Comissão apura omissão de socorro a rapaz que saltou muro de boate

Um rapaz de 20 anos, tentando saltar o muro de uma boate em Nova Lima, embaraçou-se na cerca elétrica, levou choque e...

12/06/2007 - 00:00
 

Comissão apura omissão de socorro a rapaz que saltou muro de boate

Um rapaz de 20 anos, tentando saltar o muro de uma boate em Nova Lima, embaraçou-se na cerca elétrica, levou choque e caiu de uma altura de cinco metros, sofrendo ferimentos graves. Acusações de omissão de socorro, de condução ilegal para um quartel da PM e de truculência por parte da segurança da boate chegaram ao conhecimento da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, que realizou audiência pública para apurar as denúncias na tarde desta terça-feira (12/6/07), a requerimento do deputado João Leite (PSDB).

O rapaz é Caius Augustus de Campos Fernandes, que teve fissura craniana, luxação da clavícula e ruptura de estruturas do ouvido, podendo perder parte da audição. Compareceram à audiência todos os envolvidos no incidente: o pai do rapaz, Antônio Fernandes da Silva, que apresentou denúncia no "pinga-fogo" da comissão em reunião anterior; os policiais militares que atenderam ao chamado, representante do resgate do Corpo de Bombeiros; o gerente e a proprietária da casa noturna e os policiais civis que cuidaram do inquérito.

O incidente ocorreu há 40 dias na boate Pueblo, um ponto de encontro de jovens nos domingos, em Nova Lima. Caius e seu amigo Vinícius Álvares de Oliveira foram à boate pela primeira vez, divertiram-se até depois da meia-noite e depois entraram na fila dos guichês para saldar suas contas individuais. A proprietária da boate, Lowany Bevilacqua, informou que Caius tomou nove doses de uísque e tinha uma conta de R$ 170 a pagar. Vinícius disse que perdeu o amigo de vista nos guichês, logo ouviu sirenes de alarme, houve um rápido blecaute e os seguranças correram para os fundos, dizendo que um rapaz havia saltado.

O gerente da Pueblo, Jackson Júnior Inácio, assegura que os seguranças nem chegaram a tocar no rapaz, mas se queixa de parte da imprensa da Capital que os teria acusado de agredir e lançar o rapaz por sobre o muro. Por uma trilha íngreme, o gerente relata que chegou ao local onde o jovem estava caído, já localizado pelos seguranças, e chamou a PM pelo telefone 190, e o resgate dos Bombeiros pelo 193, já que o acesso ao local era difícil. Vinícius chamou o Samu, por confiar mais no trabalho desses paramédicos. Eles atenderam à ordem de não tentar remover o ferido.

Omissão de socorro e condução para o quartel

O atendimento a Caius e o procedimento policial que se seguiu foram os assuntos que mereceram o maior interesse por parte dos deputados, já que o pai, Antônio Fernandes da Silva, mostrou-se indignado com a omissão de socorro. Segundo o major Ubiracy Tibirissa de Oliveira, subchefe do Corpo de Bombeiros, o ferido recusou-se a receber atendimento médico, e levantou-se sozinho da maca, dirigindo-se a pé para a viatura policial. Com a recusa, a equipe dos bombeiros se retirou.

Seguiu-se uma tentativa para receber o débito. Como nem ele, nem o amigo, tinham meios para pagar, o cabo PM Paulo Henrique Lima, chefe da equipe, decidiu conduzir Caius Augustus para a Delegacia de Nova Lima. O cabo Lima ressalta que, ao primeiro exame, o rapaz parecia ter ferimentos apenas superficiais e sangrava um pouco do ouvido. Foi conduzido sem algemas até a delegacia. No entanto, como o computador estava fora do ar, preferiu levá-lo até o quartel da PM para lavrar o boletim de ocorrência.

Os deputados fizeram vários questionamentos a essa altura dos relatos. João Leite havia recebido denúncia de que o cabo Lima havia tomado a iniciativa de dispensar o resgate. Este negou tal iniciativa, e afirmou que a própria vítima havia dispensado. No entanto, tal recusa deveria ser lavrada e assinada, e ninguém viu Caius Augustus assinando tal papel, inclusive porque se queixava muito de dores no ombro.

Durval Ângelo, por sua vez, criticou expressamente a decisão do militar de conduzir a vítima até o quartel. "Essa medida é ilegal e proibida pelo manual de direitos humanos da Polícia Militar. O policial pode ser até acusado de seqüestro do cidadão, e a corporação ser responsabilizada por seqüelas que ele tiver enquanto estiver no quartel. Defeito no computador não pode ser usado como justificativa para esse desvio. Que o senhor lavre o boletim à mão, mas que o faça numa delegacia da Polícia Civil", explicou o deputado.

Comando garante que não vai acobertar excessos

O major Sebastião Olímpio Emídio Filho, comandante da 1ª Companhia Independente de Nova Lima, disse que a PM não tem nenhum interesse em acobertar excessos ou omissões de policiais, e que as normas disciplinares são as mesmas para a PM e para os bombeiros. Realçou, no entanto, que o conduzido não acusou os PMs de agressão ou maus-tratos.

Sebastião Fernandes insistiu na questão da omissão de socorro, com o argumento de que uma pessoa alcoolizada, que acaba de ser eletrocutada e cair de cinco metros de altura, não é senhor de sua razão para recusar atendimento médico. Os três policiais civis de Nova Lima que estão conduzindo o inquérito sobre o acidente também prestaram depoimento sobre as condições em que o rapaz chegou até eles. A delegada Silvânia Ribeiro da Silva disse que ainda falta ouvir os militares.

Ao final da reunião, os deputados decidiram convocar outra reunião para esclarecer os pontos que ficaram obscuros da investigação: se o rapaz foi ou não coagido a saltar pelos seguranças; se a empresa de segurança está ou não registrada na Polícia Federal; se Caius Augustus assinou ou não o protocolo de recusa do atendimento pelo Resgate; por que a equipe do Resgate não soube avaliar seu estado e levá-lo ao hospital mesmo contra sua vontade. Requerimentos de convocação de pessoas capazes de esclarecer esses pontos, e de envio das notas taquigráficas da reunião foram aprovados.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; e João Leite (PSDB). Além dos citados acima, compareceram o delegado da 47ª Delegacia Seccional de Nova Lima, Sérgio da Silva; o inspetor de detetives Celso Batista Ferreira; o soldado PM Edney Santiago de Souza.

 

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