Comissões discutem políticas para Déficit de Atenção e Hiperatividade

Em Minas Gerais, há 407 mil escolares com déficit de atenção no aprendizado ou hiperatividade. Em graus variados de i...

28/06/2007 - 00:00
 

Comissões discutem políticas para Déficit de Atenção e Hiperatividade

Em Minas Gerais, há 407 mil escolares com déficit de atenção no aprendizado ou hiperatividade. Em graus variados de intensidade, esse transtorno atinge 5,3% da população estudantil e 4% da população adulta. O psiquiatra Walter Camargos Jr. considera que esse transtorno é "inocente", mas funciona como ímã para outros problemas, como baixa estima, fracasso escolar, evasão ou repetição de ano, abuso de substâncias proibidas etc.

O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) foi assunto de uma audiência conjunta das comissões de Saúde e de Educação, Ciência, Tecnologia e Informática da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, realizada na manhã desta quinta-feira (28/6/07). Participaram especialistas, representantes do Conselho Regional de Medicina e das secretarias de Estado da Saúde e da Educação.

A deputada Ana Maria Resende (PSDB), autora do requerimento, justificou sua iniciativa por ter sido durante muito tempo orientadora pedagógica, e na época estar despreparada para detectar problemas desse tipo. "Quero fazer um mea-culpa", disse a deputada. "Fui incapaz de entender e analisar esses casos, e creio que ajudei a estigmatizar alunos com TDAH". Sandro Pardini, que é portador do distúrbio também manifestado por seu filho de 7 anos, revelou os grandes progressos que ambos fizeram com medicação adequada e acompanhamento psiquiátrico.

O psiquiatra Camargos Jr. disse que a Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil (Abenepi), entidade que reúne neurologistas e psiquiatras infantis, apurou que muitos casos encaminhados ao exame neurológico eram simplesmente de dificuldades de concentração na escola ou de transtornos de comportamento em escritórios. Ele defendeu a tese de que o grande número de atingidos configura o TDAH como problema de saúde pública, e que é mais barato para o Estado tratá-los do que cuidar das conseqüências.

Medicamento não tem patente e pode ser fabricado pela Funed

O tratamento de primeira linha que Walter Camargos Jr. indica para os pacientes de TDAH é o medicamento Ritalina, fabricado pelo Laboratório Novartis. O custo seria de R$ 90 por paciente/mês na formulação de 10 mg e de R$ 170 por paciente/mês na formulação de 40 mg. Existe ainda um medicamento mais potente, o Concerta 54 mg, que custa R$ 230,00 por paciente/mês. O psiquiatra informou ainda que o princípio ativo, o metilfenidato, não tem patente, e poderia ser fabricado pela Fundação Ezequiel Dias.

Odilon Pereira de Andrade Neto, da Secretaria de Estado de Saúde, concorda que seria mais barato, mais inteligente e socialmente mais justo prevenir o transtorno do que enfrentar as conseqüências. Disse que a lista dos medicamentos de atenção básica tem 43 itens, mas que o governo de Minas fornece 73 itens. "Na medicação especial, o governo anterior gastava R$ 4 milhões por ano. Atualmente gastamos R$ 120 milhões, em remédios que são inacessíveis às famílias dos pacientes, como os enzimas para tratamento da Síndrome de Gouche, que custam R$ 200 mil por paciente/ano", informou.

No entanto, Andrade Neto evocou o princípio da prudência adotado pelo Ministério da Saúde antes de homologar qualquer novo medicamento para distribuição pública. "A entrega não pode ser atitude voluntariosa nossa. Há procedimentos obrigatórios para organizar o processo, que consideram a complexidade do assunto, a escala, os interesses dos fornecedores. É preciso um rigor absoluto, publicar editais, passar pelo crivo da sociedade e dos notáveis", informou.

Déficit de "ensinagem" também deve ser considerado

O deputado Ruy Muniz (DEM) considerou "burocrática" a atitude de cautela adotada pela Secretaria de Estado da Saúde, mas disse que a Assembléia Legislativa pode contribuir para o esclarecimento sobre esse transtorno produzindo vídeos e veiculando entrevistas através da TV Assembléia. Requerimento nesse sentido foi apresentado por ele e aprovado.

O representante do Conselho Regional de Medicina, Márcio Lobato Santos Guimarães, reconheceu que os médicos têm "acentuada ignorância" acerca do TDAH. Elogiou a coragem da deputada Ana Maria de reconhecer as limitações do magistério para identificar o problema, propôs estudar melhor o assunto e levar ao conhecimento da categoria.

Ana Regina de Carvalho, da Secretaria de Estado de Educação, expôs o Projeto Incluir, que a Secretaria está implantando para capacitar os professores na chamada "Pedagogia da Diversidade", ou seja, a necessidade de revisão dos projetos pedagógicos das escolas para atender a todos os tipos de deficiência. "Enfrentamos numerosos casos de fracasso escolar, mas as causas às vezes não são nítidas. O problema pode não estar só do lado do aluno, mas nos professores despreparados, naquilo que chamamos déficit de ensinagem", revelou.

Por sua vez, o deputado Doutor Rinaldo (PSB) admitiu que "os médicos só agora acordaram para um assunto tão importante". Ele incumbiu sua assessoria de preparar um projeto criando a Semana do Portador de TDAH, para que, anualmente, as escolas cuidem prioritariamente do assunto.

O deputado Carlin Moura (PCdoB) sugeriu que o primeiro passo é treinar os professores para detectar o problema. O segundo é encaminhar os alunos para diagnóstico e tratamento. "Não vamos resolver esse problema só com bons sentimentos e intenções, mas com políticas públicas eficientes", afirmou. A Comissão aprovou requerimento desse deputado para inclusão no Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado, programas de atendimento de TDAH.

Presenças - Deputados Carlos Mosconi (PSDB), presidente; Doutor Rinaldo (PSB), Ruy Muniz (DEM), Carlin Moura (PCdoB), e a deputada Ana Maria Resende. Participou também o deputado Weliton Prado (PT).

 

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