Movimentos afirmam que vão barrar construção de barragem

Membros de movimentos populares da região de Governador Valadares lotaram o auditório da Câmara Municipal da cidade, ...

26/06/2007 - 15:44
 

Movimentos afirmam que vão barrar construção de barragem

Membros de movimentos populares da região de Governador Valadares lotaram o auditório da Câmara Municipal da cidade, nesta segunda-feira (25/6/07), para discutir os impactos ambientais e socioeconômicos da construção da barragem da Usina Hidrelétrica Baguari. A audiência pública foi promovida pela Cipe Rio Doce, a requerimento da deputada Elisa Costa (PT). A Cipe Rio Doce, formada por deputados mineiros e capixabas, é uma comissão em defesa da bacia hidrográfica do Rio Doce. Em uma reunião de mais de quatro horas, vários participantes dos movimentos populares incitaram os presentes a acampar no local da obra para impedir o seu avanço.

A obra, que foi iniciada em maio, tem previsão de geração de 140 megawatts, com investimento de US$ 211,05 milhões. Foi licitada no leilão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de dezembro de 2005, com contrato de concessão assinado em agosto de 2006 com as empresas Baguari Neoenergia, Cemig e Furnas. O empreendimento teve a licença prévia e a licença de instalação aprovadas pela Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), o que tem sido questionado pelos movimentos populares e pelo Ministério Público Federal, que pediu a suspensão das obras para estudos mais detalhados. Segundo o órgão, uma vez que o rio Doce está inserido nos bens da União, caberia ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) expedir a licença. Convidada, a Feam não compareceu à reunião, assim como o prefeito de Governador Valadares.

De acordo com Elisa Costa, a Procuradoria da República teria constatado irregularidades no levantamento feito pela Feam, pois haveria bioma da Mata Atlântica a ser alagado: a Ilha Bonaparte. Outro problema constatado teria sido a ausência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no processo. O chefe do serviço de desenvolvimento da Superintendência Regional do Incra, José Maurício Ribeiro, explicou que o órgão não interfere na negociação de terras no caso da compra do terreno para construção da usina hidrelétrica.

O deputado José Henrique (PMDB) conduziu os trabalhos. "Temos a obrigação de acompanhar o processo. Estamos aqui para ouvir todos com respeito, democraticamente", disse. "Esse momento se soma a outras iniciativas e é mais um passo para termos a justiça prevalecendo. Em torno de 130 famílias serão atingidas. Esse deve ser um espaço prioritário dessas famílias. Espero que os representantes do consórcio possam entender isso", falou a deputada. "Que possamos buscar o equilíbrio entre as partes", pediu a deputada Rosângela Reis (PV).

O coordenador ambiental do consórcio da UHE Baguari, Ricardo Márcio Martins Alves, apresentou dados da construção da barragem e da usina e contestou os representantes populares presentes, afirmando que foram apresentados todos os estudos de viabilidade técnica do empreendimento e programas sociais paralelos. "A área total do reservatório é de 1.606 hectares. Desse total, 871 hectares estão na calha do rio", informou. O público presente interrompeu a fala do representante várias vezes, questionando a veracidade de sua fala, que foi o único representante a defender a obra. Respondendo questões dos cidadãos presentes, ele argumentou que o consórcio jamais disse que tinha compromisso de geração de empregos. "No auge das obras, está prevista a geração de 1.300 empregos, mas com a obra pronta, o trabalho na usina não gera mais que seis empregos, por causa da automatização", explicou. Ele também informou que foram encontrados quatro sítios arqueológicos no terreno explorado pela obra. O dado também foi motivo de debate entre os presentes, devido à preocupação com a destinação dos materiais encontrados.

"Os empreendimentos não respeitam os seres humanos e não significam a salvação para a região. Minas Gerais tem a energia mais cara do Brasil. Está muito claro que as hidrelétricas não são para beneficiar o povo", comentou o deputado Padre João (PT), que solicitou ao representante do empreendimento o relatório de impacto ambiental. A advogada Giovana Guimarães de Menezes, que representou a presidente da Associação dos Atingidos do município de Periquito, Liberalina Gomes de Oliveira, pediu para o consórcio avaliar melhor a situação da rua Beira Rio, que não está sendo considerada como atingida pela obra. Ela também questionou a ausência de moradores locais nas discussões do Conselho de Assistência Social do Estado. "Não estamos lá para discutir o plano".

O coordenador Regional da Agência Nacional de Águas (ANA/CBH-DOCE), Ney Albert Murtha, pediu o respeito dos presentes, depois de ter sido citado pelo vereador Geremias Brito. "Temos o maior interesse em assessorar os movimentos sociais na defesa dos seus direitos. A responsabilidade da ANA nesse processo é a emissão de um documento chamado Reserva de Disponibilidade Hídrica. Quem dá licença ambiental é a Feam", disse. Durante a fase de debates, mais de 20 pessoas fizeram uso do microfone. O vereador Geremias Brito questionou a ausência do prefeito de Governador Valadares e comentou a greve da Polícia Civil na cidade. Do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Sônia Mara Maranho, fez coro aos atingidos pelas barragens, dizendo que "água e energia não são mercadoria". O pescador Moisés Gomes da Silva protestou: "O seu dinheiro, para nós, é doença". Várias pessoas relataram casos de pessoas que ficaram doentes depois do início do empreendimento na região. Outra denúncia foi a mortandade de peixes ocorrida no rio, segundo alguns cidadãos, encoberta pela empresa.

Presenças - Deputados José Henrique (PMDB), Padre João (PT), Rosângela Reis (PV) e Elisa Costa (PT). Compareceram também, como convidados, o vereador e presidente da Câmara Municipal de Governador Valadares, Paulinho Costa; o procurador do Ministério Público Federal em Governador Valadares, Zilmar Antônio Drumond; o coordenador Regional da ANA/CBH-DOCE, Ney Albert Murtha; o gerente da Regional Leste do Ibama, João Alves Filho; o chefe do Serviço de Desenvolvimento da Superintendência Regional do Incra, José Maurício Ribeiro; o coordenador ambiental do consórcio da UHE Baguari, Ricardo Márcio Martins Alves; a assessora de comunicação do consórcio, Renata Melo; o consultor do consórcio, professor da PUC Minas e responsável pelos estudos do meio biótico do Estudo de impacto Ambiental e Plano de Controle Ambiental do projeto, Bruno Garzon; o gerente de produção da construtora Norberto Odebrecht, engenheiro Antônio Augusto dos Santos; e a advogada Giovanna Guimarães de Menezes, que representou a presidente da Associação dos Atingidos por Barragem da cidade de Periquito, Liberalina Gomes Oliveira; além dos vereadores de Governador Valadares, Geremias Brito, Geovanne Honório e Cida Pereira; e representantes de outros movimentos, como o Movimento dos Pequenos Agricultores e a Via Campesina.

 

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