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Minas Gerais conta hoje com 102 instituições
credenciadas para o atendimento a portadores de deficiência mental e
autistas, segundo padrões estabelecidos em normas federais e
estaduais. Outras 13 instituições estão em processo de
credenciamento. Todas elas fazem atendimento clínico com
profissionais de várias áreas. Por outro lado, não há nenhuma
instituição pública que abrigue os deficientes em tempo integral
(semi-internato), uma carência que sacrifica as famílias dos
pacientes mais graves. Essa contradição foi a tônica do debate sobre
a estruturação da rede de assistência à pessoa portadora de
deficiência, realizado nesta segunda-feira (21/5/07) pela Comissão
Estadual do Transtorno, Deficiência Mental e Autismo da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais.
A reunião marcou a retomada das discussões sobre o
tema, iniciadas no ano passado por uma comissão semelhante. E foi
aberta com um desabafo de Rogério de Souza, pai de um autista, que
custeia atendimento particular para o filho no único "hotelzinho"
existente em Minas. O assessor técnico da Coordenadoria Estadual de
Atenção à Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência, Flávio Lúcio
Assis Moreira, avaliou que a rede de atendimento está em construção
no Estado. "Não basta credenciar as instituições. É preciso que elas
tenham equipes multidisciplinares de qualidade", salientou. Segundo
ele, a Portaria 1.635, do Sistema Único de Saúde (SUS), editada em
2002, está sendo reformulada, assim como a deliberação estadual que
regulamentou a norma, em busca de um atendimento melhor.
A também assessora técnica da coordenadoria, Darcy
Fioravante Barros, admitiu que existe um vácuo entre o que é
oferecido pelo Poder Público e a demanda das famílias. Mas ressaltou
os avanços obtidos. "Há algum tempo, nem mesmo o diagnóstico de
autismo era fácil. Hoje, já existe atendimento para pacientes com
três, quatro anos, com métodos adequados que permitem seu
desenvolvimento", afirmou. Para ela, a solução deve ser buscada em
conjunto, pelas famílias e pelos governos. A presidente da
Associação de Pais e Amigos de Pessoas Especiais (Apape), Estela
Mares Guillen de Souza, enfatizou, porém, a falta de moradias
transitórias para os pacientes, que permitam às famílias também
cuidar de sua sanidade.
Já a representante da Federação das Associações de
Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes) de Minas Gerais, Maria
Dolores da Cunha Pinto, argumentou que não existe, dentro dos
programas de habitação popular, nenhuma reserva para as famílias de
deficientes, o que é previsto em lei. "Não podemos deixar de escutar
essas pessoas, porque muitas vezes não há respostas dentro das
instituições. Essa é uma discussão com uma responsabilidade social
imensa", afirmou. Para ela, a legislação precisa ser aperfeiçoada; o
pagamento per capita do SUS, de R$ 14,00 por atendimento, precisa
ser ampliado; e as casas de passagem para os deficientes precisam
ser reconhecidas como essenciais ao tratamento.
As bolsas distribuídas pela Coordenadoria Especial
de Apoio e Assistência à Pessoa com Deficiência (Caad), com recursos
da Loteria Federal, também foram objetos de questionamento. Segundo
os familiares, os critérios de distribuição do recurso vinculam sua
aplicação à educação formal, nem sempre indicada para os portadores
de deficiência. O superintendente de Políticas Públicas do Caad,
ligada à Secretaria de Desenvolvimento Social, Nelson Garcia,
argumentou, no entanto, que não se pode mudar a rubrica do convênio,
já antigo. "O que estamos tentando fazer são ajustes nos critérios.
Mas a bolsa não absorve a demanda", sinalizou.
Projeto de Lei pretende regulamentar o tratamento
em Minas
A Comissão discutiu ainda a aplicabilidade do
Projeto de Lei (PL) 652/07, do deputado Célio Moreira (PSDB),
presidente da Comissão. A proposição determina a obrigatoriedade de
o governo do Estado proporcionar tratamento especial, educação e
assistência específica aos deficientes, independente da idade.
Moreira pediu a colaboração dos especialistas para reformular a
proposta, retirada de tramitação. O Estado da Bahia, segundo ele, já
tem legislação semelhante. A definição em lei dos direitos dos
deficientes foi defendida pelos participantes, preocupados também
com a falta de recursos do governo do estado para essa área.
Célio Moreira afirmou que, desde 2005, vem
apresentando emendas às proposições que tratam do orçamento, mas
recebe a resposta de que essa área já está contemplada. "Vejo que há
carências, os recursos não são suficientes. Mas o governo está com
boa vontade em relação ao projeto", garantiu. Darcy Barbosa lembrou
a necessidade de um cadastro dos pacientes, que permita um
planejamento melhor dos investimentos, e Moreira afirmou que esse é
um dos objetivos da comissão. "Vamos encaminhar o cronograma da
comissão às prefeituras, câmaras municipais, instituições e
conselhos, o que permitirá uma maior participação nos trabalhos",
acrescentou.
A deputada Maria Lúcia Mendonça (DEM), relatora da
Comissão, afirmou que é preciso encontrar uma solução para que os
pais dos deficientes possam continuar trabalhando. Ela também pediu
aos representantes da Caad a relação das instituições credenciadas e
das que não foram aprovadas no cadastramento. No Norte de Minas, por
exemplo, não houve credenciamentos. Já o deputado Walter Tosta (PMN)
sugeriu que uma comissão vá até o Executivo pleitear as mudanças no
atendimento. "A finalização sempre cabe ao Executivo. Que ele
continue construindo penitenciárias, mas construa também unidades
para cuidar de nossos filhos", afirmou.
Presenças - Deputados
Célio Moreira (PSDB), presidente da comissão; Walter Tosta (PMN); e
deputada Maria Lúcia Mendonça (DEM), relatora.
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