Frente de defesa da saúde da mulher é instalada em debate
público
A Assembléia Legislativa de Minas Gerais instalou,
nesta segunda-feira (28/5/07), a Frente Parlamentar de Defesa e
Promoção da Saúde da Mulher, que conta com a assinatura de 70
deputados e é presidida pela deputada Cecília Ferramenta (PT). A
instalação da Frente foi realizada durante o Debate Público
"Políticas públicas voltadas para a saúde da mulher", realizado no
Plenário e promovido pela Comissão de Saúde da ALMG. O deputado
Doutor Rinaldo (PSB) presidiu os trabalhos num Plenário lotado,
formado por mulheres de diversas regiões do Estado e representando
várias entidades.
A deputada Cecília Ferramenta destacou, em sua
fala, dados preocupantes sobre a saúde da mulher, como aumentos na
taxa de mortalidade materna, no índice de mulheres com problemas
cardíacos e nos casos de doenças sexualmente transmissíveis. Ela
defendeu a criação de políticas de assistência à mulher, que, devido
à jornada dupla de trabalho, muitas vezes, não tem tempo para cuidar
de si própria.
Já a deputada Maria Lúcia Mendonça (DEM) defendeu
que a mulher precisa cuidar não apenas da saúde, mas também de sua
aparência. Ela lamentou que muitas mulheres ainda morrem devido ao
câncer de mama porque não receberam o devido atendimento a tempo.
Maria Lúcia pediu também maior presença feminina nos centros de
poder, tanto na política quanto nos movimentos organizados da
sociedade.
A deputada Gláucia Brandão (PPS) aproveitou a
oportunidade para lançar uma reflexão: "Não podemos nos ater apenas
à saúde do corpo, mas prestar atenção à saúde espiritual e
emocional. Temos que avaliar outros aspectos bem mais amplos, como
cidadania, direitos políticos, trabalho, remuneração e tudo que
influa na qualidade de vida", destacou.
A instalação da frente parlamentar foi feita no dia
28 de maio porque nessa data comemora-se o Dia Internacional da Ação
pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Combate à Mortalidade
Materna. Cecília Ferramenta informou que será formada uma comissão
para traçar as futuras ações da frente, que pretende conhecer as
experiências bem-sucedidas em outros municípios e Estados.
Especialistas - O Debate
Público contou com a participação de diversos especialistas na
questão feminina. Representantes da Secretaria de Estado de Saúde
lembraram diversas iniciativas do governo estadual, como o Programa
Viva Vida e a criação da Coordenadoria da Assistência da Saúde da
Mulher, Criança e Adolescente dessa secretaria.
A presidente da Associação de Obstetrizes e
Enfermeiras Obstetras de Minas Gerais, Míriam Rego de Castro Leão,
concentrou sua fala na questão da saúde materna. Ela defendeu um
modelo de assistência à mulher parturiente que privilegie o
nascimento seguro, com o mínimo de intervenção possível. Míriam se
disse preocupada com o fato de algumas instituições particulares
realizarem entre 80% e 90% dos partos por meio de cesarianas, que
são procedimentos de risco. Ela citou o trabalho bem-sucedido do
Centro de Parto Normal Dr. David Capistrano da Costa Filho, em Belo
Horizonte, onde a taxa de parto normal é de 97% e a mortalidade
infantil é de 0,2%.
O coordenador da Atenção à Saúde da Mulher da
Secretaria de Saúde de Belo Horizonte, médico Virgílio José de
Queiroz, que também se mostrou preocupado com a alta incidência de
cesarianas, lamentou o fato de metade dos óbitos maternos serem
evitáveis. Segundo ele, complicações provenientes do aborto são a
maior causa da morte de gestantes. "Isso demonstra a existência de
problemas sociais. Não se trata só de uma questão de saúde, já que
nenhuma mulher faz aborto simplesmente porque quer", opinou. O
médico citou feitos da Secretaria Municipal de Saúde nas políticas
públicas em prol das mulheres.
Número de óbitos nas cesáreas é sete vezes
maior
Na fase de debates, novos dados sobre o aumento das
cesarianas foram trazidos pela platéia. Sônia Lansky, coordenadora
da Comissão Perinatal da Secretaria da Saúde, afirmou que, apesar de
todas as campanhas de conscientização, o número de partos cesáreos
vêm aumentando, principalmente entre as mulheres de melhor condição
sócio-econômica. Lansky disse que as justificativas vão além da
remuneração do procedimento cirúrgico, mas também atendem à
conveniência do médico e perpetuam mitos sobre a ausência de dor e à
segurança do parto. "As mortes decorrentes de complicações pela
cesárea ocorrem sete vezes mais do que no parto normal. As mortes
dos bebês também duplicam, além dos problemas de saúde serem mais
freqüentes nas crianças que não se esforçam para nascer", disse a
coordenadora.
Ângela Fernandes, moradora do bairro Maria Helena,
em Ribeirão das Neves, denunciou a falta de ginecologistas no
sistema de saúde pública. "Temos que pagar R$ 20 para alguém dormir
na fila para pegar ficha, depois o médico não vai ou não atende. A
situação em Venda Nova e Ribeirão das Neves está muito crítica",
disse ela.
A deputada Gláucia Brandão, que representa a
cidade, disse que este é apenas um dos problemas, pois em Neves 70%
das ruas não têm pavimento e 50% das casas não têm esgotos.
Acrescentou, no entanto, que estão sendo criadas dez novas equipes
do Programa de Saúde da Família. Outro problema, segundo a deputada,
é a grande disparidade entre os salários do PSF pagos na Região
Metropolitana, que afugentam os médicos de Ribeirão das Neves.
Cecília Ferramenta afirmou que são raros hoje os
médicos de atenção básica na área pública, já que todos procuram se
refugiar em especialidades que remuneram melhor. Outras pessoas da
platéia retomaram o debate sobre o controle do excesso de cesáreas,
apresentando uma nova sugestão: os médicos não devem ser remunerados
por procedimento, mas receber decentemente por plantões em que
possam fazer partos normais.
Presenças - Deputado
Doutor Rinaldo (PSB), que presidiu a reunião; deputadas Cecília
Ferramenta (PT), Maria Lúcia Mendonça (DEM) e Gláucia Brandão (PPS).
Participaram ainda a vice-presidente do Hemominas, Maria Olívia, a
coordenadora especial de Políticas Públicas para as Mulheres da
Secretaria de Estado de Saúde (SES), Virgília Rosa, a coordenadora
do Programa de DST/Aids da SES, Raquel Bacarini, a coordenadora da
Comissão Perinatal da Secretaria de Estado da Saúde de Belo
Horizonte, Sônia Lansky, coordenadora da Assistência da Saúde da
Mulher, Criança e Adolescente da Secretaria de Estado da Saúde,
Marta Alice Venâncio Romanini; e o coordenador de Atenção da Saúde
da Mulher da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte,
Virgílio José de Queiroz.
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