Debate revela que é preciso definir critérios para verba do Fhidro

O debate sobre o Fhidro, que reuniu na Assembléia Legislativa de Minas Gerais governo, comitês de bacia e deputados, ...

23/05/2007 - 00:01
 

Debate revela que é preciso definir critérios para verba do Fhidro

O debate sobre o Fhidro, que reuniu na Assembléia Legislativa de Minas Gerais governo, comitês de bacia e deputados, nesta quarta-feira (23/5/07), revelou que é preciso definir critérios objetivos para aplicação dos recursos, promovendo sua gestão efetiva. Evidenciou também que o fundo precisaria de mais verba para financiar todos os projetos em análise. Dos 120 projetos apresentados até hoje para obtenção de recursos do Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográfica (Fhidro), 91 estão em análise ou "na fila" para deliberação pelo grupo coordenador. Vinte e nove estão contratados, no valor de R$ 9 milhões, tendo sido liberados R$ 435 mil. Do Orçamento de R$ 60 milhões de 2007, estariam destinados aos projetos cerca de R$ 29 milhões, segundo o Igam.

"É nossa grande dívida com os comitês, para a qual precisamos dar uma resposta rápida", admitiu a diretora de Gestão de Recursos Hídricos do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Luísa de Marilac Moreira Camargos, que participou de reunião da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Solicitada pela deputada Elisa Costa (PT), a audiência pública, que durou cerca de três horas e contou com vários deputados, também colheu subsídios para a análise do Projeto de Lei (PL) 68/07, do deputado Paulo Guedes (PT), que altera a Lei 15.190, de 2005, que trata do Fhidro. Depois de ouvir os convidados, os parlamentares aprovaram parecer favorável ao PL, agora pronto para o Plenário em 1º turno.

O que mudou - Originalmente, o PL prioriza a Bacia do Rio Jequitinhonha na destinação de recursos do fundo. Mas, durante a tramitação, foi modificado pela Comissão de Meio Ambiente, acolhendo reivindicações dos comitês de bacia. Uma das principais mudanças é retirar a palavra "reembolso" de dispositivo da lei que lista as formas de aplicação do dinheiro. Assim, viabiliza-se a execução, a fundo perdido, de programas, projetos ou empreendimentos de proteção e melhoria dos recursos hídricos aprovados pelo comitê. Formado pelo poder público, usuários e sociedade civil, o comitê é um órgão colegiado, deliberativo, considerado o verdadeiro "parlamento das águas". Cabe a ele aprovar o plano diretor da bacia (diretrizes e metas para investimentos e obras), a forma e os valores da cobrança pelo uso das águas. Em Minas, há 29 comitês instituídos e sete comissões pró-comitês.

Deputada cobra definição de critérios para aplicar verba; Igam responde

A deputada Elisa Costa defendeu a ampliação dos recursos hoje destinados ao Fhidro, além de cobrar a definição de critérios objetivos para liberar o dinheiro. "Precisamos destravar esse processo, para fazermos chegarem os recursos às bacias", afirmou. Segundo dados trazidos pela deputada, dos R$ 60 milhões destinados ao fundo no Orçamento de 2007, R$ 19,264 milhões seriam para universalizar o serviço de abastecimento de água e esgoto nas bacias do Mucuri, Jequitinhonha e São Mateus - o Projeto "Vida no Vale". Outros R$ 18,381 milhões apoiariam ações de revitalização da bacia do Rio São Francisco. Estariam destinados aos projetos, segundo ela, R$ 21,730 milhões. A deputada disse que vai acompanhar a aplicação da verba do "Vida do Vale", ponderando que há muito mais dinheiro investido nessa iniciativa do que os R$ 19 milhões previstos no Fhidro.

A diretora-geral do Igam, Cleide Pedrosa, informou que, no dia 29, serão discutidos os critérios a serem observados pelo grupo gestor do Fhidro na liberação dos recursos para os projetos. Estarão reunidos instituto, Secretaria de Meio Ambiente, Secretaria de Planejamento, além dos comitês de bacia. Segundo Cleide Pedrosa, a intenção é fechar uma proposta para ser levada ao grupo coordenador e ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH). O vice-diretor-geral do Igam, Antônio Eustáquio Oliver, admitiu que foram feitas muitas críticas aos órgãos de governo pela ausência de critérios na liberação dos recursos em 2006. "Os critérios serão buscados junto à sociedade", completou. Sobre os recursos, Oliver afirmou, em entrevista à imprensa após a reunião, que poderia ser solicitada uma suplementação orçamentária, caso o dinheiro não fosse suficiente.

Mauro da Costa Val, do Comitê da Bacia do Rio Paraopeba, apresentou a proposta de uma "cesta de indicadores" que nortearia a distribuição de recursos. Pela proposta, seria garantido um percentual para caba bacia, tendo como base critérios como vazão do rio, área, poluição, escassez de água, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), existência ou não de um plano diretor.

Comitês de bacia reivindicam mais recursos; governo do Estado é criticado na reunião

Foi de Mauro da Costa Val que partiu uma contundente crítica à forma como vem sendo implementada a política estadual de recursos hídricos, consolidada na Lei 13.199, de 1999. Para ele, tanto Minas quanto o País não respeitam os princípios da nova lei: adoção da bacia como unidade de planejamento; participação da sociedade; e descentralização das decisões. "As decisões são tomadas para serem homologadas, depois, nos órgãos colegiados", criticou Costa Val, que cobrou do governo tratar a questão das águas e o meio ambiente de uma maneira séria, bem como planejar ações. "Temos condições científicas, políticas, técnicas e operacionais de fazer muito mais pelas águas", enfatizou. Ele também criticou o fato de o Fhidro permanecer inativo desde sua criação, em 1999, até 2006, quando foi regulamentado.

Foi recorrente a reivindicação dos comitês por mais verba para a implementação dos instrumentos de gestão das águas. O prefeito de São Domingos do Prata, Joaquim Castro Pereira, dos Comitês das Bacias dos Rios Doce e Piracicaba, reivindicou mais recursos para os projetos de recuperação das bacias. Para isso, pediu que os deputados façam a alocação da verba necessária no Orçamento do Estado. Já Afonso Aroeira, do Comitê da Bacia do Rio Paracatu, pediu que sejam priorizadas, na destinação da verba do Fhidro, as bacias com plano diretor aprovado.

Cabeça de bacalhau - O secretário de Meio Ambiente de Itabira, Hamilton da Penha Lage e Silva, que é do Comitê da Bacia do Rio Santo Antônio, lembrou que o Fhidro sempre foi apelidado de "cabeça de bacalhau", pois todos sabiam que existia, mas nunca tinham visto o dinheiro do fundo. Mola-mestra do processo, o fundo, para Lage e Silva, precisa ser universal, mas ter foco. Ele defendeu também a criação de um fundo estadual de meio ambiente. Assim como Afonso Aroeira, o representante do Comitê da Bacia do Rio Pará, Roberto Soares Nogueira, defendeu mais recursos para a gestão dos resíduos sólidos. Sílvia Freedman, do Comitê do Entorno de Três Maria, cobrou recursos estaduais para a implantação da política de recursos hídricos. "Não queremos mais buscar verba federal", opinou.

Deputados apresentam propostas; Cipe Rio Doce participa da reunião

Vários deputados participaram da reunião e fizeram sugestões ao Igam e aos comitês de bacia. Respondendo às críticas de Mauro da Costa Val, o deputado Zé Maia (PSDB), presidente da comissão, ponderou que os recursos são finitos e as demandas, infinitas. Por isso, disse, é preciso ter equilíbrio e tolerância para tomar decisões que possam beneficiar todos os segmentos, seja do meio ambiente, seja da saúde ou educação. Relator do PL 68/07 na comissão, o deputado Agostinho Patrús Filho (PV) informou que a análise da matéria na comissão foi adiada justamente para ouvir os convidados. Disse também que pleiteará mais recursos no Orçamento para o meio ambiente.

O deputado Sebastião Helvécio (PDT) defendeu a adoção de critérios objetivos para a seleção dos projetos e sugeriu que a ALMG acompanhe os desdobramentos das discussões no Igam. Assim como a deputada Elisa Costa, o deputado sugeriu apoio do Estado à capacitação dos integrantes dos comitês e ao fomento à participação social. Ao mesmo tempo, disse que é preciso dar condições políticas para os comitês se consolidarem.

O deputado José Henrique (PMDB), da Cipe Rio Doce, comissão que reúne parlamentares de Minas e do Espírito Santo na defesa da bacia, afirmou ser importante definir as prioridades do Fhidro de forma colegiada. "Já foi dado um passo fundamental, que é tirar o dinheiro do fundo do caixa único do Estado", enfatizou. Já o deputado Lafayette de Andrada (PSDB) cobrou a aprovação dos projetos pelos comitês, ao mesmo tempo em que descreveu as modificações pelas quais passou o PL 68/07. O deputado Antônio Carlos Arantes (PSC) criticou o excesso de burocracia dos órgãos ambientais, destacando as boas experiências ambientais desenvolvidas em sua região, o Sul de Minas.

O deputado Getúlio Neiva (PMDB), por sua vez, defendeu os pequenos barramentos, além de criticar o que classificou como "ditadura da tecnocracia" em Minas, em detrimento do que pensam deputados e cidadãos. Ele foi apoiado pelo deputado Zé Maia (PSDB).

Presenças - Deputados Zé Maia (PSDB), presidente; Jayro Lessa (DEM), vice; Agostinho Patrús Filho (PV), Antônio Júlio (PMDB), Elisa Costa (PT), Lafayette de Andrada (PSDB), Sebastião Helvécio (PDT), Antônio Carlos Arantes (PSC), José Henrique (PMDB), Rosângela Reis (PV), Gilberto Abramo (PMDB), Alencar da Silveira Jr. (PDT) e Fábio Avelar (PSC).

 

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