Promotoria critica política estadual para deficiente mental

Críticas e cobranças em relação à política estadual para assistência aos autistas, portadores de deficiência mental e...

02/07/2007 - 00:01
 

Promotoria critica política estadual para deficiente mental

Críticas e cobranças em relação à política estadual para assistência aos autistas, portadores de deficiência mental e suas famílias marcaram a 7ª reunião da Comissão Especial criada pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais para tratar do assunto, realizada nesta segunda-feira (2/7/07). Em especial, a promotora de Justiça Cíntia de Lucena, da Promotoria Especializada na Defesa da Infância e Juventude, criticou a falta de resultados práticos das políticas atuais, e a falta de articulação entre as diversas secretarias e órgãos nelas envolvidos. "Não quero saber o que é Atenção Básica, o que é Atenção Especial, o que é da Saúde, o que é da Assistência Social. Cadê programa para financiamento de transporte? Programa para moradia, complementação de renda, cadê?", criticou.

De acordo com Cíntia de Lucena, o governo do Rio de Janeiro paga dois salários mínimos para cada família que tem portador de deficiência mental em casa. Em Minas, isso não existe. "Essa justificativa de que, com a descentralização, cabe só ao município, é conversa. O Estado está omisso", afirmou. Ela também criticou o governo federal por não reformular a Portaria 1.635, do Sistema Único de Saúde (SUS), editada em 2002, que não regulamentaria de forma adequada o apoio às entidades filantrópicas que prestam assistência aos portadores de deficiência mental.

A representante da Coordenadoria Estadual de Atenção à Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência da Secretaria de Estado de Saúde, Renata Cruvinel, disse esperar que ainda este ano a portaria federal seja reformulada. Ela afirmou, no entanto, que as instituições filantrópicas que se enquadram na legislação federal continuam sendo cadastradas em Minas Gerais, ao contrário do que acontece em muitos estados. Ela apresentou uma lista de 36 estabelecimentos do Estado que abrigam portadores de deficiência que não têm nenhum vínculo familiar, mas reconheceu a inexistência de uma política voltada para aqueles que têm família. "Não temos para onde encaminhar. Esse problema existe", afirmou Renata Cruvinel.

O representante da Coordenadoria Estadual de Apoio e Assistência à Pessoa Deficiente, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), Flávio Couto Oliveira, afirmou que a questão do transporte de portadores de deficiência mental tem necessariamente que ser vista no âmbito municipal. Ele negou que os diferentes órgãos envolvidos trabalhem sem entrosamento, mas disse esperar que o trabalho da comissão parlamentar contribua para a construção de um "fluxo de trabalho intersetorial".

Estado fará cadastramento

Flávio Oliveira afirmou que a Sedese vai realizar um novo cadastramento nos municípios onde presta atendimento a famílias com portadores de deficiência. O objetivo será dimensionar a demanda no Estado. A secretaria, no entanto, só presta assistência a famílias que tenham renda máxima de um quarto do salário mínimo por pessoa. "Em outros casos, a atenção a essa população deve ser feita no âmbito da Saúde", afirmou. A questão foi enfaticamente criticada pela promotora Cíntia Lucena. "A questão não é de quem é a demanda! A questão é como vamos trabalhar juntos", declarou ela. O limite estabelecido em lei para a assistência social foi criticado por um dos pais presentes, Rogério Souza: "Abaixo de um quarto de salário mínimo é a mais absoluta miséria. Isso quer dizer que não há projeto de assistência social para o autista e o deficiente mental grave, na Sedese", afirmou o pai.

Durante a reunião, foi apresentado ainda um vídeo com a participação de alunos do Creia, escola especializada no atendimento a portadores de deficiência mental. O vídeo incluiu um depoimento de Juliana Benz, aluna que foi alfabetizada aos seis anos e publicou um livro. Um coral formado por alunos da instituição também se apresentou.

Na fase de debates, o público se emocionou ao ouvir o relato de Maria Aparecida de Oliveira, mãe de um jovem com deficiência mental, que se dizia feliz por ter conseguido, depois de muitos anos, tomar um sorvete com o filho num shopping. "É uma coisa tão simples, mas até então impossível para mim, já que nunca pude ficar 15 minutos com ele num local público. E tenho certeza que consegui graças à ajuda do Creia", afirmou. Outros participantes cobraram mais recursos orçamentários do governo e mais interação entre as secretarias de Educação e Saúde.

A deputada Maria Lúcia Mendonça, relatora designada para a comissão, afirmou que a participação da população nas reuniões irá contribuir muito para que seja feito um relatório consistente. Ela disse defender uma bandeira dupla: "Somos favoráveis aos hotéis e casas para os deficientes, mas também deve existir uma rede pública capacitada a atender o restante da população", afirmou a parlamentar.

O deputado Walter Tosta (PMN) informou que a apresentação do relatório final dos trabalhos da comissão será antecipada do dia 16 para o próximo dia 11, às 14h30. "Queremos algo consistente, que retrate a realidade dessas pessoas para que possamos levar todas as demandas ao governador", disse.

Presenças - Deputada Maria Lúcia Mendonça (DEM), deputado Walter Tosta (PMN); além das autoridades citadas na matéria, a presidente da Apape, Estela Mares de Souza; a diretora da Escola Creia, Margareth Leal; e a coordenadora e psicóloga da Casa do Ofício, Ione de Oliveira.

 

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