Nova delimitação do Parque da Serra da Canastra gera desconfiança

O Parque Nacional da Serra da Canastra foi criado em 1972, com desapropriações promovidas à força. Em vez de serem in...

14/06/2007 - 00:00
 

Nova delimitação do Parque da Serra da Canastra gera desconfiança

O Parque Nacional da Serra da Canastra foi criado em 1972, com desapropriações promovidas à força. Em vez de serem indenizados em dinheiro, muitos fazendeiros receberam títulos da dívida agrária resgatáveis após 30 anos. Agora o governo federal estuda uma forma de regularizar a situação fundiária do parque, que tem efetivamente preservados e delimitados apenas 70 mil dos 200 mil hectares inicialmente previstos. O temor de agricultores e mineradores quanto a possíveis novas desapropriações motivou a realização de reunião da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legislativa de Minas Gerais nesta quinta-feira (14/6/07).

Segundo o chefe do parque, Joaquim Maia Neto, a notícia da ampliação dos limites da área de preservação foi levada aos agricultores da pior forma possível, com ameaças de novas desapropriações. "As pessoas não acreditam que vão ser indenizadas", relata. Nesse sentido, o representante dos produtores rurais da Serra da Canastra, Pedro Rodrigues das Neves, comentou que "a primeira etapa de implantação do parque foi feita à base de pontapés. Até hoje tem produtor rural que não recebeu indenização, e isso não pode acontecer de novo".

Tanto agricultores quanto mineradores são contrários à expansão do parque. "Se a sociedade não consegue manter os atuais 70 mil hectares preservados, para que um parque com 200 mil hectares?", questiona Neves. O presidente da Associação dos Extratores de Quartzito do Médio Rio Grande, Jorge de Oliveira Penha, discorda da proposta de ampliação porque a paisagem natural que se pretende preservar já foi intensamente alterada nas três últimas décadas.

O grupo de trabalho interministerial criado para propor uma solução definitiva para a regularização do parque propõe um modelo de preservação flexível, como adiantou o superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Roberto Messias Franco. Segundo ele, as áreas de proteção não serão reduzidas, e seus limites serão definidos em consenso com prefeituras e produtores rurais. No entorno do parque seria criado um mosaico de áreas de preservação ambiental e reservas naturais que permitiriam atividades sustentáveis de agricultura e mineração.

Um dos objetivos principais é assegurar a preservação de nascentes de rios, inclusive a principal do Rio São Francisco, que ficou de fora da delimitação original do parque. Para fazer as desapropriações que se fizerem necessárias, poderão ser utilizados recursos provenientes de medidas de compensação ambiental de grandes empreendimentos. Além disso, pretende-se assegurar que as aquisições de terras para recomposição de reserva legal de fazendas privilegiem o entorno da Serra da Canastra.

De qualquer forma, o Ibama defende que a importância das atividades econômicas desenvolvidas na região seja considerada. "Nossa função é fazer o possível para proteger a natureza, o que não significa ser contra as atividades humanas", afirmou Roberto Messias. A nova delimitação do parque deve ser concretizada com a aprovação de um projeto de lei no Congresso Nacional. O projeto ainda não foi apresentado, mas o chefe do parque, Joaquim Maia Neto, adiantou que pelo menos 43 mil dos 200 mil hectares originalmente previstos devem ser excluídos.

Deputado apóia modelo híbrido de preservação

O deputado Antônio Carlos Arantes (PSC), que solicitou a reunião, defende o modelo híbrido, em que os terrenos de alta declividade sejam reconhecidos como áreas de preservação ambiental isoladas e sejam mantidas as atividades agropecuárias e de mineração. "Dá para fazer um belo projeto que garanta a preservação da vida e ao mesmo tempo, a geração de riquezas", afirmou.

O deputado Padre João (PT), que presidiu a reunião, reiterou a importância da preservação ambiental. Já o deputado Chico Uejo (PSB) criticou a demora na definição de regras claras que permitam o desenvolvimento da agricultura na Serra da Canastra. Para o deputado Getúlio Neiva (PMDB), a questão já está resolvida, uma vez que o projeto de lei para regulamentar os limites do parque vai ser apresentado em breve.

A comissão aprovou um requerimento do deputado Antônio Carlos Arantes para que as notas taquigráficas da reunião sejam enviadas à Câmara dos Deputados e aos ministérios da Casa Civil e do Meio Ambiente. Por sua vez, o deputado Chico Uejo teve aprovado seu requerimento solicitando à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável que os recursos dos procedimentos de compensação ambiental sejam destinados prioritariamente ao Parque Nacional da Serra da Canastra.

Projeto incentiva floricultura

Foi aprovado também parecer de 1o turno sobre o Projeto de Lei 708/07. De autoria do deputado Padre João, a proposta, em sua forma original, visa criar uma política de incentivo à floricultura e horticultura. O parecer do relator, deputado Chico Uejo, é pela aprovação com as emendas 1 e 2, da Comissão de Constituição e Justiça, que retiram do texto a previsão de incentivos à horticultura e a delimitação de prazo de regulamentação da futura lei pelo governo do Estado.

Em 2o turno, recebeu parecer favorável, aprovado, o Projeto de Resolução 361/07, que aprova alienação de terras devolutas. Já a Mensagem 49/07, que encaminha expediente para alienação de terras devolutas, recebeu parecer pela aprovação na forma de projeto de resolução apresentado.

Presenças - Deputados Padre João (PT), vice-presidente; Antônio Carlos Arantes (PSC), Chico Uejo (PSB) e Getúlio Neiva (PMDB). Também participaram da reunião o secretário de Meio Ambiente de São Roque de Minas, André Picardi; o chefe de gabinete da prefeitura de Alpinópolis, Cláudio Morais; e a representante da Associação Mineira de Defesa do Ambiente, Ana Kristemann Chiodi.

 

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