Parlamentares pedem abertura do Livro Negro da ditadura
militar
A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais aprovou requerimento, na reunião desta
quarta-feira (13/6/07), que pede envio de cópia do chamado Livro
Negro do Terrorismo no Brasil, produzido pelo Exército
Brasileiro sobre o período da ditadura, ao Arquivo Público Mineiro.
A intenção dos deputados é expor à sociedade o documento das Forças
Armadas, que está em posse do jornalista Lucas Figueiredo, contendo
os arquivos secretos que tratam do desaparecimento de 23 presos
políticos daquele período. A proposição foi aprovada durante a
audiência pública da comissão, que debateu a série de reportagens do
jornal Estado de Minas, publicada em abril deste ano, sobre os
documento relativos à atuação do Exército durante a ditadura
militar.
Segundo Lucas Figueiredo, autor das reportagens, a
concepção das matérias teve início em 2001, quando ele teve
conhecimento da existência do chamado "Livro Negro". A partir disso,
ele iniciou uma série de entrevistas com militares que teriam
participado das supostas sessões de tortura e assassinatos de presos
políticos, na década de 60. De acordo com o ele, o documento, que
foi obtido em 2006, contém verdades e difamações sobre os
desaparecidos no período e, para que as reportagens fossem
produzidas, foi preciso ser feita uma investigação mais aprofundada
sobre o que realmente havia acontecido. Para ele, as Forças Armadas
têm o interesse em abrir todos os chamados arquivos secretos à
sociedade, mas falta atitude por parte do poder civil. "O governo
está passivo, assim como a sociedade organizada. Acredito que todos
nós temos responsabilidade e devemos pressionar para que as verdades
sobre o período sejam reveladas", disse.
Lucas Figueiredo defendeu ainda a abertura do
"Livro Negro", desde que haja responsabilidade, uma vez que diversas
pessoas são citadas e difamadas sem provas. "É preciso ter
maturidade para interpretarmos o que está escrito neste material,
que não é um documento oficial. Ainda não o disponibilizei na
internet, por entender que a identidade de quem quer ser preservado
deve ser respeitada", ponderou.
Os deputados Durval Ângelo (PT) e Ruy Muniz (DEM)
elogiaram o material produzido pelo jornalista e reafirmaram a
necessidade da abertura dos documentos produzidos pelo Exército como
forma de defesa dos Direitos Humanos e da democracia no Brasil. "As
liberdades democráticas estão em risco neste País. Para construirmos
um novo ideal de justiça social, temos que resgatar essas
experiências, para sensibilizarmos as novas gerações e, assim,
preservarmos nossa memória política" afirmou Durval Ângelo.
Convidados questionam jornalista sobre divulgação
do documento
A integrante do Instituto Helena Grecco de Direitos
Humanos e Cidadania, Heloísa Grecco, reforçou a importância da
publicação da série de reportagens, como forma de divulgação da luta
pelo resgate da memória dos desaparecidos do período da ditadura.
Ela, no entanto, discordou do jornalista Lucas Figueiredo, quando
afirmou que é preciso cuidado com o livre acesso aos documentos.
Para ela, há uma privatização de arquivos que são públicos e que a
sociedade tem o direito previsto em constituição de livre acesso à
informação. Citando o exemplo do projeto "Brasil Nunca Mais", que
trata das ações do Exército naquele período e foi disponibilizado
não só no País, mas em todo o mundo, disse: "Esse livro é um
documento oficial sim, afinal foi feito por meio de verbas públicas.
Acho que a sociedade tem o direito à verdade e o encaminhamento para
o Arquivo Público Mineiro é uma boa medida", concluiu.
A representante da Comissão de Anistiados Políticos
em Minas Gerais, Gilse Consenza, fez coro às palavras de Heloísa
Grecco e acrescentou que o resgate à memória é um direito da
sociedade e uma necessidade para a construção da democracia. Para
ela, se a luta fosse apenas pelo direito dos familiares de
enterrarem dignamente seus entes queridos, ela já seria grande o
suficiente, mas é a defesa pela soberania da sociedade que está em
discussão.
O deputado Ruy Muniz também defendeu o acesso aos
arquivos, entendendo que, em uma sociedade democrática, todos têm
direito à livre interpretação de documentos públicos. "O livro é a
versão dos assassinos e todos nós temos o direito de concluir o que
é ou não verdade", afirmou.
Requerimentos - Na
reunião, foram aprovados ainda outros dois requerimentos de autoria
do deputado Ruy Muniz, que pedem envio de manifestação de apoio à
família do menino Sidney Júnior, de 10 anos, que estava desaparecido
em Montes Claros, e cujo corpo foi encontrado com supostas marcas de
abuso sexual; e a realização de visita ao hospital construído pela
Loja Maçônica "Grande Oriente", em Ribeirão das Neves, que teria
sido inaugurado no ano de 2005, mas até hoje não prestaria serviços
de saúde àquela comunidade.
Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT) e Ruy
Muniz (DEM).
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