Debate sobre educação mobiliza estudantes no Parlamento Jovem
2007
Uma preparação de três meses, em que universitários
e alunos de ensino médio se dedicam ao estudo de um problema,
propondo políticas públicas para modificá-lo. Esse é o Parlamento
Jovem, programa feito em parceria da Assembléia Legislativa de Minas
Gerais, por meio da Escola do Legislativo, com a PUC Minas, por meio
do Curso de Ciências Sociais, e que terá sua principal ação nesta
segunda-feira (11/6/07). A partir das 13 horas, os 130 estudantes
votarão, no Plenário, 32 propostas sobre o tema deste ano, que é
"Educação: inclusão e qualidade". As propostas aprovadas serão
encaminhadas à Comissão de Participação Popular da Assembléia, com
sugestões de políticas públicas a serem implementadas.
O Parlamento Jovem contribui para melhorar a
formação crítica dos participantes, ao lhes oferecer uma boa visão
sobre como é o desenvolvimento de um processo político. Essa é a
opinião da aluna de Ciências Sociais Carla Regina de Miranda, 20
anos, que participa do programa pelo segundo ano e, desta vez, será
a coordenadora da plenária final. "Acho que a atividade vai ocorrer
da melhor maneira possível, pois os meninos têm legitimidade para
falar do tema da educação. Eles estão preparados para os debates,
seguros e autônomos", afirma, referindo-se aos alunos do ensino
médio que os universitários monitoram.
Para a universitária, a atividade que não se
encerra com a plenária final. "Aqui estamos muito próximos do
processo político. Isso aguça a curiosidade. O ser humano precisa
fazer política para sobreviver, pois precisa sempre entrar em
acordo, ceder, reivindicar", pondera. Ela lembra que o programa é
positivo para a formação dos próprios universitários: "Como (futura)
cientista social, acrescenta-me muito perceber que eles vão
contribuir de formas diferentes para a sociedade. As teorias que
parecem abstratas na sala de aula são colocadas em prática no
Parlamento Jovem".
Tema envolveu os alunos durante três meses
O tema da atual edição do programa foi escolhido na
sessão de lançamento do programa, em 9 de março último, na PUC
Minas. Nos três meses que se seguiram, os alunos se reuniram em
grupos de estudo, atividades de capacitação, oficinas e uma mesa de
debate, para aprofundar o conhecimento do tema escolhido e de
assuntos ligados a ciência política, organização do Estado e
estrutura e funcionamento do Legislativo. Ainda nessa etapa, eles
identificaram propostas de ação para o poder público, que poderiam
contribuir para garantir a todos uma educação inclusiva e de
qualidade.
O aluno de Ciências Sociais e monitor Davidson
Thiago da Cruz, que participa do programa pela segunda vez, também
acredita que a discussão do tema será favorecida, por se tratar do
ambiente escolar. "Eles (os estudantes das escolas) têm propostas
muito fortes. Querem professores mais capacitados, uma escola que
faça sentido", avalia Davidson.
Os alunos das escolas públicas e particulares têm a
oportunidade de travar discussões aprofundadas, mudando conceitos e
compreendendo a importância do diálogo e do fazer político. Um
deles, Raphael Braga, 15 anos, aluno do 1o ano do ensino
médio do Colégio Frei Orlando, espera que a maioria das propostas
deste ano sejam aceitas, em uma tentativa de que os problemas
sociais e de infra-estrutura das escolas sejam resolvidos. "Nós
discutimos política muito pouco, por isso o Parlamento Jovem mudou
os meus conceitos", afirmou.
"Vamos mostrar uma juventude inconformada
com a qualidade da educação e que quer mudar essa situação para
melhor. As reuniões preparatórias foram boas, todos conversaram
muito, e as pessoas eram muito amistosas", conta André Dell'Isola,
16 anos, aluno do 2o ano do ensino médio do Colégio Santo
Antônio. Victor Vinícius Gomes de Jesus, 18 anos, aluno do
3o ano do ensino médio da Escola Municipal Caio Líbano,
também espera uma plenária de qualidade, com entendimento entre as
escolas. "Eu e meus amigos conversávamos só sobre futebol; política
é um assunto novo para mim", disse.
Iniciativa é feita há quatro anos
Incentivar o exercício da cidadania entre os
alunos, a partir do debate de temas importantes e fortalecer a
democracia são alguns dos objetivos do programa, que permite que os
participantes tomem intimidade com a política. Na plenária final,
por exemplo, eles ocupam os assentos dos deputados e seguem os
mesmos procedimentos dos eventos institucionais da ALMG. O suporte
teórico e técnico aos estudantes é feito por servidores da Escola do
Legislativo e das Gerências-Gerais de Projetos Institucionais e de
Consultoria Temática da Casa, além de professores da PUC.
"Os jovens apreenderam melhor o funcionamento da
ALMG, quebrando o distanciamento entre o Legislativo e a sociedade",
considera o deputado André Quintão (PT), presidente da Comissão de
Participação Popular. Os universitários que se interessam em
participar do projeto como monitores são selecionados por uma equipe
formada por técnicos da Escola do Legislativo e professores da PUC.
Eles recebem orientação e treinamento na área de formação política,
que é o conhecimento do que é democracia, cidadania e Poder
Legislativo; e também técnica, ou seja, relativa ao tema discutido.
Paralelamente, é feita uma mobilização nas escolas que vão
participar do projeto e que são responsáveis por dar as primeiras
sugestões de temas a serem debatidos.
"O que mais me marca é o envolvimento dos
meninos. Há um grande interesse em mudar a realidade deles", observa
Jurani Garcia, um dos servidores da ALMG que atua no programa.
Jurani chama a atenção para o fato de que, com as discussões, os
estudantes acabam praticando o exercício do jogo democrático e
conhecendo suas regras. "Foi uma atividade nova na forma do
protagonismo juvenil, pois não houve intervenção dos professores;
uma experiência em que eles aprenderam a aprender: esse foi o grande
legado desse projeto", completa a professora de História do Colégio
Frei Orlando, Verenice Lacerda. "As escolas participam do projeto
por escolha própria, então têm outro tipo de envolvimento", avalia
Regina Medeiros, professora da PUC Minas.
Maioridade penal, drogas e ética já foram
discutidos
A primeira edição do Parlamento Jovem, em 2004,
teve a participação de 77 alunos, que simularam uma audiência
pública da Comissão de Participação Popular. Atuaram como
representantes de organizações da sociedade civil, deputados e
assessores parlamentares, debatendo proposições legislativas sobre
dois temas: "Cotas para minorias nas universidades" e "Ações
preventivas contra o uso de drogas". Ao final dos debates, os alunos
aprovaram moções pedindo a criação de um fórum técnico para debater
cotas no ensino de terceiro grau e cursos técnicos e políticas de
prevenção ao uso de drogas; a continuidade do Parlamento Jovem como
ação anual e a criação do observatório estadual para dos trabalhos
legislativos por parte dos estudantes.
Em 2005, o programa teve como tema central "Redução
da maioridade penal", dividido em três subtemas: Redução da idade
penal, Políticas públicas e Medidas socioeducativa. A plenária final
durou dois dias teve a participação de centenas de votantes, que
simularam a realização de um seminário legislativo. Os grupos de
trabalho apresentaram mais de 80 propostas. A mais importante delas
pedia a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos e foi
rejeitada pela grande maioria, que pediu a valorização e plena
aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente, além de medidas
preventivas da criminalidade juvenil e iniciativas de
ressocialização dos infratores.
Em 2006, "Ética na vida pública e cidadania" foi o
tema escolhido. Na plenária final, os alunos sugeriram a criação de
políticas de incentivo à formação de cooperativas de trabalho
voltadas para a preparação profissional de jovens e a divulgação,
nos meios de comunicação de massa, da Comissão de Participação
Popular.
Interiorização - A
Escola do Legislativo e a PUC Minas já realizaram uma edição-piloto
do Parlamento Jovem no interior, com a participação de quatro
escolas das cidades de Pains e Arcos, no Centro-Oeste de Minas. A
plenária final foi em novembro de 2006, no auditório da PUC Minas
Arcos. Os participantes avaliaram propostas sobre o tema "Educação e
trabalho".
Programa se aperfeiçoa a cada ano
Para o gerente-geral da Escola do Legislativo,
Alaôr Messias Marques Júnior, " Parlamento Jovem não só se
consolidou mas tem crescido a cada edição". A coordenadora do
programa pela Escola do Legislativo, Eugênia Kelles, concorda com
Alaôr. "Em cada ano, as regras sobre a dinâmica do trabalho são
rediscutidas. Avaliamos quantas propostas serão levadas para a
plenária final, por exemplo. Isso é fundamental porque cada grupo
enxerga o Parlamento Jovem de uma forma", diz.
Resultados - As sugestões feitas pelos
participantes do Parlamento Jovem são encaminhadas à Comissão de Participação Popular e
podem ser acatadas, resultando na apresentação de ações
legislativas, como requerimentos e projetos de lei de autoria da
comissão, que tramitarão no Legislativo, e sugestões de audiências
públicas e reuniões. Um exemplo é o Projeto de Lei (PL) 578/07,
sugerido em 2006 pelos alunos, que aplica sanção à empresa
participante do Programa Primeiro Emprego que descumprir a
legislação que rege a matéria, principalmente no que se refere à
jornada de trabalho.
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