Estado defende regionalização da assistência à saúde

A regionalização da assistência hospitalar - com a formação de uma rede para atendimento, inclusive de urgência e eme...

25/06/2007 - 00:00
 

Estado defende regionalização da assistência à saúde

A regionalização da assistência hospitalar - com a formação de uma rede para atendimento, inclusive de urgência e emergência - e o pagamento por habitante, e não por produção, são algumas saídas apontadas pelo governo do Estado para a deficiência de atendimento e de recursos nos hospitais mineiros. O tema foi discutido na tarde desta segunda-feira, no Plenário da Assembléia Legislativa, durante o Debate Público "A situação dos hospitais do Estado de Minas Gerais: alternativas de gestão e participação municipal", promovido pela Comissão de Saúde.

Ao confrontar os dados do setor em Minas com números internacionais, a coordenadora do Pró-Hosp da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Marilene Fabri Lima, salientou que um hospital precisa ter, no mínimo, entre 100 e 200 leitos para conseguir arcar com os custos fixos, que são elevados. Em Minas, porém, a média é de 60 leitos por unidade, com uma ocupação considerada baixa, de 35% (dados de 2003). No Reino Unido, por outro lado, 80% dos hospitais têm mais de 300 leitos, com ocupação de 76%. Essa taxa chega a 57% na Turquia e a 85% na Alemanha.

Esse quadro, de acordo com a coordenadora do Pró-Hosp, dificulta a gestão financeira dos hospitais do Estado e interfere também na qualidade do atendimento. "Há estudos que mostram que os hospitais com menor escala são menos eficientes", enfatiza. Segundo ela, o maior problema observado em todo o mundo é que a ação dos gestores é sempre pontual, em casos de crise, sem planejamento ou estruturação. "No curto prazo, o problema é resolvido. Mas pode gerar outros, como dificuldade de custeio", exemplifica. Daí a necessidade de trabalhar em rede, um dos pilares do Pró-Hosp, programa criado em 2003 para fortalecer e melhorar a qualidade dos hospitais do Estado.

O programa prevê, entre outras medidas, o repasse de recursos às unidades. Em 2007, segundo Marilene Lima, serão R$ 100 milhões. A regionalização dos hospitais envolve, segundo ela, os níveis local, de atenção básica à saúde; microrregional, para procedimentos de baixa complexidade; e macrorregional, para os de alta complexidade. "O objetivo é ter resolutividade próxima à residência, com economia de escala. E o desafio é centrar a atenção na saúde, e não na doença, investindo na qualidade de vida do usuário", argumenta. Na nova etapa do Pró-Hosp, de acordo com a coordenadora, a prioridade será a inserção dos hospitais de importância local, para consolidar a regionalização.

Serviço de urgência e emergência também será regionalizado

Até 2010, a ótica de rede de serviços também será implementada na urgência e emergência no Estado. A informação foi destacada pelo coordenador de Urgência e Emergência da SES, Welfane Cordeiro Júnior. Segundo ele, a maioria dos atendimentos no Brasil envolve doenças crônicas, de tratamento longo, enquanto o serviço de saúde está estruturado para condições agudas. "O envelhecimento da população nos assusta. É entre os idosos que ocorre a maior parte das condições crônicas", justifica.

A proposta do governo, de acordo com Welfane Júnior, envolve uma rede de hospitais que se apóiam e se complementam, cada um com seu papel; além de um call center ligado a uma central de leitos, tudo isso com software próprio. "O centro de comunicação dessa rede é a unidade de atenção primária à saúde, que será fortalecida com o programa. O modelo é o de acolhimento com triagem e classificação de risco, o que determina o tempo de espera pela consulta e o melhor local e melhor tecnologia para atendimento", detalha. A estrutura da rede e a logística do sistema deverão ser financiadas pelo Estado e pelo Ministério da Saúde.

Outra mudança prevista é quanto ao pagamento, que deverá ser calculado conforme o número de habitantes da região servida pelo hospital - e não por produção. Welfane Júnior justifica que só assim o hospital poderá manter o plantão de uma equipe de qualidade. "A escala mundial é de um hospital de referência para trauma para cada um milhão de habitantes", acrescentou.

Poços de Caldas apresenta "case" de financiamento

O investimento de recursos do departamento de eletricidade municipal para saldar uma dívida de R$ 14 milhões da Santa Casa de Poços de Caldas, em 2004, foi o exemplo trazido pelo secretário de Saúde do município, Mário Roberto de Paiva Ferreira. A unidade, fundada em 1904, estava à beira da falência. Mas depois da injeção de recursos, autorizada pela Câmara Municipal por meio de projeto de lei do Executivo, conseguiu até mesmo melhorar sua infra-estrutura. A Santa Casa de Poços de Caldas tem 162 leitos, com taxa de ocupação de 82,3%. Pelo menos 70% dos atendimentos são pelo SUS.

De acordo com Mário Ferreira, 32 cidades do Sul de Minas recorrem à Santa Casa, que tem dificuldade para bancar serviços como de urgência e emergência. "Nosso custo mensal é de R$ 250 mil, mas recebemos do SUS apenas 25% disso", informa. Segundo ele, a unidade tem agora os desafios de implantar um hemocentro e um serviço de hemodiálise e de voltar a realizar transplantes renais.

Precariedade de atendimento é constatada por comissão

O presidente da Comissão de Saúde, deputado Carlos Mosconi (PSDB), enfatizou que a precariedade do atendimento à saúde tem ficado clara nas reuniões da comissão, tanto na ALMG quanto em cidades do interior. "Há problemas de gestão ou de falta de austeridade. Eles atingem tanto a área de atenção básica quanto a de procedimentos mais complexos. E a maior causa desse drama é a pobreza de recursos", afirma. Uma das dificuldade, de acordo com o parlamentar, é a falta de regulamentação da Emenda 29 à Constituição Federal. Ela define os recursos mínimos que devem ser destinados à área de saúde. "Tivemos um corte de 15% ou R$ 5,8 bilhões no orçamento federal da saúde. E não há reajuste das tabelas do SUS. Como equacionar isso?", questiona. Carlos Mosconi foi autor do requerimento para o Debate Público, junto com os deputados Roberto Carvalho (PT) e Dinis Pinheiro (PSDB). Participaram também da mesa os deputados Carlos Pimenta (PDT); Doutor Rinaldo (PSB); Fahim Sawan (PSDB); Braúlio Braz (PTB); Doutor Viana (DEM); e a deputada Maria Lúcia Mendonça (DEM).

Apagão Hospitalar a caminho

Para o presidente da Associação dos Hospitais de Minas Gerais, Carlos Eduardo Ferreira, se nada for feito em curto prazo, em nove anos haverá um "apagão" no setor de saúde do País. Ele defendeu a maior integração entre os setores público e privado. "Temos o SUS e a rede particular que não se comunicam. É preciso haver complementaridade", opinou. Carlos Eduardo ainda fez um apelo à Comissão de Saúde da ALMG para que interceda junto ao governo federal para que pague a dívida com os hospitais decorrentes da conversão da moeda para a URV. "As instituições precisam muito desse dinheiro", acrescentou.

O assessor especial da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Francisco Cardoso Campos, reivindicou mais atenção para com os pequenos hospitais. Segundo ele, a falta de estrutura do setor faz com que cidades maiores, como a Capital, paguem um alto preço. "Cerca de 76% dos partos normais de gestantes de Ribeirão das Neves são feitos em Belo Horizonte. De Ibirité, são 75% e, de Santa Luzia, 47%. Isso só para citar exemplos mais simples. Ou seja, a taxa de dependência dos grandes centros é enorme", destacou. O assessor informou que a Prefeitura da Capital gasta 19,7% de suas receitas orçamentárias líquidas com a saúde "E definitivamente não é possível gastar mais. Muitas cidades do Estado chegaram ao seus respectivos limites".

Críticas ao governo federal

Os deputados Carlos Pimenta (PDT), Doutor Rinaldo (PSB) e Fahim Sawan (PSDB) criticaram a omissão do governo federal em relação à saúde, cobraram a regulamentação da Emenda 29 e reclamaram da ausência de um representante do Ministério no debate público. Fahim ainda lamentou o fechamento de quatro hospitais de Uberaba.

Para o deputado Arlen Santiago (PTB), não há outra saída para solucionar a crise do setor que não seja o aumento dos recursos do governo federal. "É o que tem mais condições e o que arrecada a maior parte dos tributos", opinou. Já o deputado Sebastião Helvécio (PDT) alertou para o fato de que os governos federal e estadual e os 853 municípios mineiros gastam hoje menos com a saúde do que em meados dos anos 90.

 

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