Comissão pede providências relativas a morte em Ouro
Preto
Requerimentos pedindo providências quanto ao
suposto envolvimento de policiais militares na morte de Gil Magno da
Cruz, de 22 anos, em Ouro Preto, foram aprovados na reunião da
Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas
Gerais, realizada nesta quinta-feira (31/5/07) para obter
esclarecimentos sobre a morte do jovem, ocorrida em 27 de março
deste ano. O deputado Padre João (PT), autor do requerimento para
realização da audiência, alertou para o aumento de denúncias contra
policiais e defendeu que esses casos não sejam tratados como
episódios pontuais, embora tenha ponderado não ser o caso de
generalizar também.
Elza da Cruz relatou que, no dia 26 de março, sua
filha chegou em casa dizendo que policiais procuravam por rapazes
que teriam abordado a amante de um deles. A viatura da Polícia
Militar estaria percorrendo bairros vizinhos ao que Elza morava. Por
volta de 22 horas, duas jovens que voltavam da escola passaram por
Gil Magno, que as ultrapassou. As jovens disseram ter visto
"Maguinho" com as mãos levantadas e ouviram o primeiro tiro e os
gritos do rapaz. Depois, elas teriam saído correndo e ouvido outros
tiros. De acordo com depoimentos feitos aos deputados por conhecidos
de Maguinho, as duas jovens seriam as únicas testemunhas a dar
depoimentos contando tudo o que viram. As outras testemunhas ouvidas
estariam sendo intimidadas pelo policial que comanda as
investigações, capitão Anderson Coelho.
A mãe de Maguinho também disse que os policiais não
permitiram que ela chegasse perto do filho e afirmaram que ele havia
sido atingido de raspão na perna. Na Unidade de Pronto-Atendimento
(UPA) de Ouro Preto, ela também teria sido impedida de ver o filho,
que foi removido para o Hospital João XXIII, em Belo Horizonte. Lá,
o rapaz foi operado para a retirada da bala que estava alojada na
perna e a cirurgia durou toda a tarde. Elza da Cruz disse que o
filho foi atingido na nuca, nas costas, nas nádegas e na perna. "O
policial disse que houve um confronto frontal, mas os tiros o
atingiram pelas costas", questionou Elza da Cruz. Segundo ela, Gil
Magno era usuário de drogas, mas não era agressivo e nunca possuiu
arma.
Ela também informou que, na UPA, disseram ter
encontrado pedras de crack na cueca de Gil o que, em um primeiro
momento, ela aceitou, porque sabia que o filho usava drogas. No
entanto, segundo Elza, somente em Belo Horizonte, perceberam que ele
havia sido atingido nas nádegas. "Como podem ter encontrado o crack
na cueca dele e não terem visto que ele estava ferido nas nádegas?",
duvidou. Elza Cruz disse ainda que o Capitão Anderson teria tentado
levá-la a afirmar em seu depoimento à polícia que houve erro médico
no atendimento ao rapaz. Isso porque a cirurgia de Gil foi adiada em
algumas horas por ele estar perdendo muito sangue.
Outra versão - De acordo
com o deputado Durval Ângelo (PT), o comandante da 8ª Companhia
Independente da Polícia Militar de Minas Gerais, major Marco Antônio
Janeiro, enviou à comissão relatório com uma versão diferente para a
morte de Gil Magno. "O inquérito ainda nem terminou e o major já
tirou suas conclusões", criticou o deputado.
O vereador de Ouro Preto, Wanderley Kuruzu disse
aos deputados que os fatos levam a crer que o jovem foi mesmo
executado pelo cabo Geraldo Magela Ribeiro e pelo Sargento Ronilson
Alves de Magalhães. Disse ainda que, no dia seguinte ao episódio que
levou Gil Magno à morte, os policiais voltaram ao bairro arrancando
cartazes com mensagens de paz que os moradores haviam colocado nas
janelas. "Eles sequer foram afastados", comentou.
"Esses policiais estão constantemente envolvidos em
denúncias feitas pela população de Ouro Preto", afirmou o presidente
da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Ouro Preto,
vereador Leonardo Edson Barboza. Segundo ele, muitos casos não foram
levados adiante porque as vítimas tinham alguma pendência com a
Justiça, o que intimidava a família a fazer a denúncia. "Ouro Preto
tem mais de 70 policiais e as denúncias são sempre contra os
mesmos", alertou. O vereador também contou aos deputados que um
revólver cromado, calibre 32, sempre é usado para dizer que as
vítimas estavam armadas. "Eles acham que não vamos perceber que é
mesma arma", afirma. Leonardo Barboza afirmou ainda que o major
Janeiro blinda seus policiais. "Ele não ouve a comunidade. Nunca
houve uma resposta dele para as denúncias e nem mesmo
justificativas", concluiu.
"É a própria polícia que está instaurando a pena de
morte em Ouro Preto, aproveitando da fragilidade das pessoas
envolvidas em alguma ilegalidade", afirmou o deputado Padre João.
Carla da Cruz, irmã da vítima, pediu proteção para a família dela e
para as jovens que testemunham a favor de Gil Magno.
O deputado João Leite (PSDB) manifestou sua
esperança de que a constituição da Guarda Municipal de Ouro Preto
seja feita a partir de um novo modelo mais humanitário e que promova
a segurança das famílias e não atue contra elas.
Deputados aprovam requerimentos sobre o caso de
Ouro Preto
O deputado Durval Ângelo (PT) apresentou
requerimento pedindo o envio das notas taquigráficas da reunião e de
ofício ao procurador-Geral de Justiça do Estado, para que se obtenha
esclarecimentos sobre a morte de Gil Magno da Cruz. O deputado pede
ainda que os policiais militares Geraldo Magela Ribeiro e Ronilson
Alves de Magalhães, acusados de envolvimento no caso, sejam
afastados.
Em conjunto com os deputados Padre João e João
Leite (PSDB), Durval Ângelo também pediu, por meio de requerimentos,
o encaminhamento de relatório da Comissão da Direitos Humanos da
Câmara Municipal de Ouro Preto sobre o mesmo caso, ao Colegiado das
Corregedorias do Sistema de Defesa Social do Estado, que se reunirá
no próximo dia 5. Os deputados também solicitaram o envio de ofício
ao secretário de Estado de Defesa Social pedindo providências para
garantir proteção à família da vítima e também das testemunhas do
caso. Outro requerimento aprovado, dos mesmos deputados, solicita ao
comandante-Geral da Polícia Militar e a Corregedoria da PM o
afastamento do capitão Anderson Maurício Coelho do comando do
inquérito e que seja designado um oficial da Polícia Militar de Belo
Horizonte para conduzir o trabalho de investigação.
Comissão analisa dois projetos
A Comissão de Direitos Humanos aprovou pareceres do
deputado João Leite favoráveis a dois projetos de lei. O PL 749/07,
do deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), que tramita em 1º turno,
estabelece normas relativas a procedimentos básicos para a cremação
de cadáver em âmbito estadual e recebeu parecer pela aprovação com
duas emenda apresentadas pelo relator. A questão foi normatizada
pela Lei Federal 6.015, de 1973, que, no parágrafo 2º do artigo 77
estabelece que somente será feita a cremação quando houver
manifestação anterior, no interesse da saúde pública e se o atestado
de óbito houver sido firmado por dois médicos ou por um
médico-legista. No caso de morte violenta, somente depois da
cremação ser autorizada pela autoridade judiciária.
O PL 749/07 determina que a cremação se dará
mediante apresentação de laudo firmado por médico-legista, com a
determinação da causa da morte e a atestação da inexistência de
sinais de ação criminosa ou suicídio. A emenda nº 1 tem o objetivo
de adequar o projeto estadual à norma federal, possibilitando que o
laudo seja firmado por dois médicos que não o legista. A emenda nº
2, no mesmo sentido, estabelece a obrigatoriedade de autorização
judicial para a cremação quando houver suspeita de ação criminosa.
O PL 794/07, do deputado Célio Moreira (PSDB), que
tramita em turno único, institui o dia 25 de março como Dia Estadual
do Nascituro. Segundo o parecer, essa data é comemorada
internacionalmente e seu objetivo é suscitar na sociedade o
reconhecimento do sentido e valor da vida humana, direito que
precisa ser protegido. "Trata-se de dia especial em homenagem ao
novo ser humano, que, embora tenha apenas vida intra-uterina, possui
direito a proteção e, principalmente, o de nascer", afirmou o
relator em seu parecer.
Pinga-fogo - Também foram aprovados sete
requerimentos, além dos já citados, pedindo providências das
autoridades competentes para a solução de casos denunciados por
participantes da comissão. Ainda foram aprovados outros
requerimentos:
* Do deputado Durval Ângelo para que sejam
realizadas reuniões destinada à audiência pública conjunta com a
Comissão de Educação, para obter esclarecimentos sobre a forma como
estudantes universitários beneficiados pelo Prouni têm sido
tratados, uma vez que há suspeitas de falta de transparência no
gerenciamento do programa, falta de controle social e, até mesmo,
discriminação em relação aos bolsistas; e em Janaúba, para obter
esclarecimentos sobre denúncia de tentativa de homicídio ocorrido na
Comunidade Quilombola de Brejo dos Crioulos. Requer, ainda, que
sejam debatidos casos de desocupação forçada de trabalhadores
rurais, em casos de conflitos agrários ocorridos no estado.
* Do deputado Durval Ângelo, para que seja agendada
a participação da Comissão de Direitos Humanos no evento
comemorativo dos 30 anos de ocorrência do III Encontro Nacional de
Estudantes, a se realizar no próximo dia 4 de junho, às 19 horas, no
Diretório Acadêmico Alfredo Balena, da Faculdade de Medicina da
UFMG;
* Do deputado Durval Ângelo, solicitando ao juiz da
Vara de Execuções Criminais de Santa Luzia, a transferência do preso
José de Souza Oliveira, da 1ª Delegacia Distrital do Palmital para a
Associação de Proteção e Assistência aos Condenados de Santa Luzia;
* Dos deputados Durval Ângelo e João Leite, que
requer seja convidado o chefe da Polícia Civil do Estado a
participar de reunião da comissão, para prestar esclarecimentos
sobre proibição de visitas desta comissão a carceragens de
delegacias no Estado.
Presenças - Deputados
Durval Ângelo (PT), presidente; João Leite (PSDB), Padre João (PT),
Antônio Júlio (PMDB) e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB). Além dos
convidados citados na matéria, também participou da reunião o
vice-prefeito de Ouro Preto, Renato Moreira Figueiredo.
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