Comissão se depara com condições precárias nas escolas de Januária

Escolas de pau-a-pique, com cobertura de palhas, sem cantinas, sem banheiros, sem saneamento e até ameaçando desabar....

04/07/2007 - 00:00
 

Comissão se depara com condições precárias nas escolas de Januária

Escolas de pau-a-pique, com cobertura de palhas, sem cantinas, sem banheiros, sem saneamento e até ameaçando desabar. Esses são apenas alguns dos problemas relatados aos deputados da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia e Informática da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, que promoveram audiência pública nesta quarta-feira (4/7/07), em Januária, Norte de Minas, para tratar da situação das escolas estaduais na região. Além dos problemas de infra-estrutura, os parlamentares se depararam com questões pedagógicas, salariais, relativas ao transporte dos alunos e ao repasse de recursos.

Levantamento realizado pelo engenheiro da Superintendência Regional de Ensino de Januária, Geraldo Wagner Soares, e entregue à comissão, traz fotos que comprovam a situação precária de algumas unidades. Em uma delas, a cantina, cercada por paus, tem apenas um fogão à lenha e uma mesa improvisada. Para o engenheiro, esse quadro é a causa do péssimo resultado alcançado pelas escolas na avaliação de desempenho de 2006. A superintendência engloba 19 municípios; 165 escolas estaduais, com 59.759 alunos; além de 359 escolas municipais. "Apenas 18 escolas têm quadras cobertas", completa Soares.

O prefeito de Januária, Sílvio Joaquim Aguiar, há dois meses no cargo, avaliou que a educação é um milagre na região. Segundo ele, dos 30 ônibus escolares que servem o município - o maior de Minas em extensão territorial -, apenas um trafega em estrada asfaltada, de 18 km. Os demais circulam até 216 km em vias arenosas, de difícil manutenção. "Precisamos de carros para os professores e para a merenda", reivindicou. Outros prefeitos e vereadores também citaram situações semelhantes vividas por cidades da região.

Já a superintendente regional de Educação, Édila Maria Pimenta Carneiro Lima, acrescentou que os recursos estaduais destinados à região têm diminuído. Segundo ela, foram R$ 5,83 milhões em 2005; R$ 3,13 milhões em 2006; e R$ 180 mil até agora em 2007. "O próprio prédio da superintendência não comporta os servidores. Temos recebido computadores, mas não temos onde instalá-los. E precisamos construir rampas para acesso de deficientes nas escolas", listou. Essa, aliás, foi uma questão enfatizada também durante a fase de debates, da qual participaram diversos educadores e pais de alunos.

Na Escola Estadual Olegário Maciel, onde ocorreu a audiência, a situação não é diferente. O diretor, Sidney Olímpio Macedo de Souza, conta que 18% dos 1.400 alunos são desnutridos, e que 552 alunos da zona rural chegam a ficar sete horas sem alimentação, uma vez que não há merenda escolar no ensino médio. Na visão do diretor, a exigência, pela Secretaria de Estado de Educação, (SEE) de projetos e planilhas bem feitas também é um empecilho para obras nas escolas, já que são poucos os engenheiros disponíveis. Durante a audiência, foram exibidas também fotos sobre a situação das escolas municipais de Januária, algumas em péssimo estado.

Deputados prometem encaminhar demandas

Os deputados presentes à reunião, requerida pelo presidente da comissão, Deiró Marra (PR), prometeram um esforço conjunto da 'bancada do Norte' para que as reivindicações sejam atendidas. "Recebemos um material que julgo suficiente para mostrarmos a situação das escolas da região", sintetizou Marra, referindo-se a relatórios, cartas, projetos e fotos entregues pelos participantes. Ele citou ações do governo estadual no setor, como o envio à ALMG de proposição que assegura reajuste de 5% para os professores, mas salientou que a educação envolve o futuro dos jovens brasileiros. "Como presidente dessa comissão, devo manter os ouvidos em alerta e os olhos atentos a esses clamores", enfatizou.

A deputada Maria Lúcia Mendonça (DEM), vice-presidente da comissão, reforçou que, nos dias de hoje, não é possível deixar de lado a instituição que contribui com a família para a educação de crianças e jovens. "No dossiê mostrado aqui, vi escolas que eu achava que não existiam mais. Mas sei do trabalho bem feito que é desempenhado pelos educadores", lembrou. Já a deputada Ana Maria Resende (PSDB) defendeu um posicionamento mais firme de todos da rede estadual contra a condição ruim das escolas. Ela afirmou, porém, que o governo do Estado faz o que pode, dentro dos limites orçamentários.

Citando dados da SEE, a parlamentar informou que o governo Aécio Neves já destinou à Superintendência de Januária mais de R$ 10 milhões, possibilitando a reforma de 79 escolas. Outras duas unidades, de acordo com Ana Maria, serão reformadas ainda neste ano. "De todos os recursos arrecadados no País, 70% ficam com a União. Então, a solução para todos os problemas é a revisão do pacto federativo", salientou. Ela pediu apoio também para aprovação de projeto de lei em tramitação na Assembléia, propondo nova divisão do ICMS entre os município mineiros.

Para o deputado Arlen Santiago (PTB), o momento é favorável às demandas para a educação em Minas. "Não dá para falar em boa educação sem estradas. E o governador Aécio Neves já deu ordem para asfaltar diversas vias na região", enfatizou. Ele informou que, na próxima semana, terá um encontro com a titular da SEE, Vanessa Guimarães, para tratar da construção de uma escola em Varzelândia. "Vou aproveitar para saber o motivo da queda de recursos para a superintendência de Januária, já que houve acréscimo de recursos para Pirapora, Montes Claros e Janaúba", avisou.

Por outro lado, o deputado Paulo Guedes (PT) cobrou do governo do Estado o investimento mínimo de 1% das receitas na Unimontes e na Uemg. "Isso está previsto na Constituição do Estado, mas os recursos não chegam hoje a 0,5%", garantiu. Para Guedes, Minas vive um bom momento porque o Brasil também presencia um momento histórico. Como ações federais na área de educação, ele citou o Prouni, que permite acesso de alunos carentes às universidades, e a construção de mais 150 escolas técnicas federais, sendo 12 em Minas.

Coube também ao deputado Ruy Muniz (DEM) defender as universidades que atendem o Norte de Minas. Segundo ele, apenas 3% dos moradores da região têm curso superior, contra média de 13% no Estado e de 60% nos Estados Unidos. "É por isso que nosso povo não empreende. Com 1% dos recursos do ICMS, a Unimontes e a Uemg teriam R$ 160 milhões para ampliar as vagas e melhorar a estrutura de atendimento", frisou. Ele também cobrou dos prefeitos o investimento de 25% em educação, conforme previsão legal, e citou o piso de R$ 850,00 assegurado pelo governo do Estado para 24 horas semanais de trabalho. No País, de acordo com o parlamentar, esse é o piso dos professores para 40 horas semanais de trabalho.

Requerimentos - A comissão aprovou três requerimentos. Do deputado Ruy Muniz, o primeiro solicita o envio das notas taquigráficas da audiência para a secretária de Educação, Vanessa Guimarães; e o segundo solicita à secretária que o departamento de engenharia da SEE analise, no prazo de 60 dias, todas as planilhas e projetos entregues à comissão. Já o deputado Arlen Santiago teve aprovado requerimento de sua autoria propondo encontro da comissão com a titular da SEE, com o objetivo de informá-la sobre o conteúdo da audiência e cobrar ações prioritárias na região.

Presenças - Deputados Deiró Marra (PR), presidente; Ruy Muniz (DEM); Arlen Santiago (PTB); Paulo Guedes (PT); e deputadas Maria Lúcia Mendonça (DEM), vice-presidente; e Ana Maria Resende (PSDB). Além das autoridades citadas, compuseram também a mesa o prefeito de Bonito de Minas, José Raimundo Viana; o vice-prefeito de Varzelândia, Luiz Antônio Coutinho; e o secretário de Educação de Januária, Ramiro Esdras Carneiro Batista.

 

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