População do Noroeste reclama do atraso no Luz Para
Todos
Para o agricultor Ivan Geraldo Barros, de 49 anos,
coisas simples como beber um refrigerante gelado ou assistir ao
telejornal é ainda um sonho distante. Sem energia elétrica em sua
propriedade rural, na comunidade da Estiva, a 18 quilômetros de
Paracatu, ele e a esposa não podem guardar alimentos em casa,
dependem da lamparina em pleno século 21 e não conseguiram manter
seus dois filhos no campo. Ivan é um dos que ainda não foram
beneficiados pelo Programa Luz Para Todos, desenvolvido em parceria
pelos governos federal e estadual. O atraso na execução do programa
na Região Noroeste de Minas levou a Comissão de Assuntos Municipais
e Regionalização da Assembléia Legislativa de Minas Gerais a
Paracatu, onde foi realizada uma audiência pública, nesta
sexta-feira (25/05/07), para discutir o problema.
Prefeitos e vereadores de cidades vizinhas, líderes
comunitários e moradores da região lotaram o Plenário da Câmara
Municipal para cobrar de representantes da Cemig mais rapidez na
conclusão do projeto e transparência na elaboração das metas para a
eletrificação rural na região.
"Não é possível que ainda exista nos dias de hoje
gente morando no campo sem energia elétrica", afirmou o deputado
Almir Paraca (PT), autor do requerimento que deu origem à audiência.
O parlamentar lamentou o fato de e programa estar atrasado no
Noroeste do Estado, em comparação com outras regiões de Minas. "O
projeto não serve apenas para levar conforto à população que mora
fora das cidades, mas para fixar o homem no campo", enfatizou.
O coordenador Estadual do Programa Luz Para Todos,
Marcílio Magalhães, admitiu o atraso, mas justificou: "A Região
Noroeste do Estado tem muitas peculiaridades. As propriedades são
muito distantes das redes de distribuição. Além disso, a área é
muito vasta e de baixa densidade demográfica, o que dificultou o
trabalho". Marcílio informou ao público que a intenção continua
sendo declarar a universalização da luz no Estado até dezembro de
2008.
O gestor de contratos do Luz Para Todos, José de
Bastos Pereira, disse que a demanda aumentou desde junho de 2004,
quando foi feito o primeiro levantamento das propriedades rurais sem
luz na região. Segundo ele, há deficiências nos sistemas de
transmissão de energia no Noroeste, o que obrigou a Cemig a
desenvolver um projeto reestruturador para sanar o problema.
"Propriedades foram desmembradas e houve gente que se cadastrou
tardiamente. Há locais com muita dificuldade de acesso, para onde
postes e transformadores estão sendo levados de carros de boi",
contou.
Ele lembrou que a Cemig já realizou 176 mil
ligações no Estado, sendo a concessionária com os trabalhos mais
adiantados do País. "Estamos falando do maior projeto de
eletrificação rural do mundo. São 65 mil quilômetros de rede, 120
mil transformadores e 520 mil postes. De toda rede rural já
construída pela Cemig, 22% estão sendo feitos de dois anos para cá",
informou.
O coordenador de Divulgação do Programa Luz Para
Todos, Higino Zacarias de Souza, reconheceu que a falha no
cadastramento das famílias é uma das causas do atraso na execução do
projeto no Noroeste mineiro. "O primeiro cadastramento foi feito a
toque de caixa, e agora estamos pagando o preço. Essa falha não vai
se repetir mais". Ele admitiu que cerca de 1.100 famílias ainda não
foram atendidas em Paracatu.
Requerimentos - O deputado
Weliton Prado (PT), presidiu a reunião e apresentou, juntamente com
Almir Paraca, dois requerimentos, solicitando visitas à Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Os objetivos são pedir a
liberação de mais recursos para a execução do programa e tentar
impedir o aumento da tarifa de energia elétrica no Estado, que está
sendo pleiteado pela Cemig junto à agência reguladora.
Weliton Prado considerou proveitosa a reunião e
elogiou a mobilização da população local na luta por seus
direitos.
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