Sindicalistas acusam PBH de desmantelar organização
sindical
Lideranças sindicais e associativistas da
Prefeitura de Belo Horizonte compareceram a audiência pública da
Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas
Gerais, na tarde desta segunda-feira (11/6/07) para reclamar da
coerção de suas atividades, da retirada de direitos e,
principalmente, da retenção indevida dos repasses da contribuição
sindical paga voluntariamente pelo servidor. O requerimento foi do
deputado João Leite (PSDB), que criticou a ausência recorrente da
Prefeitura quando é convidada para discutir na Assembléia, deixando
o debate sem o contraditório.
Sem ninguém para defender as atitudes da
Prefeitura, o presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT)
leu ofício do secretário municipal adjunto de Recursos Humanos,
Márcio Almeida Dutra, dando conta de que os repasses previstos no
decreto 12.263/05 estariam sendo fielmente observados, mas
ressalvando que as contribuições facultativas dependem de permissão
assinada pelo servidor.
A leitura do ofício acirrou os ânimos da platéia e
indignou o deputado João Leite, para quem um decreto não pode
afrontar a Lei Orgânica do município. Essa mesma lei, em seu artigo
58, permite a disponibilização de servidores para atividades
sindicais e associativas, o que também estaria sendo restringido. "A
prática de governar por decretos ou medidas provisórias é
antidemocrática e exclui o necessário debate nos parlamentos",
atacou o deputado. Neide de Freitas Brum, presidente da Associação
dos Fiscais Municipais, disse que o decreto 12.263 é uma aberração
jurídica, e que sua associação trabalha amparada por liminares.
"Estamos há mais de dez anos sem reajuste salarial, e isso implica
num endividamento crescente do servidor", disse ela.
Desmantelamento da organização sindical
Robson Itamar, do Sindicato dos Servidores Públicos
Municipais de Belo Horizonte (Sindibel), denunciou que a Prefeitura
utiliza a margem consignada de endividamento do funcionário para
coagi-lo a desfiliar-se do sindicato. "Estamos sofrendo um ataque à
liberdade de organização sindical, por parte do governo de um
partido que se gaba de ter combatido a ditadura, mas que aprendeu
com ela a aplicar os métodos autoritários do regime militar", acusou
o sindicalista.
Robson Torrezani, do Sind-Rede, relatou que seu
sindicato tem nove funcionários que estão sem receber sequer as
passagens de ônibus para ir trabalhar, e que o sindicato não tem
como demiti-los por não poder arcar com o acerto. "Nossa situação é
de penúria. No início de sua gestão, o prefeito Pimentel prometeu
quebrar a espinha do nosso sindicato. Agora parece que resolveu
ampliar para todos", ironizou.
A questão da liberação de servidores para
atividades sindicais, garantida pela Lei Orgânica, também foi
denunciada durante a audiência Pública. Foram solicitados 18
servidores para fiscalizar a educação em 180 escolas da cidade, mas
a Prefeitura teria liberado apenas sete, antes mesmo que a Câmara
Municipal votasse lei a respeito. Depois, a Prefeitura teria voltado
atrás e cancelado até mesmo os sete.
Entre denúncias de perseguição política e
reiteradas negativas do prefeito de receber os sindicalistas, surgiu
a acusação de assédio moral sobre os contrários à administração. Um
diretor do Sindibel revelou que Pimentel teria vetado na íntegra um
projeto de lei da vereadora Elaine Matozinhos tratando de assédio
moral nas repartições. Uma das vítimas desse assédio estava
presente: o guarda municipal Anderson Acássio, que comunicou ter
sido afastado de suas funções sob acusação de inidoneidade moral,
mas que a verdadeira razão seria sua atividade sindical e de
porta-voz da categoria.
Comissão vai procurar vereadores de direitos
humanos
Acássio denunciou que a Guarda Municipal foi
concebida como uma força civil, mas era comandada por militares de
carreira, e inclusive comunicou aos deputados que havia percebido a
presença de um desses coronéis na platéia da reunião, munido de
gravador, possivelmente para intimidar os denunciantes. O deputado
João Leite disse que não havia necessidade de "grampear" uma reunião
aberta, e pediu ao presidente Durval Ângelo que enviasse as notas
taquigráficas da reunião ao prefeito Pimentel. "Se tiverem que
processar algum de vocês, que processem também este deputado",
ofereceu-se Leite.
Antes de encerrar a reunião, Durval Ângelo explicou
a limitação dos poderes da Comissão de Direitos Humanos para ajudar
na luta. "Aqui é um fórum de discussão, de divulgação da sua luta.
Nossa Comissão sempre foi considerada uma insubordinada dentro da
Assembléia. Infelizmente, estamos vivenciando uma época de
estreitamento do significado da palavra democracia na vigência
dessas políticas liberais. A Câmara Municipal tem poder maior para
pressionar a administração, e eu gostaria de designar o deputado
João Leite para procurar esses vereadores para agendarmos algo em
conjunto. Apoiamos sua luta e sugerimos o caminho da interlocução
com os pais de alunos, com os usuários do sistema de Saúde, para
demonstrar à Prefeitura que vocês não falam apenas para uma parte de
sua categoria, mas para toda a sociedade".
Os sindicalistas informaram, ao final da reunião,
que planejam realizar um ato público às 18 horas desta terça-feira,
na Praça da Estação, e depois acampar diante da Prefeitura, já que a
administração municipal se recusa a dialogar.
Presenças: Deputados Durval
Ângelo (PT), presidente; João Leite (PSDB).
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