Trabalhadores protestam contra mortes na
Cemig
Representantes sindicais dos eletricitários pediram
o fim da terceirização na Cemig e culparam esse procedimento pelo
aumento do número de mortes de funcionários próprios e terceirizados
da empresa. De acordo com o sindicato da categoria, o Sindieletro,
entre 1999 e 2007, a empresa registrou 68 vítimas fatais, sendo 20
de funcionários próprios e outros 48 de empresas terceirizadas. O
assunto foi discutido nesta quinta-feira (28/6/07) em reunião
conjunta das comissões de Direitos Humanos e de Trabalho, da
Previdência e da Ação Social da Assembléia Legislativa de Minas
Gerais.
Ao abrir a reunião, o presidente da Comissão de
Direitos Humanos, deputado Durval Ângelo (PT), lembrou que esta foi
a terceira reunião realizada na Assembléia para discutir a questão.
"Infelizmente, os avanços são poucos", afirmou. Ele também elogiou
sentença da 4ª Vara da Justiça do Trabalho de Belo Horizonte, que
condenou a Cemig a acabar com a terceirização em um prazo de nove
meses, nas atividades essenciais de seu funcionamento. A decisão foi
notificada ao Ministério Público na quarta-feira (27/6/07), mas
ainda cabem recursos.
A presidente da Comissão do Trabalho, deputada
Rosângela Reis (PV), afirmou que o aumento do número de mortes é
explicado pelo fato de os funcionários das empresas contratadas não
passarem pelo mesmo treinamento oferecido pela Cemig a seus próprios
funcionários. "Essa precarização do trabalho não pode acontecer",
afirmou ela.
Sindicato diz que Cemig é campeã de mortes
Segundo números apresentados pelo Sindieletro, a
Cemig é hoje líder em acidentes graves e fatais no setor elétrico. O
coordenador geral do sindicato, Wilian Vagner Moreira, afirmou que,
em 2005, existiam 7,1 mil trabalhadores terceirizados prestando
serviços para a Cemig. Ele destacou que alguns deles trabalham
isoladamente na manutenção da rede, algo que seria proibido por
norma do Ministério do Trabalho. Ele também afirmou que avaliações
realizadas pelo Conselho Administrativo da Cemig atestaram que o
trabalho terceirizado acaba saindo mais caro, pela baixa qualidade
do serviço prestado.
Ele também afirmou que a fiscalização feita pela
Cemig sobre a atuação das terceirizadas acaba penalizando os
trabalhadores. Moreira relatou caso de funcionário que escondeu a
ocorrência de um acidente com medo de represália. Ele acabou
demitido após o episódio ser revelado. Segundo o auditor fiscal do
Trabalho Wladimir Poletti Jorge, também há denúncias de que algumas
contratadas estariam descontando do salário dos funcionários as
multas recebidas.
Poletti afirmou que o setor elétrico tem
apresentado cerca de mil acidentes anuais, em um universo de 97 mil
trabalhadores. "É um setor que mata, independente da concessionária.
Por ser um serviço perigoso, tem que ter um pessoal extremamente
treinado", afirmou. O Ministério do Trabalho detectou casos em que
uma equipe se envolveu em um acidente de trabalho às 20 horas, após
ter fechado seu cartão de ponto às 18 horas. Ele também comparou a
remuneração de um eletricista da Cemig, que ganharia cerca de R$ 2
mil, incluindo os benefícios, com a do eletricista terceirizado, que
ganharia R$ 388,00, em fevereiro de 2007.
Cemig atribui acidentes ao Luz para Todos
O superintendente de Recursos Humanos da Cemig,
Ricardo Luiz Diniz Gomes, negou que a empresa seja líder de
acidentes graves, apesar de admitir o aumento do número de
ocorrências nos últimos anos. Segundo ele, isso se deveria em parte
à pressão gerada pelo Programa Luz para Todos, de eletrificação
rural. "A velocidade do programa pode ter levado a um trabalho sem
condições ideais", afirmou. Em contrapartida, representantes do
Sindieletro afirmaram que, dos 32 acidentes ocorridos desde o início
do Luz para Todos, apenas dois envolviam atividades do programa.
Diniz argumentou que os terceirizados são treinados
através do Sindimig, o sindicato patronal das empresas contratadas,
em cursos reconhecidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (Senai). Ele afirmou que as restrições ao trabalho
isolado ainda não foram totalmente regulamentadas pelos órgãos
trabalhistas, fato que foi negado pelos representantes do Ministério
do Trabalho durante a reunião.
Outra polêmica referiu-se ao número de acidentes
envolvendo a população. Segundo Wladimir Poletti, em 2005, foram 113
acidentes, sendo 29 fatais. Diniz afirmou que a maioria dos
acidentes com a população envolve o toque na rede elétrica com
antenas e vergalhões da construção civil. Ainda assim, mais
recentemente, campanhas de esclarecimento teriam conseguido reduzir
o número de acidentes envolvendo a rede. A maioria dos casos atuais,
segundo ele, seriam referentes a outras causas.
Durante a reunião, o ex-funcionário Milton Ribeiro,
que sofreu acidente há 17 anos, pediu o apoio da comissão para
agilizar processo de indenização que tramita na Justiça. Ribeiro,
que perdeu as duas pernas e um braço, compareceu à audiência em
cadeira de rodas. A deputada Rosângela Reis afirmou que seria
elaborado requerimento, a ser aprovado na próxima reunião da
Comissão do Trabalho, para que se solicite à Justiça a agilização do
processo ou sua transferência de Brasília para Belo Horizonte.
O deputado João Leite (PSDB) disse que irá
solicitar à Cemig uma lista de todos os funcionários acidentados e
da situação social de cada um deles. Também pedirá informações sobre
o trabalho individual na manutenção da rede de alta tensão.
A deputada Rosângela Reis afirmou ainda que será
elaborado requerimento para pedir que os trabalhadores terceirizados
possam ser representados pelo Sindieletro. Uma última providência,
segundo ela, é a realização de um estudo de viabilidade para criação
de normas legais que proíbam o trabalho isolado na manutenção da
rede elétrica, mesmo quando executado por empresas
terceirizadas.
Presenças - Deputados
Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos; Luiz
Tadeu Leite (PMDB), vice-presidente; deputada Rosângela Reis (PV),
presidente da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social;
deputados João Leite (PSDB), Zé Maia (PSDB); além das autoridades já
citadas na matéria, o superintendente de Relacionamento Comercial da
Cemig, Márcio Baumgratz Delgado.
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