Convidados defendem caução ambiental, mas sugerem mudanças em
PL
Deputados, Ministério Público, Fundação Estadual do
Meio Ambiente (Feam) e Federação Estadual dos Trabalhadores em
Agricultura (Fetaemg) defenderam, com aperfeiçoamentos, a proposta
de criar uma espécie de caução ambiental para empreendimentos
considerados potencialmente nocivos ao meio ambiente e à população -
que consta do Projeto de Lei (PL) 265/07, do deputado Padre João
(PT). Eles falaram, nesta quarta-feira (4/7/07), à Comissão de Meio
Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa de Minas
Gerais. Representantes da Federação das Indústrias (Fiemg) e do
Sindicato da Indústria Mineral (Sindiextra) enfatizaram não serem
contrários à idéia, mas sugeriram mudanças, a fim de não penalizar a
atividade produtiva.
No fim da reunião, o relator do PL 265/07 na
Comissão de Meio Ambiente, deputado Wander Borges (PSB), considerou
a audiência pública importante para colher subsídios para a
elaboração de seu parecer de 1º turno. Na opinião dele, a reunião
contribuiu para levantar alguns pontos que podem ser aperfeiçoados.
Entre eles, a definição do que seria risco iminente ao meio ambiente
e à população e a avaliação para se chegar ao valor da caução
ambiental. A maioria dos convidados e também os parlamentares
presentes fizeram críticas a substitutivo apresentado pela Comissão
de Constituição e Justiça, que descaracterizaria o texto original.
Depois de receber parecer da Comissão de Meio Ambiente, o PL 265/07
segue para a Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária,
antes de estar pronto para o Plenário.
A defesa inicial do projeto foi feita pelo autor,
deputado Padre João, e pela deputada Elisa Costa (PT), que teve
proposta de sua autoria anexada à do colega de partido. Eles fizeram
referências sobretudo à atividade minerária, que, segundo Padre
João, ainda utiliza métodos que potencializam os riscos. Na opinião
dele, a caução ambiental poderá contribuir para evitar que
comunidades atingidas por acidentes com barragens de rejeitos, por
exemplo, tenham que recorrer à Justiça para garantir seus direitos.
Elisa Costa também enfatizou que os atingidos geralmente são
comunidades pobres, que permanecem sem indenização, e citou o caso
mais recente de acidente ambiental: o rompimento da barragem da
Mineradora Rio Pomba-Cataguazes, em Miraí. A parlamentar também
cobrou mais fiscalização e controle por parte dos órgãos ambientais,
além de apresentar dados da Feam que apontariam 616 barragens
cadastradas em diferentes classes de risco. Entretanto, acrescentou,
entidades ambientais alegam que existiriam em Minas 5 mil barragens.
Fiemg e Sindiextra sugerem mudanças e demonstram
preocupação
O representante da Fiemg e do Sindiextra, Willer
Pós, ponderou que o PL 265/07 não promove impactos sobre as grandes
empresas, que, por serem de capital aberto, já levariam em conta os
aspectos relacionados a danos e passivos ambientais. Isso seria,
segundo ele, uma obrigação com o investidor. Mostrou-se preocupado
com os pequenos e médios empresários e com o risco de se criar um
monopólio industrial, já que, segundo ele, somente as grandes
empresas poderiam assumir a caução ambiental. Para Willer Pós, seria
preciso legislar, antes de tudo, sobre o custo de fechamento de
minas - lacuna da legislação ambiental brasileira. Também seria
necessário estruturar os órgãos ambientais para assumirem vistorias
com a periodicidade prevista no PL 265/07.
O gerente de Meio Ambiente da Fiemg, Wagner Soares
Costa, ponderou que o debate precisa ser ampliado, pois não seria
apenas a minerária a atividade abrangida pela proposição. Ele fez
várias reivindicações: definição clara de "risco iminente à vida" e
de como enquadrar os empreendimentos; descrição do estudo de risco
iminente para se valorar perdas futuras; necessidade de que o órgão
ambiental competente analise o estudo e fixe valores; e que o
próprio empreendedor decida, tendo em vista sua capacidade
econômica, qual instrumento de garantia irá apresentar: garantia
real, carta de fiança bancária ou seguro de responsabilidade civil.
"A Fiemg está ao encontro do PL e não de encontro a ele, para que o
texto seja aprimorado e não traga prejuízos à atividade produtiva",
disse.
Ministério Público e Fetaemg defendem projeto e
encaminham sugestões
O chefe de gabiente da presidência da Feam,
Alexandre Magrineli dos Reis, elogiou o projeto e defendeu o
consenso para se chegar a um texto que compatibilize a atividade
econômica com a proteção do meio ambiente. Ele lembrou que as
empresas não seriam obrigatoriamente oneradas com a caução
ambiental. Isto porque três instrumentos de garantia poderiam ser
usados: garantia real, carta de fiança bancária ou seguro de
responsabilidade civil. A garantia real, por exemplo, é quando se
tem um dos bens do patrimônio gravado com ônus, para que este possa
ser utilizado para levantar recursos, em caso de necessidade.
Bárbara Valadão, também da fundação, sugeriu que o projeto possa
abarcar tanto os casos de risco de acidente (com a classificação
clara de risco e parâmetros para definir valores da caução) quanto
os custos do fechamento de minas. Ela também defende que o
empreendimento não seja enquadrado pelo seu porte, mas pelo risco de
dano ambiental.
O assessor da Fetaemg, Eduardo Arantes do
Nascimento, enfatizou que o projeto não trata apenas da atividade
minerária, além de sugerir que os empreendimentos sejam enquadrados
no PL por classe de impacto ambiental. Reivindicou que sejam
enfocados aspectos como ressarcimento e situação das populações
atingidas por acidente ambiental. Nascimento cobrou que as
audiências públicas previstas no licenciamento ambiental dos
empreendimentos sejam reformuladas em formato e conteúdo, pois hoje
serviriam apenas para o empreendedor se defender e não para informar
sociedade e Estado. Imprimir qualidade aos estudos de impacto
ambiental foi outra reivindicação.
O assessor do Centro de Apoio Operacional do Meio
Ambiente, Patrimônio Cultural, Habitação e Urbanismo (Cao-MA),
Luciano José Alvarenga, sugeriu que seja incorporada ao projeto a
referência aos danos imateriais - e não somente aos danos pessoais e
materiais causados à população. A procuradora da República em Minas,
Míriam do Rosário Moreira Lima, enfatizou que o valor da caução
ambiental não deve estar relacionado com a capacidade financeira do
empreendedor, mas com os danos que possam ser causados pelo
empreendimento. Ela também sugeriu que seja alterado dispositivo do
projeto que se refere ao Ministério Público, a fim de que não seja
preciso se ater a prazos concedidos pela administração pública para,
então, a promotoria atuar.
Defesa - Os deputados
presentes defenderam a caução ambiental, destacaram a importância da
audiência como espaço para coletar sugestões e criticaram o
substitutivo da CCJ. Falaram os deputados Fábio Avelar (PSC), Almir
Paraca (PT) e Ronaldo Magalhães (PSDB). O presidente da comissão,
deputado Sávio Souza Cruz (PMDB), sugeriu ao relator, deputado
Wander Borges, propostas de mudança no texto original. Entre elas,
que o Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) decida, em
prazo determinado a contar da publicação da futura lei, os critérios
para definição dos empreendimentos que representariam risco real ao
meio ambiente.
Conteúdo do PL 265/07 e do substitutivo da
CCJ
O PL determina que o licenciamento de
empreendimentos considerados potencialmente nocivos ao meio ambiente
e à população dependerá da comprovação, por parte do empreendedor,
de sua idoneidade econômico-financeira para arcar com os custos
decorrentes da obrigação de recuperar ou reabilitar áreas
degradadas, assim como aqueles decorrentes de eventuais danos
pessoais e materiais causados à população e ao patrimônio público. É
facultada sua substituição por instrumentos de garantia: garantia
real, carta de fiança bancária ou seguro de responsabilidade civil.
Nas hipóteses de risco iminente à vida ou à saúde
da população, à integridade do meio ambiente ou à de recursos
econômicos, o poder público poderá exigir do empreendedor,
independente da idoneidade econômico-financeira deste, qualquer dos
instrumentos de garantia. Caberá ao órgão responsável pelo
licenciamento ambiental definir o valor da garantia e o prazo para
seu oferecimento. O PL também estabelece que os órgãos ambientais
farão vistorias regulares em intervalos não superiores a um ano,
emitindo laudo técnico sobre a implantação e o desenvolvimento das
ações ambientais a cargo do empreendedor, bem como sobre a segurança
das instalações. Qualquer cidadão, organização não governamental ou
município podem, a qualquer tempo, requerer do poder público, de
forma fundamentada, a vistoria.
Substitutivo - O
substitutivo da CCJ diz apenas que, "a critério do Copam, poderá ser
exigida do empreendedor a comprovação de sua capacidade econômica e
financeira para arcar com os custos potenciais de recuperação de
áreas degradadas e de indenização de danos pessoais e materiais
causados à população e ao patrimônio público nos licenciamentos de
empreendimentos que representem risco real de danos significativos
ao meio ambiente ou à saúde pública".
Projeto que altera lei que declara pequizeiro imune
de corte está pronto para Plenário
A comissão também analisou alguns projetos. Entre
eles, o PL 725/07, do deputado Doutor Viana (DEM), que altera a Lei
10.883, de 1992, que declara de preservação permanente, de interesse
comum e imune de corte o pequizeiro. O relator, deputado Almir
Paraca, opinou pela rejeição da matéria. Na opinião dele, os
projetos de irrigação do Estado não seriam prejudicados com a
existência de pequizeiros na área, já que a própria legislação
existente prevê mecanismos para conciliar preservação da espécie,
sem prejuízo do desenvolvimento sustentável. Agora o projeto está
pronto para o Plenário em 1º turno. Na CCJ, ele recebeu duas
emendas.
Animais - Pronto para ser
apreciado pela Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária,
também em 1º turno está o PL 135/07, do deputado Dalmo Ribeiro Silva
(PSDB), que institui o Código Estadual de Proteção aos Animais. O
projeto foi relatado pelo deputado Fábio Avelar, que acatou
substitutivo apresentado pela CCJ, apesar de ponderar que a matéria
precisa ser melhor discutida com especialistas, técnicos e aqueles
que vão aplicá-la.
O substitutivo, que dispõe sobre a Política
Estadual de Proteção aos Animais, lista 12 capítulos, que tratam,
entre outros assuntos, dos princípios e objetivos da política; da
fauna silvestre, exótica, doméstica e domesticada; vivissecção
(experimentos didático-científicos realizados com animais em centros
de experiências e demonstrações); dos sistemas intensivos de
economia agropecuária e do abate de animais; das licenças e dos
registros; fiscalização; dano à fauna e penalidades, além das
disposições finais e transitórias. O projeto proíbe a caça
profissional da fauna silvestre e a comercialização, sem a devida
licença, de espécimes dessa fauna - exceto o comércio daquelas
provenientes de criadouros devidamente legalizados. Obriga a licença
para o exercício de atividade com animais da fauna silvestre e
exótica.
Determina que a fiscalização será exercida: pelos
órgãos e entidades do Estado definidos na regulamentação da futura
lei, em caso de animal destinado à vivissecção e à pecuária, bem
como em caso de animal pertencente à fauna silvestre e exótica; e
pelo poder público municipal e pelo Estado, este em caráter
supletivo, nos demais casos. Também é listada uma série de
penalidades, como advertência; multa de R$ 50,00 a R$ 50 milhões;
apreensão; cancelamento de licença.
Análise adiada - Três
projetos que estavam na pauta tiveram análise adiada: PLs 6/07, do
deputado Paulo Guedes (PT), que altera a lei que dispõe sobre as
políticas florestal e de proteção à biodiversidade, instituindo
novos procedimentos a serem adotados pelo proprietário ou possuidor
de imóvel rural, visando à recomposição da reserva legal; 14/07, do
deputado Dalmo Ribeiro Silva, que dispõe sobre a contenção de águas
de chuvas nas áreas urbanas; e 346/07, do deputado Doutor Viana, que
institui o Cadastro Estadual de Entidades Ambientais do Estado.
Requerimentos para adiar a discussão dos PLs 6 e 14/07 e retirar de
pauta o PL 346/07 foram aprovados.
Requerimentos aprovados
* Dos deputados Weliton Prado, Zé Maia (PSDB),
Almir Paraca, Fábio Avelar e Wander Borges, para que seja feita
visita à reserva particular de patrimônio natural (RPPN) de
Januária.
* Do deputado Alencar da Silveira Jr. (PDT), para
que seja feita visita à região dos municípios afetados pela
construção do mineroduto e pela mina da MMX Mineração, bem como seja
promovida audiência em Alvorada de Minas ou Serro. Anexado a este,
foi aprovado requerimento do deputado Wander Borges para realização
de audiência em Conceição do Mato Dentro.
* Do deputado Hely Tarqüínio (PV), para realização
de audiência pública em Patos de Minas, a fim de discutir políticas
públicas para a pesca.
* Do deputado Délio Malheiros (PV), para realização
de audiência pública para discutir a situação ambiental da Serra da
Calçada, na região de Belo Horizonte, tendo em vista denúncias da
imprensa de que a Vale do Rio Doce está fazendo sondagens e
exploração mineral na área.
Requerimento rejeitado - Do
deputado Durval Ângelo (PT), que solicitava a Flávio Alvim Leite que
informasse a procedência de orquídea adquirida em seu orquidário, em
Carangola.
Também foi apresentado requerimento do deputado
Wander Borges para realização de audiência pública para discutir
projeto governamental que institui a política estadual de resíduos
sólidos. Essa proposta não foi votada na reunião desta
quarta.
Presenças - Participaram da
reunião os deputados Sávio Souza Cruz (PMDB), presidente; Fábio
Avelar (PSC), vice; Elisa Costa (PT), Wander Borges (PSB), Padre
João (PT), Almir Paraca (PT), Ronaldo Magalhães (PSDB), Zé Maia
(PSDB), Weliton Prado (PT) e Domingos Sávio (PSDB).
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