Cipe Rio Doce programa trabalhos e cobra ações de governo e
empresas
No momento em que os governos de Minas e Espírito
Santo sinalizam ações para a bacia do Rio Doce, a Assembléia
Legislativa de Minas Gerais sediou novo encontro da Cipe Rio Doce -
comissão que reúne parlamentares mineiros e capixabas pelo
desenvolvimento sustentável da bacia. Nesta quinta-feira (5/7/07), a
Cipe definiu a programação de atividades para 2007. Os assuntos que
os deputados pretendem acompanhar, nos próximos dois anos, são: a
construção de usinas hidrelétricas e seus impactos sociais,
econômicos e ambientais; a recomposição florestal em Áreas de
Preservação Permanente; a continuidade do Projeto "Rio Doce Limpo",
que prevê a despoluição da bacia, e demais ações de saneamento; e a
criação de programas de governo e do setor privado para o
desenvolvimento econômico e social e a redução da pobreza. A Cipe
também vai investir nas Unidades de Conservação da Natureza e no
desenvolvimento do potencial turístico sustentável.
Os deputados pretendem acompanhar, ainda, o
processo de elaboração do plano diretor da bacia federal e dos
planos diretores dos afluentes, bem como cobrar a aplicação de
recursos do Fundo de Recuperação e Desenvolvimento Sustentável das
Bacias Hidrográficas (Fhidro) na bacia. A articulação com as
bancadas federais dos dois estados para garantir recursos no
Orçamento federal e a continuidade da mobilização social e
esclarecimento da população também serão focos do trabalho. Ficou
definido que será criado um grupo, a ser coordenado pela deputada
capixaba Luzia Toledo (PTB), relatora da Cipe, para revisar o
Regimento Interno. Em função disso, a eleição da nova diretoria para
o biênio 2007/2008, que estava programada para esta quinta, foi
adiada para a primeira quinzena de outubro - data em que será votada
a proposta do novo Regimento.
Presidente - Também nesta
quinta, os deputados mineiros e capixabas reuniram-se no Salão Nobre
com o presidente da ALMG, deputado Alberto Pinto Coelho (PP). Ele
destacou o papel fundamental da Cipe e sua contribuição para
disseminar uma visão integrada de bacia hidrográfica. Lembrou a
bandeira da revitalização dos rios defendida pelo grupo, além de
enfatizar a importância do momento atual, quando os governadores
Aécio Neves, de Minas, e Paulo Hartung, do Espírito Santo, têm
apontado a necessidade de investimentos e de preservação da
bacia.
A bacia do Rio Doce reúne 231 municípios, dos quais
201 em Minas e o restante no Espírito Santo. Ela ocupa uma área de
cerca de 72 mil km² em Minas e 12 mil no Espírito Santo.
Presidente cobra aplicação de recursos do Fhidro;
plano diretor será acompanhado
O presidente da Cipe Rio Doce, deputado José
Henrique (PMDB), enfatizou que é preciso cobrar do governo estadual
que os recursos do Fhidro sejam usados na recuperação do Rio Doce.
Neste ano, o fundo tem R$ 60 milhões, originados de royalties
pagos pelas usinas hidrelétricas. Ele enfatizou que a Cipe deve
continuar atuando não somente para conscientizar a população e levar
informações aos gestores públicos, como também contribuir para
viabilizar ações de governo e da iniciativa privada - como vem
fazendo desde 1999, quando foi criada. "O Vale do Rio Doce está
empobrecido, apesar de muito contribuir para o PIB brasileiro",
disse. Ele lembrou que, se já existisse um plano de revitalização da
bacia, como ocorre com o São Francisco, talvez mais recursos
estivessem garantidos no Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC), do governo federal.
Convênio para viabilizar a formulação do plano
diretor da bacia do Rio Doce será assinado pelo Instituto Mineiro de
Gestão das Águas (Igam); Instituto Estadual do Meio Ambiente (Iema),
do Espírito Santo; Agência Nacional de Águas (ANA), com a
participação do comitê federal da bacia e dos seis comitês estaduais
de Minas e dos três comitês capixabas. A versão final do chamado
"termo de referência" - necessário para a licitação específica -
ficou pronta em 12 de junho. O consultor e gerente da Área de Meio
Ambiente da Consultoria Temática da Assembléia, Pedro Chagas,
enfatizou que o grande instrumento de gestão e desenvolvimento é o
plano diretor. O plano é um documento que traz uma descrição
circunstanciada da bacia hidrográfica, com um diagnóstico de seus
problemas e as soluções possíveis.
Recursos - O
secretário-executivo do Comitê Federal da Bacia Hidrografica do Rio
Doce (CBH Doce), Vítor Feitosa, informou que os recursos de R$ 2,6
milhões destinados à elaboração do plano diretor da ainda não foram
liberados. Do total, R$ 1,7 milhão virá de Minas Gerais, R$ 300 mil
do Espírito Santos e os R$ 600 mil restantes da ANA. Os
parlamentares decidiram procurar os secretários de Meio Ambiente
desses Estados para agilizar a liberação das verbas.
Prefeituras têm dificuldade para elaborar
projetos
Os deputados da Cipe e consultores convidados
demonstraram preocupação quanto a outro problema verificado na
bacia: muitos municípios não têm estrutura e corpo técnico
capacitado para apresentar projetos de saneamento básico. A comissão
conseguiu garantir, no Orçamento do Estado para 2007, recursos da
ordem de R$ 4 milhões para a elaboração desses projetos - condição
para pleitear recursos para obras de estações de tratamento de
esgoto, por exemplo. O dinheiro está incluído no orçamento da
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana
(Sedru), para uso pelos municípios não atendidos pela Copasa. Apesar
disso, falta informação às prefeituras. A deputada Rosângela Reis
(PV) sugeriu que a própria Sedru constitua um grupo para dar suporte
ao desenvolvimento desses projetos. Também propôs que seja ampliada
a lista de 22 municípios que seriam atendidos prioritariamente. Os
critérios para definição das cidades foram o tamanho da população e
a existência de sistema de tratamento de água próprio.
Essa carência dos municípios também foi destacada
pelo consultor convidado Paulo Pardini, da Caixa Econômica Federal
(CEF). Segundo ele, com os R$ 4 milhões previstos para os projetos,
Minas poderia se habilitar para pleitear recursos da ordem de R$ 80
milhões no Orçamento da União para 2007 e 2008, visando à execução
das obras. Isto porque o custo de um projeto seria cerca de 5% da
obra total. Ele sugeriu à Cipe Rio Doce que continue promovendo
reuniões de mobilização e esclarecimento no interior, a fim de
contribuir para tentar garantir recursos orçamentários para a bacia,
bem como estimular a formação de consórcios intermunicipais. Os
consórcios, destacou Pardini, seriam uma solução para os pequenos
municípios na gestão dos recursos hídricos e dos resíduos sólidos,
assim como têm sido na área da saúde, sendo apoiado pelo deputado
José Henrique (PMDB). "A Cipe representa essa voz; é a grande
possibilidade de sensibilizar, agregando sociedade organizada,
órgãos de governo e iniciativa privada", elogiou Pardini.
Deputados apresentam propostas de ação
Dois deputados capixabas participaram da reunião da
Cipe, nesta quinta-feira. O coordenador da comissão no Espírito
Santo, deputado Paulo Foletto (PSB), informou que, na programação
dos trabalhos de 2007, está prevista a assinatura de um convênio com
a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Ele é 2º-secretário
da Mesa da Assembléia daquele Estado. Tanto Foletto quanto a
deputada Luzia Toledo (PTB), que é relatora da Cipe e
1ª-vice-presidente da ALES, destacaram o caráter mobilizador da
comissão, mas a deputada enfatizou que é preciso levar essa
mobilização também para as bancadas de deputados federais, a fim de
garantir recursos no Orçamento da União.
A coordenadora da Cipe Rio Doce em Minas, deputada
Elisa Costa (PT), defendeu que, no planejamento de 2007, o grupo
trate de um projeto para revitalização da bacia, assim como existe o
da bacia do São Francisco. "O momento político promete um período de
muitas realizações", avaliou, lembrando o compromisso assumido pelos
três níveis de governo em prol dos rios. O envolvimento dos
prefeitos foi considerado fundamental pela deputada Cecília
Ferramenta (PT) e pelo deputado Ronaldo Magalhães (PSDB), também
integrantes da comissão.
Os deputados Padre João (PT) e José Henrique
declararam-se preocupados, ainda, com o processo de construção de
barragens ao longo da bacia. Padre João lembrou debate recente
promovido pela Cipe em Governador Valadares sobre os impactos da
usina hidrelétrica de Baguari. A obra, que foi iniciada em maio, tem
previsão de gerar 140 megawatts, com investimento de US$ 211,05
milhões. Foi licitada no leilão da Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) de dezembro de 2005, com contrato de concessão
assinado em agosto de 2006 com as empresas Baguari Neoenergia, Cemig
e Furnas. O empreendimento teve a licença prévia e a licença de
instalação aprovadas pela Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam),
o que tem sido questionado pelos movimentos populares e pelo
Ministério Público Federal, que pediu a suspensão das obras para
estudos mais detalhados. José Henrique denunciou a falta de
cumprimento das condicionantes ambientais pelo consórcio encarregado
da construção da usina de Aimorés.
Sebastião Figueiredo, consultor convidado da Cipe,
foi outro a defender a criação de consórcios intermunicipais para
gestão das águas e dos resíduos sólidos. Cobrou, ainda, ações mais
concretas das grandes empresas instaladas ao longo do Vale do Rio
Doce em prol dos rios.
Requerimentos aprovados - Por sugestão da deputada Cecília Ferramenta, a comissão aprovou
dois requerimentos, que tratam dos seguintes assuntos: audiência com
as ministras de Turismo e Meio Ambiente, para debater a viabilidade
e a metodologia para elaboração de um plano de ações estratégicas
para o desenvolvimento do turismo sustentável; e incorporação, ao
plano de ações da Cipe, de estratégias para o desenvolvimento do
turismo e, por sugestão da deputada Elisa Costa, para a
revitalização da bacia. O requerimento sugere que a Cipe atue para
conseguir o apoio dos Ministérios do Turismo, das Cidades e do Meio
Ambiente, bem como da Sedru e Secretaria de Estado de Meio Ambiente
e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, bem como da
secretaria correspondente no Espírito Santo.
Presenças - Participaram
os deputados mineiros José Henrique (PMDB), presidente da Cipe;
Elisa Costa (PT), coordenadora em Minas; Rosângela Reis (PV),
Cecília Ferramenta (PT), Ronaldo Magalhães (PSDB), Padre João (PT) e
Sebastião Costa (PPS), além dos deputados capixabas Paulo Foletto
(PSB) e Luzia Toledo (PTB). Além dos citados na matéria, também
participaram Janaína Oliveira Lima, do Igam; e técnicos das duas
Assembléias.
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