Impasse cria conflito entre pobres na comunidade Novo Lajedo

Um conflito inusitado foi discutido na Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembléia Legislativa de ...

23/05/2007 - 00:00
 

Impasse cria conflito entre pobres na comunidade Novo Lajedo

Um conflito inusitado foi discutido na Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, na tarde desta quarta-feira (23/5/07). Uma área de 330 mil metros², em Novo Lajedo, Santa Luzia, foi adquirida por uma cooperativa habitacional. Antes de ser ocupada pelos cooperados, porém, foi invadida por 300 famílias sem-teto há quase cinco anos. Acontece que a Cooperativa Habitacional Metropolitana (Cohabita) também reúne pessoas de baixa renda, que pagaram pelos imóveis para fugir do aluguel ou das favelas e estão impedidas de ocupá-los.

Uma ação de reintegração de posse em favor da Cohabita foi decidida pela Justiça, mas ao longo do tempo, a ocupação foi-se consolidando e a Polícia Militar considerou inviável cumpri-la, devido ao grande número de famílias a serem desalojadas e à indefinição de um local para encaminhá-las. Surgiu outro complicador: foram invadidas também áreas de preservação e áreas de risco, o que motivou uma ação civil pública ambiental do Ministério Público, que exige a retirada de todos e a preservação da área.

Participaram da reunião representantes dos movimentos dos sem-teto, da Cohabita, da Defensoria Pública e da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana (Sedru). Os representantes da Defensoria Pública, Heverton Flávio Ronconi e Ana Cláudia Silva, advogam em favor dos atuais ocupantes da área, com o foco no direito humano à moradia, ao direito real que já conquistaram pelo tempo que estão em Novo Lajedo, e aos vínculos que já criaram no local.

Catando latinha e fazendo faxina

Em favor dos prejudicados da Cohabita posicionou-se Ednéia Aparecida de Souza, diretora da Federação das Associações de Moradores do Estado de Minas Gerais. Há 20 anos, ela ingressou no movimento que já conseguiu a implantação de uma política de habitação na Prefeitura de Belo Horizonte e a construção de 4 mil unidades em 16 anos. Ednéia disse que os cooperados não receberam nenhuma ajuda dos cofres públicos, e que compraram seus terrenos catando latinha e fazendo faxina. A proposta dela é que o Estado arque com os custos da desocupação.

O presidente da comissão, deputado Weliton Prado (PT), perguntou ao representante da Sedru como o governo do Estado poderia ajudar. Fernando Santos, diretor de programas e projetos habitacionais, informou que há um programa na Cohab para famílias de 1 a 3 salários mínimos de renda. A Prefeitura tem que oferecer a infra-estrutura urbana e a Cohab financia os imóveis. Trata-se do programa "Lares Gerais" que deve ser proposto via município.

O deputado Durval Ângelo (PT), que preside a Comissão de Direitos Humanos, relatou sua longa experiência em conflitos de sem-casa e sem-terra, e sua parceria com o Serviço de Assistência Jurídica da PUC Minas em casos de invasões urbanas. Citou os casos das torres de Santa Tereza, do conjunto São João, da Vila Dionísio, da Várzea do Moinho, do Rola Moça e do São João Batista, entre outros. "No entanto, nunca vi um caso desses, em que os pobres são lançados contra os pobres, no vácuo de políticas públicas habitacionais e na omissão do Poder Público", disse o deputado, para quem a solução é desapropriar a Cohabita e doar os terrenos aos atuais ocupantes, e comprar outro terreno próximo para instalação dos cooperados.

Requerimentos: Foram aprovados quatro requerimentos do deputado Durval Ângelo. Ele pede visita à Prefeitura e à Urbel, visita conjunta com a Comissão de Direitos Humanos ao Novo Lajedo, visita ao Tribunal de Justiça para sensibilizar os desembargadores, e uma reunião conjunta das duas comissões com todos os atores envolvidos no processo.

Presenças: Deputados Weliton Prado (PT), presidente; Ronaldo Magalhães (PSDB), vice-presidente; Eros Biondini (PHS) e Durval Ângelo (PT), e a deputada Cecília Ferramenta (PT).

 

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