Pais de autistas reclamam da falta de escolas
especializadas
Pais e familiares de autistas e portadores de
deficiências mentais criticaram a política de inclusão do governo
estadual e a falta de escolas e profissionais especializados em
Minas. As reclamações foram recebidas pelos deputados na quinta
reunião da Comissão Especial para o Estudo da Atenção à Pessoa com
Transtorno Mental, Deficiência Mental ou Autismo da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais, na tarde desta segunda-feira (18/6/07).
Na pauta do encontro, o tema "Qualificação profissional".
"Não adianta querer tratar crianças excepcionais
como alunos normais. Temos que separar as coisas. Uma escola
convencional não tem a menor condição de oferecer atenção e
estrutura necessárias a um aluno com deficiência mental. Alguns não
são capazes de aprender a ler e a escrever. Além disso, há a questão
do preconceito dos outros pais. Por isso, a proposta de inclusão do
governo do Estado não funciona", reclamou Ester Cândido, mãe de um
deficiente mental, de 28 anos.
A crítica foi endossada pelo professora aposentada
Margarida Rossi, segundo a qual, a intenção de pôr alunos normais e
excepcionais na mesma sala de aula só funciona no "papel". "Uma
professora não tem condições de deixar 39 alunos de lado para dar
atenção a apenas um. E todos nós sabemos que a estrutura das escolas
é precária e as salas estão sempre cheias", disse.
Apoio - O deputado Célio
Moreira (PSDB) deu razão à indignação de pais presentes à reunião e
reconheceu que o que é oferecido atualmente pelo governo é muito
pouco. "O objetivo desta reunião é justamente esse. Queremos mostrar
ao Executivo que a situação é muito difícil; por isso, é importante
colhermos a opinião de quem sofre o problema diariamente. Sabemos
que existem doentes que precisam de tratamento altamente
especializado; não dá para incluir em escolas convencionais". O
deputado informou que um relatório será encaminhado às secretarias
com propostas de ação. "Estamos cobrando políticas públicas para os
pais também", ressaltou.
A presidente da Associação de Pais e Amigos de
Pessoas Especiais (Apape), Estela Mares Guillen de Souza, defendeu
as escolas especializadas e também o regime integral. Segundo ela,
90% dos pais de excepcionais são contrários ao processo de inclusão
em escolas comuns. "Para muitos autistas ou deficientes, a adaptação
em um colégio regular é quase impossível. Não adianta; não haverá
interação. Sem falar na violência, preconceito, falta de estrutura
da rede", afirmou.
Cadastramento - A diretora
de Educação Especial da Secretaria de Estado de Educação, Ana Regina
de Carvalho, fez um apelo aos pais e responsáveis para que façam o
cadastramento dos deficientes mentais e autistas de modo que o
Estado possa saber ao certo quantas e onde estão essas pessoas. A
falta de estatísticas, aliás, também foi uma das queixas
apresentadas à comissão.
Ana Regina traçou ainda um panorama dos programas
de capacitação profissional do Estado. Em Minas, existem atualmente
4.915 profissionais especializados, na área de educação, para lidar
com esses alunos especiais. Segundo a diretora, o Projeto Incluir
pretende treinar outros 5.000 profissionais até 2009. A
representante da Secretaria de Educação negou que o Estado pretenda
fechar as escolas especiais atualmente existentes.
Interação - A deputada
Gláucia Brandão (PPS) elogiou a busca coletiva de soluções e disse
ter identificado dois problemas sérios na reunião desta quarta: a
necessidade de melhorar a qualificação dos profissionais nas
universidades; e a necessidade de promover a intersetorialidade
entre a Saúde, a Educação e a Assistência Social para tratar do
assunto. Pediu também a inclusão dos aspectos culturais e
esportivos, que são importantes para o tratamento dos portadores de
transtorno mental.
Já o deputado Walter Tosta (PMN) informou ter
voltado atrás em relação à sua posição inicial contra a prorrogação
do prazo da comissão. "Eu estava angustiado para ver a proposta
avançar. Agora dou a mão à palmatória. Com as novas contribuições,
nosso relatório ficará mais rico e, na pior das hipóteses, vai
sensibilizar o governo na definição de soluções.
Para a próxima reunião, em 25 de junho, o tema será
"Assistência social integral a autistas e suas famílias".
Presenças - Deputados
Célio Moreira (PSDB), presidente; Walter Tosta (PMN) e deputada
Gláucia Brandão (PPS).
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