Crise na bataticultura deve ser enfrentada com
planejamento
A solução para o enfrentamento da crise da
bataticultura no Sul de Minas, Estado que responde por um terço
deste setor no Brasil, passa por um melhor planejamento da produção.
Esta foi uma das alternativas defendidas por produtores, técnicos e
autoridades de municípios da região que participaram de audiência
pública da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da
Assembléia Legislativa de Minas Gerais. A reunião foi realizada
nesta quarta-feira (13/6/07), na Associação Comercial de Pouso
Alegre, e teve a presença de cinco deputados.
Se Minas é o principal produtor de batata do País,
as cidades do Sul do Estado são responsáveis por 60% da produção.
Mas as mudanças constantes no preço do produto e a falta de
garantias ao produtor são alguns dos principais problemas
enfrentados, como apontou o prefeito de Pouso Alegre, Jair Siqueira.
O preço da batata chegou a ficar tão baixo, no início do ano, que
alguns produtores nem se deram ao trabalho de fazer a colheita,
relatou o presidente da Associação dos Municípios da Microrregião do
Médio Sapucaí (Amesp) e prefeito de Tocos do Moji, Antônio Rosário
Pereira.
Um dos motivos para a grande oferta do produto é a
falta de planejamento da produção, conforme explicou o diretor
técnico da Emater, Roberval Soares, que representou também a
Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. "A
bataticultura vive de momentos de crise e de euforia", enfatizou o
secretário da Associação dos Bataticultores do Sul de Minas
(Abasmig), José Daniel Ribeiro Rodrigues. Ele deu o exemplo do
início deste ano, quando os produtores ficaram motivados com os bons
preços praticados no mercado e aumentaram 15% da área plantada. O
problema, explicou, é que o consumo não acompanhou esse aumento na
mesma proporção, como é normal que aconteça com a carne.
Além da falta de informação dos pequenos produtores
e dos problemas de gestão da produção, outra dificuldade mencionada
pelo representante da Abasmig seria a liberação de crédito por parte
do Pronaf. Entre outros pontos, ele citou medidas, algumas que já
estão sendo feitas, que podem contribuir para a melhoria do setor,
como a efetivação de uma produção integrada, a criação de convênios
para treinamento técnico e o incentivo dos centros de referência
específicos para o setor, ligados às universidades.
Produto precisa ter valor agregado
Segundo o representante da Emater, Roberval Soares,
além da necessidade de pontuar os motivos do excesso da oferta no
mercado, é preciso agregar valor à produção, investindo, por
exemplo, em produtos minimamente processados - o que, nos grandes
centros, já é um mercado real. Soares afirmou, ainda, que estão
sendo feitos estudos para que a Emater possa atuar efetivamente na
assistência técnica visando à qualificação do crédito oferecido aos
produtores. Ele informou que os centros de inteligência são uma
preocupação do governo para agregar as informações da cadeia
produtiva, bem como a garantia da efetiva participação da sociedade
civil na formação das câmaras técnicas.
O superintendente regional do Banco do Brasil em
Pouso Alegre, Valcy Lopes Garcia, afirmou que a instituição faz um
acompanhamento do crédito liberado para os agricultores e uma
negociação desses valores.
Já a professora Antônia Reis Figueira, responsável
pelo Centro de Indexação de Vírus de Batata em Minas Gerais, ligado
à Universidade de Lavras, pediu apoio aos deputados para que haja
maior articulação política no trabalho desenvolvido pelo centro, que
possui boa estrutura mas está subutilizado. Ela afirmou, ainda, que
houve um retrocesso na certificação do produto desde quando o
Instituto Mineiro de Agricultura deixou de estar à frente do
processo, por determinação do Ministério da Agricultura.
Deputados pedem criação de câmara setorial
Os deputados aprovaram requerimentos, de autoria da
comissão, pedindo o envio de ofício ao governador e ao Secretário de
Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento pedindo a criação de
uma câmara técnica setorial especializada em bataticultura, no
âmbito do Conselho Estadual de Política Agrícola. A comissão também
aprovou o envio de ofício ao ministro da Agricultura pedindo a
transferência, mediante convênio a ser firmado com o Estado, das
atividades de certificação de batatas para o IMA; e outro ao
secretário de Estado da Agricultura, pedindo empenho na assinatura
desse convênio.
O autor do requerimento pela reunião, deputado
Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), afirmou que todos os pontos discutidos
terão encaminhamentos na Assembléia. Ele lembrou que o setor da
bataticultura é fonte de riqueza e desenvolvimento da região,
particularmente no que se refere à geração de emprego, e destacou
que 90% dos 2.500 produtores da região são de pequenas propriedades.
O presidente em exercício da comissão, deputado
Padre João (PT), reforçou a necessidade de agregar valor ao produto,
mencionando que há instrumentos para isso, como o cooperativismo e o
próprio Pronaf, que não está restrito à produção, mas pode abranger
a agroindústria. Ele também avalia que a responsabilidade pelo
crédito deve ser socializada.
Para o deputado Chico Uejo (PSB), já existem
modelos de produção bem sucedidos em outros países e regiões, que
devem ser seguidos. "No Brasil, temos ótimos técnicos em
instituições de pesquisa e universidades, mas falta uma ação
coordenada para a política agrícola", disse, apontando que a
responsabilidade é conjunta do Estado e dos produtores.
"Informação e profissionalização é tudo", resumiu o
deputado Antônio Carlos Arantes (PSC), que alertou quanto aos
altíssimos custos de produção e à falta de incentivo no agronegócio.
Já o deputado Carlos Mosconi (PSDB) lembrou que crises na
bataticultura não são novidades, mas a diferença é que hoje o setor
está mais organizado, com a união de produtores e a participação de
órgãos públicos e universidades.
Presenças - Deputados Padre
João (PT), presidente em exercício; Antônio Carlos Arantes (PSC);
Chico Uejo (PSB); Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) e Carlos Mosconi
(PSDB).
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