Corredor Cultural da Praça da Liberdade é criticado na ALMG

Três comissões se reuniram nesta quinta-feira (21/6/07) para discutir o polêmico projeto do Corredor Cultural da Praç...

21/06/2007 - 00:00
 

Corredor Cultural da Praça da Liberdade é criticado na ALMG

Três comissões se reuniram nesta quinta-feira (21/6/07) para discutir o polêmico projeto do Corredor Cultural da Praça da Liberdade, que pretende transferir as secretarias de Estado que funcionam no entorno na praça para o Centro Administrativo do bairro Serra Verde. As comissões de Cultura, de Educação, Ciência Tecnologia e informática e de Participação Popular ouviram de arquitetos, vereadores, promotores de justiça e representantes da sociedade civil, críticas com relação aos impactos do projeto e os danos ao patrimônio histórico e cultural do Estado. Mas alguns deputados da base do Governo defenderam que a intenção do projeto é a de criar um espaço público respeitando esse patrimônio. A deputada Gláucia Brandão (PPS), presidente da Comissão de Cultura, presidiu a reunião, que foi solicitada pelos deputados André Quintão (PT) e Deiró Marra (PR), e durou mais de três horas.

A sub-coordenadora das Promotorias de Defesa do Patrimônio Histórico, Cultural e Turístico de Minas Gerais, Marta Alves Larcher, disse que o Ministério Público Estadual entrou com uma ação civil contra as intervenções previstas para o prédio da Secretaria da Fazenda. Segundo ela, o Estado recorreu e conseguiu continuar com obras de reformas do telhado e de esquadrias, com o argumento de evitar a deterioração do edifício. No final de maio, a liminar que suspendia as obras foi cassada, mas o MP deve recorrer porque não concorda com as argumentações. O Estado alega que o projeto foi aprovado pelos órgãos competentes, mas a promotora contesta: "Não foi aprovado pelo órgão, e, sim, por uma servidora que detém cargo em comissão", reclamou. Ela lembrou que a aprovação do projeto é de competência do Conselho Curador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha)

O coordenador das Promotorias de Defesa do Patrimônio Histórico, Cultural e Turístico de Minas Gerais, Marcos Paulo de Souza Miranda, salientou que o Ministério Público não é contra o governo, mas se preocupa com o projeto por estar lidando com um dos mais valiosos conjuntos arquitetônicos da Capital mineira. Ele lembrou que a Praça da Liberdade foi tombada pelo Iepha e que o projeto prevê a descaracterização dos prédios, o que é proibido. Ele leu um trecho do parecer de aprovação para o projeto da Secretaria da Educação, apresentado pelo próprio governo, que prevê "demolição de todas as paredes internas da parte posterior do prédio para gerar espaços livres".

A presidente da Associação de Defesa dos Usuários Consumidores e Contribuintes em MG (Aduccon), Ilma Arruda de Araújo Abreu, afirmou que o Centro de Referência do Professor (CRP), que funcionava dentro da Secretaria da Educação foi desativado. Nesses 13 anos de funcionamento, o CRP mantinha o Museu da Escola de Minas, com acervo de mais de 4 mil peças; o Centro de Documentação, com 60 mil exemplares; e o Laboratório de Currículos, responsável por publicações e pela realização de cursos de educação continuada para professores. Ilma solicitou a criação de uma comissão de parlamentares para fiscalizar a transferência das secretarias assim como a implementação do projeto do Corredor Cultural.

O presidente do Sindicato dos Arquitetos de Belo Horizonte, Eduardo Fajardo Soares, chamou de "arrogante" o projeto que o arquiteto Paulo Mendes da Rocha desenvolveu para o Corredor Cultural e disse que o sindicato dos arquitetos vai lutar contra. "São joguetes de interesses particulares; a lei do tombamento está sendo desrespeitada, assim como a nossa memória", desabafou. Ele esclareceu que para o prédio da Secretaria de Defesa Social está prevista a criação do Centro Cultural Banco do Brasil; para a Secretaria da Educação, o Centro de Indústria e Arte Contemporânea da Fiemg; e para o prédio da Secretaria da Fazenda, está prevista a transferência da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e do Circuito Cultural do Vale do Rio Doce.

O diretor do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (Iphan) de Ouro Preto, Benedito Tadeu, disse que o arquiteto responsável pela obra não tem sensibilidade para a preservação dos bens culturais, principalmente os tombados, e que a Praça da Liberdade, que é um bem cultural não só de Minas, mas de todo o Brasil. Para ele, o projeto está sendo conduzido de forma autoritária, sem respeitar o Estatuto da Cidade. "O que deve prevalecer é o interesse cultural, e não o eleitoreiro", observou.

O deputado João Leite (PSDB) não concorda que o projeto seja autoritário pois, segundo ele, já foi discutido várias vezes na Assembléia Legislativa. Ele disse que os parlamentares precisam conhecer efetivamente como o processo está sendo desenvolvido e por isso apresentou dois requerimentos que foram aprovados. Um deles para visitar todo o complexo da Praça da Liberdade, para conhecer a situação dos prédios, e outro, solicitando uma visita à Secretaria de Cultura para conhecer o projeto.

O deputado Domingos Sávio (PSDB) defendeu o projeto, afirmando que ele prevê a criação de um espaço público, preservando o patrimônio histórico, e com responsabilidade social. "Ninguém aceita a hipótese de destruir um patrimônio público, todos precisam ser respeitados; é um princípio fundamental da democracia" afirmou o parlamentar. Ele explicou que o governo buscou parcerias com a iniciativa privada para realizar a obra no Corredor Cultural, sem comprometer outros recursos, como os destinados à educação ou à saúde.

Na opinião do deputado Carlin Moura (PCdoB), a Assembléia Legislativa deve intervir para que esse processo seja interditado imediatamente. "Vamos fazer um apelo ao governador Aécio Neves e à secretária de Cultura para que não toquem em nada, até que essas questões sejam resolvidas", observou. Já a deputada Maria Lúcia Mendonça (DEM) acredita que essa discussão está somente começando, e para que os problemas seja resolvidos, "deve-se chegar à exaustão".

Na opinião do vereador de Belo Horizonte, Arnaldo Godoy (PT), o conceito de Circuito Cultural da Praça da Liberdade é equivocado. De acordo com ele, as obras previstas para a Secretaria da Fazenda e da Educação descaracterizam os prédios e não promovem nenhum benefício. Além do mais, são centralizadas: "Esses recursos que serão aplicados no corredor cultural poderiam ser utilizados para descentralizar os equipamentos de cultura, esporte e lazer", observou.

A deputada Gláucia Brandão (PPS) lembrou que representantes do Iepha e da Secretaria de Educação também foram convidados, mas nenhum deles mandou representantes. Ela destacou que Minas Gerais tem um dos maiores patrimônios históricos do Brasil, e que a função dos parlamentares é valorizar e defender tudo que Minas Gerais tem de bom.

Presenças - Deputada Glaúcia Brandão (PPS), presidente da Comissão de Cultura; deputado Deiró Marra (PR), presidente da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia e Informática; deputados André Quintão (PT) e Eros Biondini (PHS), respectivamente, presidente e vice da Comissão de Participação Popular; deputados Wander Borges (PSB), João Leite (PSDB) e Domingos Sávio (PSDB) e deputada Maria Lúcia Mendonça (DEM).

 

 

 

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