Estudos não indicam viabilidade de barragem no Rio das Velhas

Estudos feitos pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) não indicam aind...

30/05/2007 - 00:01
 

Estudos não indicam viabilidade de barragem no Rio das Velhas

Estudos feitos pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) não indicam ainda a viabilidade de construção da barragem de Santo Hipólito, localizada na bacia do Rio das Velhas. A informação foi trazida pelo engenheiro civil da Codevasf, Ari de Menezes, que participou de audiência pública da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, nesta quarta-feira (30/5/07), em Curvelo. Também estiveram presentes prefeitos e trabalhadores rurais da região do Rio das Velhas, que reclamaram da falta de informações sobre as obras e do seu impacto negativo na economia local.

Ari de Menezes afirmou que os estudos ainda se encontram em fase inicial e não há como dar uma resposta à população se a barragem será realmente construída e quais as terras podem ser inundadas. Segundo ele, pelo contrário, no caso da barragem de Santo Hipólito, os resultados por enquanto são desfavoráveis à construção da barragem, pois indicam a possibilidade de gerar forte impacto ambiental na região. Ari de Menezes ainda informou que a conclusão dos estudos de viabilidade da barragem depende de liberação de recursos orçamentários, sendo que somente deve acontecer no primeiro semestre de 2008.

"A comunidade não deve se sentir inibida no desenvolvimento de suas atividades econômicas. Se for considerada viável, não há nenhuma possibilidade de a obra ser realizada de repente", ressaltou Ari de Menezes. O engenheiro civil também afirmou que se a Codevasf concluir pela viabilidade da realização da obra a população local e a sociedade civil organizada serão chamadas para discutir o projeto.

Barragens - As análises feitas pela empresa Ecoplan Engenharia, contratada pela Codevasf, indicam a possibilidade de construção de cinco barragens: três no Rio Paracatu, uma no Urucuia e outra no Rio das Velhas. Segundo o consultor de engenharia da empresa, Willi Bruschi, o projeto de construção das barragens faz parte do programa de regularização da vazão do Rio São Francisco do governo federal e tem como objetivo otimizar o aproveitamento do potencial hídrico da região. Ele explicou que as três bacias foram escolhidas pelo governo federal para a construção das barragens, porque são os rios afluentes do São Francisco que apresentam a maior incidência de chuva.

De acordo com Willi Bruschi, em relação à barragem de Santo Hipólito, estão sendo feitos estudos de campo, com a avaliação do patrimônio histórico existente na região e da extensão de vegetação nativa e terras produtivas que seriam afundadas. Segundo ele, a previsão é de que a barragem de Santo Hipólito poderá inundar uma área de mais de 17 mil hectares, atingindo terrenos de sete municípios da região, entre eles, Curvelo. No entanto, o consultor afirmou que os estudos iniciais estão indicando que a vazão de água no rio São Francisco resultante da construção da barragem seria pequena para justificar a realização da obra.

Prefeitos temem prejuízos sociais e econômicos

A possibilidade de construção da barragem de Santo Hipólito estaria inibindo e prejudicando o desenvolvimento da economia local. Essa foi a opinião dos prefeitos dos municípios de Curvelo, Presidente Juscelino, Monjolos e Inimutaba, que participaram da audiência pública. O prefeito municipal de Inimutaba, Gilson Carvalho de Sales, afirmou que, após ter tomado conhecimento da possibilidade de construção da barragem, os empresários e produtores rurais pararam de investir na região. "Ninguém mais vende ou compra terras na região", ressaltou.

Já o prefeito municipal de Presidente Juscelino, Ricardo de Castro Machado, cobrou da Codevasf e da Ecoplan a divulgação das informações sobre a barragem. Segundo ele, a falta de informação está gerando grande preocupação na população local, que teme a inundação de terras férteis. O prefeito municipal de Curvelo, Maurílio Soares Guimarães, disse que a comunidade está preocupada com as conseqüências da construção da barragem.

Transposição - O coordenador-geral do Projeto Manuelzão, Apolo Heringer Lisboa, questionou a necessidade de realização da obra. Ele afirmou que as barragens irão gerar pouca energia elétrica para a região. Para ele, o governo federal está interessado na construção das barragens, pois, ao aumentar a vazão de água no Rio São Francisco, elas servirão para viabilizar o projeto de transposição do rio.

Segundo Apolo Heringer, se construída, a barragem vai acabar com a cheia anual do Rio das Velhas, que é responsável pelo desassoreamento da bacia, além ser fundamental para a reprodução dos peixes. "O projeto de construção da barragem não é uma reivindicação da população e não atende a interesses locais", destacou.

Deputados defendem participação da comunidade local

Durante os debates, os deputados Padre João (PT), vice-presidente da comissão; Doutor Viana (DEM), autor do requerimento para realização da reunião; e Célio Moreira (PSDB) defenderam que a população seja ouvida sobre o projeto de construção da barragem de Santo Hipólito. Para o deputado Padre João, a comunidade tem o direito de escolher qual o empreendimento que deseja para sua região. "Os governos devem estar a serviço da população", afirmou.

O deputado Doutor Viana disse que os pequenos produtores e fazendeiros têm o direito de saber sobre a construção das barragens, já que elas afetam diretamente suas vidas. "As decisões sobre esses projetos têm sido tomadas pelas empresas estatais do setor elétrico, sem que a população possa se dar conta de que vão gerar enormes conseqüências sobre seu tipo de vida", lembrou. Doutor Viana defendeu a construção de barragens que podem gerar o desenvolvimento sustentável da região, desde que os projetos contem com a participação da comunidade local.

Já o deputado Célio Moreira lembrou a importância da realização da reunião, pois trouxe esclarecimentos aos trabalhadores rurais e aos prefeitos sobre a construção da barragem. De acordo com ele, vários prefeitos e trabalhadores rurais já o haviam procurado, manifestando temor em relação à construção da barragem.

Requerimentos - Os deputados afirmaram que vão apresentar requerimentos para serem aprovados na próxima reunião da Comissão de Política Agropecuária. Entre eles, um do deputado Célio Moreira solicitando que a Codevasf envie para a Assembléia o relatório final contendo o resultado dos estudos de viabilidade das barragens; e outro dos deputados Célio Moreira e Doutor Viana pedindo o encaminhamento das notas taquigráficas da reunião para várias entidades, como o Ministério da Integração Nacional e o Ministério Público estadual e federal.

Presenças - Deputados Padre João (PT), vice-presidente da comissão; Doutor Viana (DEM), e Célio Moreira (PSDB); e além dos convidados já citados, o presidente da Câmara Municipal de Curvelo, vereador Marcos Dupim Mattoso; o coordenador-geral da Emater, Marco Aurélio Simões Pimenta; e o prefeito municipal de Monjolos, Celson Ferreira de Almeida.

 

 

 

 

 

 

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