidade em dezembro último.

"Diziam que era uma questão menor, mas eu argumentava que há grandeza nas vidas das pessoas autistas, que estão no mundo para mostrar a diversidade do ser humano", disse Padre Joel. A via-crucis da lei não terminou com a aprovação, pois logo em seguida a proposição foi vetada integralmente pelo novo governador Jacques Wagner. "Movimentei os colegas o mais que pude, e o veto acabou derrubado por 32 votos a 30. Foi a primeira vez em 40 anos que um veto foi derrubado na Assembléia. O governador se recusou a sancionar a lei e o presidente da Assembléia, num gesto de independência, promulgou a lei", relatou.

Bons exemplos que vieram da Suécia foram relatados por dois convidados: Fernando Cotta, da Coordenadoria para Inclusão da Pessoa Deficiente do Distrito Federal, e por Marisa Silva, presidente da Associação Brasileira de Autismo. Eles informaram que aquele país escandinavo, até 1994, não tinham qualquer política para atendimento aos autistas. A partir de uma lei desse ano, as autoridades admitiram envergonhadas sua omissão e os portadores desse transtorno passaram a receber tudo de que necessitam.

Marisa manifestou sua preocupação com os autistas idosos, que, para ela, estão provavelmente nos manicômios restantes no País. "Até a segunda metade do século XX, os deficientes ficavam escondidos nas fazendas, mas com o aparecimento em público dos mutilados de guerra, eles também começaram a aparecer. Calculamos que há um milhão de brasileiros com a Síndrome de Asperge", historiou ela.

Relatório final será votado na quarta-feira

O presidente da comissão, deputado Célio Moreira (PSDB), anunciou que a reunião do próximo dia 11 será destinada à votação do relatório final, do qual espera ser um reforço para conseguir políticas públicas destinadas ao autista e aos deficientes mentais moderados a graves. "Pelo que apuramos até hoje, o Programa Incluir está distante de atender as necessidades das famílias dos deficientes. Há casos claros em que a internação é necessária para que os pais possam trabalhar. A atitude da Prefeitura de Belo Horizonte é de truculência, inclusive de tentativa de descredenciar clínicas. Os pais querem escolas especializadas, espaços de convivência e atendimento em momentos de crise. Devemos lembrar que, quando o cidadão paga seus impostos, não discrimina quem deve ou não ser atendido", afirmou o deputado. O deputado Vanderlei Miranda (PMDB), por sua vez, reforçou que "a mensagem desta comissão, contendo as aflições dos pais aqui presentes, precisa chegar aos ouvidos que precisam ouvi-la".

A representante da Secretaria de Estado de Educação, Ana Regina Carvalho, defendeu o projeto Incluir, que tem o objetivo de qualificar as escolas especiais. Ela reconheceu que é necessário melhorar o atendimento aos autistas. "Em Belo Horizonte, temos nove escolas especializadas. Podemos destacar uma para atender o autismo", afirmou Ana Regina.

A subsecretária de Desenvolvimento Social da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, Maria Albanita de Lima, informou que o órgão atua hoje em duas frentes no atendimento aos portadores de deficiência mental. Uma delas é o benefício de prestação continuada, pago ao portador de deficiência que não pode sustentar a si e à família. É criticado pelos deputados por ser concedido apenas a famílias com uma renda inferior a um quarto de salário mínimo por pessoa. A outra frente são as Casas-lares, para atendimento a portadores de deficiência que não têm família.

Por sua vez, a assessora técnica da Coordenadoria de Atenção à Pessoa Portadora de Deficiência da Secretaria de Estado da Saúde, Darci Barbosa, disse que o órgão credenciou, em todo o Estado, 108 instituições para atendimento aos deficientes mentais. São 6.662 atendidos por essas entidades, que recebem R$ 1,86 milhão mensalmente. Das 108, no entanto, 42 estão no Sul de Minas. As regiões Norte e Alto Jequitinhonha não possuem nenhuma credenciada, enquanto a região Central possui dez. Segundo Darci, há dificuldades com alguns municípios com gestão plena, em que o Estado não é responsável pelo credenciamento, e também problemas para encontrar profissionais capacitados em algumas regiões.

BHTrans é criticada pelo fim do passe-livre

O deputado Célio Moreira (PSDB) sugeriu que a Secretaria de Saúde inclua em suas metas a realização de um cadastro de todos os autistas e deficientes mentais graves do Estado. Ele também destacou pontos da lei aprovada na Bahia que devem servir de exemplo para a experiência mineira. Entre eles, a obrigatoriedade de uma campanha de informação sobre tipos de deficiência e divulgação de locais de atendimento; criação de um número de telefone para denúncias de maus-tratos e esclarecimentos à população. Moreira também criticou a decisão da BHTrans de cancelar o passe-livre para os deficientes mentais, e disse que irá recorrer ao mandado de segurança se a medida continuar.

O deputado Walter Tosta (PMN) salientou que a comissão deve priorizar a questão da falta de moradia para os deficientes mentais, mesmo aqueles que têm família. "Eles podem ficar ali durante a tarde", afirmou. Maria Lúcia Mendonça (DEM), responsável pela elaboração do relatório que será discutido e votado na quarta-feira (11/7/07), cobrou a ampliação do número de instituições credenciadas pela Secretaria de Saúde. A cobrança foi reforçada pela deputada Gláucia Brandão (PPS), que disse ter a intenção de continuar a luta pelos portadores de deficiência mental por meio de uma frente parlamentar a ser criada após o recesso parlamentar.

Presenças - Deputados Célio Moreira (PSDB), presidente; Walter Tosta (PMN), vice; Vanderlei Miranda (PMDB), Agostinho Patrús Filho (PV) e as deputadas Gláucia Brandão (PPS) e Maria Lúcia Mendonça (DEM). Compuseram a mesa, além dos citados, o ex-deputado baiano Padre Joel, presidente da Associação Brasileira de Autismo. Ana Regina de Carvalho, diretora da Secretaria de Estado de Educação; Estela Guillen Souza, presidente da Associação dos Pais e Amigos das Pessoas Especiais; Maria Dolores Cunha Pinto, vice-presidente da Associação das Apaes de Minas Gerais; Flávio Couto Silva, presidente do Comped Caade; Maria Albanita Roberta de Lima, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social; Darci Barbosa e Renata Mendes Araújo, da Secretaria de Estado de Saúde.

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715