Quilombolas denunciam violência em desocupação de fazendas

Deputados da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais estiveram, nesta quarta-feira (27...

27/06/2007 - 00:02
 

Quilombolas denunciam violência em desocupação de fazendas

Deputados da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais estiveram, nesta quarta-feira (27/06/07), em Janaúba, no Norte do Estado, para investigar denúncias de violência e irregularidades cometidas por seguranças e policiais militares contra quilombolas na desocupação de uma fazenda na região.

As vítimas relataram aos parlamentares que foram recebidas a balas por funcionários e pelo gerente da Fazenda Vista Alegre, quando eles invadiram a propriedade, em maio passado. Os quilombolas da Comunidade Brejo dos Crioulos alegam tratar-se de terras improdutivas, conforme reconhecimento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra/MG). No conflito, duas pessoas ficaram feridas e três foram detidas. Eles apontaram ainda arbitrariedade da ação dos policiais militares, que os obrigaram a sair do local sem ordem da Justiça.

"A fazenda fica dentro das nossas terras. São 2.900 hectares inutilizados. Só estamos reavendo o que já era nosso. Os invasores aqui não somos nós. Além de tudo, nossa atuação era pacífica", afirmou Francisco Cordeiro, presidente da Federação Quilombola. "Mais de 60 policiais armados, viaturas, cães e até helicópteros foram acionados para nos expulsar de lá", contou Nilson Reis Silva, que levou um tiro na mão.

Segundo o procurador da Coordenadoria de Conflitos Agrários (CAO), Afonso Henrique de Miranda Teixeira, a Polícia Militar não pode intervir nestes tipos de ocupação sem mandado judicial e sem a companhia de um oficial de justiça. "Não pode tirar os invasores, tampouco impedir a invasão. Não há crimes nas ocupações coletivas de terra. É o entendimento já consolidado da doutrina e da Justiça brasileira," explicou.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Durval Ângelo (PT), concordou. "O policial militar não é capitão-do-mato, que perseguia e castigava negros na época da escravidão. Os policiais que atuaram neste episódio não só descumpriram a lei, mas o regulamento da própria instituição, que define inclusive normas de conduta para casos como este. O Comando da Polícia Militar sabe muito bem que é preciso ordem judicial", afirmou. Para Durval Ângelo, a violência maior é do Estado que se omite.

Representantes da Pastoral da Terra apresentam outras denúncias

Os quilombolas e representantes da Pastoral da Terra e do Movimento Sem-Terra, que lotaram o Plenário da Câmara Municipal de Janaúba, reclamaram ainda da morosidade do Incra/MG para agilizar a reforma agrária no Norte de Minas, onde, segundo eles, existem terras devolutas e muitas propriedades improdutivas, e apresentaram outras denúncias de violência e morte no campo por conta de disputa de terras.

Segundo eles, a PM também interveio ilegalmente na desocupação da Fazenda Novo Horizonte, intimidando os invasores sem respaldo judicial. "Temos medo que um novo massacre dos Carajás se repita aqui no Norte de Minas, tudo fruto da omissão do Estado", opinou o coordenador estadual do MST, Cristiano Meireles da Silva.

O deputado João Leite (PSDB) lamentou a situação dos quilombolas e sem-terra. "O direito à propriedade não pode estar acima do direito à vida", afirmou. Já o deputado Ruy Muniz (DEM) mostrou-se preocupado com a incitação à guerra no campo. "Reforma agrária e justiça no campo são necessidades urgentes, mas tem que ser feito na paz e harmonia, sem violência".

Requerimentos - Os deputados aprovaram sete requerimentos. Seis deles enviando pedidos de informações e providências a autoridades, instituições e entidades públicas em relação às denúncias apresentadas, inclusive para a Polícia Militar e ao governador do Estado. Outro requerimento aprovado requer a realização de debate público na ALMG para tratar da situação dos quilombolas em Minas Gerais.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente da comissão; João Leite (PSDB) e Ruy Muniz (DEM).

 

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