Violência em Carmo do Paranaíba atingiu até o juiz de Direito

Uma cidade de 30 mil habitantes, predominantemente agropastoril, com população pacata e acolhedora, envergonha-se de ...

05/07/2007 - 00:00
 

Violência em Carmo do Paranaíba atingiu até o juiz de Direito

Uma cidade de 30 mil habitantes, predominantemente agropastoril, com população pacata e acolhedora, envergonha-se de ostentar um dos índices mais alarmantes de criminalidade do Estado. Em 2006, a Polícia Militar registrou 1.205 crimes contra a pessoa, 1.764 crimes contra o patrimônio e 196 apreensões de menores infratores. Esta é Carmo do Paranaíba, situada a 350 quilômetros da Capital, na região do Alto Paranaíba. O próprio juiz de Direito e o delegado regional foram vítimas de seqüestro em janeiro último.

O juiz Walney Diniz e o delegado regional Márcio Siqueira, que enfrentaram esse episódio de violência, deram seu depoimento à Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, em audiência pública realizada em Carmo do Paranaíba nesta quinta-feira (05/07/07), atendendo a requerimento do deputado Hely Tarqüínio (PV). Seis deputados participaram do evento, além de autoridades municipais, policiais, seis prefeitos, inúmeros vereadores e uma centena de cidadãos, dos quais a maioria sofreu recentemente assalto, roubo ou invasão de domicílio.

Uma das modalidades de crime mais comum na cidade é o "seqüestro de motocicleta". Ladrões furtam o veículo, escondem em lugar deserto e exigem resgate, sob ameaça de incendiar a moto. Segundo uma autoridade policial, esse é o típico crime cometido por jovens drogados. Para o prefeito João Braz de Queiroz, "o tráfico de entorpecentes é uma verdadeira praga que se instalou em Carmo do Paranaíba".

O prefeito informa que a cidade, apesar de ser dotada de uma penitenciária com capacidade para mais de 200 sentenciados, possui apenas uma cadeia improvisada com 30 vagas. Um convênio no valor de R$ 350 mil para construir nova cadeia foi interrompido após a primeira parcela, mas o prefeito afirma que continuará a obra com recursos municipais. Braz de Queiroz leu uma extensa lista de reivindicações para que Carmo do Paranaíba volte a ter tranqüilidade.

Delegado, vara criminal e defensor público

Dessa lista, o juiz Walney Diniz elege, como a medida mais urgente, a designação de um delegado titular, com equipe suficiente para dar vazão aos inquéritos criminais. "Onde o Estado se ausenta, a criminalidade ocupa o lugar", alertou. Em Carmo do Paranaíba há 6 mil processos em curso. O promotor Marcus Vinicius Ribeiro Cunha, que tomou posse no dia anterior, defendeu a criação de nova vara criminal e disse que não há defensores públicos na cidade, o que acaba ocupando mais tempo do promotor.

Às queixas de que também o efetivo da PM seria insuficiente, o major João Lunardi, subcomandante do 15º Batalhão, contra-argumentou que Carmo do Paranaíba, em termos de proporção por habitante, tem hoje uma situação privilegiada, com uma Companhia de 35 homens. A Companhia dispõe de seis veículos, três motos, coletes, fuzis e armas de mão automáticas. No entanto, face ao acréscimo de 12% ao ano nos índices de criminalidade, o Batalhão pretende dobrar o efetivo até 2010, e designar um major para comandar a unidade.

Outra grande reivindicação é a criação de um centro regional de reeducação do menor infrator, já que a maior parte dos crimes são cometidos por menores. O grande empecilho visto pelo deputado Elmiro Nascimento (DEM), majoritário na cidade, não é apenas o preço de uma unidade dessas, estimado em R$ 8 milhões, mas o alto custo de manutenção por recluso, devido às exigências do Estatuto da Criança e do Adolescente. "O Estatuto precisa ser revisto para se adaptar à realidade brasileira. Inclusive a idade penal precisa ser reduzida", propôs o deputado.

A proposta do deputado Chico Uejo (PSB) é a criação de um projeto estratégico que estabeleça um cinturão de segurança na região, através da união dos esforços das autoridades policiais, judiciárias, políticas e da comunidade, e da eliminação dos "gargalos" do processo. Ele informou que sua cidade, São Gotardo, recebe 260 processos por mês, um volume que considera humanamente impossível para a Justiça finalizar.

O deputado Deiró Marra (PR) propôs aos demais deputados formarem uma bancada do Alto Paranaíba que atue em conjunto, à exemplo do que fazem os deputados norte-mineiros, pressionando pelo atendimento das reivindicações da região. O deputado Paulo Cesar (PDT), por sua vez, acolheu a solicitação de urgência na designação de um delegado titular. "Devemos ir na próxima semana ao Chefe de Polícia, Maurício Campos, para explicar essa premência. Numa cidade onde o próprio juiz e o delegado são seqüestrados, estamos vendo que os bandidos não têm respeito por nada", afirmou.

Embora realçando as qualidades do major Lunardi, o deputado Sargento Rodrigues (PDT) lastimou a ausência do coronel comandante do 15º Batalhão, e propôs uma reunião em que o comandante-geral da PM e o Chefe de Polícia Civil sejam convidados. "Se não comparecerem, serão convocados", assegurou. Vários prefeitos e vereadores presentes à reunião relataram problemas específicos de segurança pública que assolam suas cidades.

Ao final da reunião, o deputado Hely Tarqüínio (PV) apresentou vários requerimentos para dar andamento às questões levantadas no debate. O primeiro pede designação urgente de delegado titular; o segundo propõe envio de relatório circunstanciado da reunião à Secretaria de Defesa Social; o terceiro pede ao governador que crie um Centro Regional de Recuperação de Menores Infratores; o quarto solicita a inclusão de Carmo do Paranaíba no programa de modernização das delegacias de Polícia. O deputado Paulo Cesar assinou junto ao Sargento Rodrigues um requerimento de convite aos comandantes das forças policiais para debater questões de segurança pública. Os cinco requerimentos foram aprovados.

Presenças - Deputados Sargento Rodrigues (PDT), presidente; Paulo Cesar (PDT), Hely Tarqüínio (PV), Elmiro Nascimento (DEM), Chico Uejo (PSB) e Deiró Marra (PR). Além dos citados no texto, compuseram a mesa ainda os prefeitos de São Gotardo, Paulo Uejo; de Tiros, João Antônio de Almeida; de São Gonçalo do Abaeté, Fabiano Carvalho; de Lagoa Formosa, Edson Andrade; e de Coromandel, Dione Teles; o delegado de Polícia Márcio Siqueira e o presidente da Câmara dos Vereadores de Carmo do Paranaíba, Paulo Soares Moreira.

 

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