Deputados pedem guarda municipal próxima à população

Representantes de guardas municipais de pelo menos sete cidades mineiras participaram de um debate público, nesta seg...

21/05/2007 - 00:01
 

Deputados pedem guarda municipal próxima à população

Representantes de guardas municipais de pelo menos sete cidades mineiras participaram de um debate público, nesta segunda-feira (21/5/07), no Plenário da Assembléia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), sobre o tema "O papel da guarda municipal e os direitos humanos". Autor do requerimento pela realização da reunião, o deputado João Leite (PSDB) defendeu que o modelo ideal de guarda municipal é o daquela que exerce sua função de maneira próxima ao povo. A reunião foi presidida pelo deputado Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos, que aprovou a realização do evento.

Em todo o Brasil, são cerca de 80 mil guardas municipais, organizadas em 640 municípios. As guardas municipais ou guardas civis municipais foram criadas ainda na época do Império e reestruturadas pela Constituição Federal de 1988, que facultou aos municípios a sua criação para proteção dos seus bens, serviços e instalações, conforme disposição de leis complementares. Quanto à sua organização administrativa, as guardas diferem de município para município, mas quase sempre mantêm uma estrutura organizacional semelhante às das polícias militares, muitas delas sendo criadas sob orientação dessa corporação.

A proposta do requerimento aprovado para o debate público é avaliar se está ocorrendo superposição das atuações da guarda civil e demais forças públicas. Na abertura do evento, o deputado Durval Ângelo também cobrou uma proximidade entre a população e a guarda municipal, ao descrevê-la como uma instituição responsável pela defesa dos direitos humanos. Ele salientou que a segurança é um desses direitos, e que os integrantes das forças públicas, sejam elas a guarda, polícia Civil ou Militar, são representantes dos direitos humanos. "Há denúncias contra guarda municipais, mas são casos isolados, casos muito pequenos", afirmou o deputado petista.

No início de seu pronunciamento, João Leite saudou os representantes das guardas de Conselheiro Lafaiete, Mariana, Ouro Preto, Alfenas, Contagem, Sabará e Nova Lima, presentes na reunião, e lamentou a ausência da força de Belo Horizonte, que segundo ele, também foi convidada. Lembrando ser filho de um integrante da antiga guarda civil, João Leite disse que os deputados têm grande expectativa com relação às guardas municipais. "Meu pai fez grande amigos atuando como guarda civil. A gente sempre sonhou com um modelo de segurança mais próxima do povo", afirmou. O parlamentar apresentou requerimento solicitando que a comissão visite o trabalho de guardas municipais da Capital e de cidades do interior, como Conselheiro Lafaiete e Mariana.

O deputado Luiz Tadeu Leite (PMDB) criticou a atual política de segurança pública do governo federal e lembrou que a falta de um arcabouço jurídico é a responsável pela confusão acerca do papel das guardas no País. "Cada prefeito faz o que quer, deixando a instituição vulnerável a desmandos políticos. Os agentes não podem virar jagunços de prefeitos", lamentou.

O deputado Carlin Moura (PCdoB) também lembrou a necessidade de criar uma normatização mais clara e definida para acabar com a polêmica. "A experiência de Minas com guardas municipais é muito nova, daí a necessidade de debates. Não podemos negar que há um clamor público para a criação de corporações em mais municípios", disse.

Guarda Municipal compensa pequeno efetivo policial

Prefeito de Mariana e presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), Celso Cotta Neto, defendeu a ampliação das guardas municipais e contou a experiência de sua cidade, onde a instituição foi implantada há cinco anos. Ele afirmou que, em Mariana, a Polícia Civil tem 33 integrantes, enquanto a Guarda Municipal conta com 70, e já está sendo preparado concurso para dobrar o efetivo. "A grande maioria das cidades com menos de 20 mil habitantes não conta com mais que três policiais militares", afirmou o prefeito.

Apesar de a lei reservar à guarda municipal, explicitamente, a função de guarda patrimonial, Cotta afirmou que essa não é a função principal em sua cidade. "A demanda maior está nas ruas, como nas filas de bancos, onde os aposentados vão sacar seus benefícios, e muitas vezes, têm sua carteira roubada já na porta do banco", afirmou Celso Cotta.

O presidente do Conselho Nacional das Guardas Civis Municipais (CNGCM), Benedito Aparecido de Moraes, defendeu a atuação das guardas municipais no policiamento de rua, inclusive na repressão ao crime, quando necessário. Ele admitiu que o artigo 144 da Constituição da República, em seu parágrafo oitavo, cita como função própria da guarda o policiamento de bens, serviços ou instalações, ou seja, o policiamento patrimonial. Apesar disso, ele lembrou que a legislação também faculta a qualquer cidadão o poder para dar voz de prisão a alguém flagrado ao cometer um delito. Ele argumentou que não se pode negar, como já fez um juiz, que essa regra vale para a população, mas não para o guarda civil.

Moraes também ressaltou a importância da análise do pessoal contratado para as guardas, e da capacitação do pessoal. Pediu a colaboração da população na investigação social das pessoas em fase de seleção para integrar as guardas, e defendeu a regulamentação de suas funções. "Estamos preenchendo uma lacuna que existia", concluiu. "O problema é mais de gestão do que de recursos", afirmou o pesquisador e consultor em Segurança Pública Sérgio Ricardo de França Coelho, que é membro do CNGCM. Ele se defendeu a necessidade da descentralização do sistema de segurança pública. "Essa descentralização passa pelo fortalecimento das guardas municipais e remete à divisão de responsabilidades e de recursos, o que é diferente da municipalização", disse.

Outra polêmica abordada por França Coelho foi a restrição a armas de fogo. "Nenhuma outra polícia brasileira tem tantas exigências para ter concedido o porte de armas." O pesquisador também lembrou a realização do Fórum Mineiro de Guardas Municipais, de onde saiu a proposta de criação do Conselho Estadual de Guardas Municipais, e salientou que Minas Gerais pode ser o primeiro estado brasileiro a aprovar uma política das guardas municipais.

Guarda mais perto da comunidade

A exemplo do deputado Durval Ângelo, o presidente da Associação das Guardas Municipais de Minas Gerais, João do Carmo Filho, defendeu a aproximação dos guardas da população "Só quem está próximo do problema pode resolvê-lo com mais facilidade", argumentou. "A presença de um coldre na cintura não significa mais eficiência. O agente deve estar preparado para o trabalho preventivo e comunitário", finalizou.

Já o assessor de imprensa do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), Robson Reis Souza, considera que o município tem papel fundamental na melhoria da segurança. Ele citou exemplos de Bogotá e outras cidades da Colômbia, que reduziram significativamente seus índices de criminalidade. O representante do Crisp sugeriu ainda mecanismos e controle da atuação das guardas municipais, como a criação de corregedorias e ouvidorias.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente da comissão; Carlin Moura (PCdoB), João Leite (PSDB), Luiz Tadeu Leite (PMDB), Domingos Sávio (PSDB) e Lafayette de Andrada (PSDB); presidente da Associação Mineira dos Municípios (AMM), Celso Cotta Neto; presidente do Conselho Nacional das Guardas Civis Municipais, Benedito Aparecido de Moraes; pesquisador e consultor em segurança pública, Sérgio Ricardo de França Coelho; presidente da Associação das Guardas Municipais de Minas Gerais, João do Carmo Filho; e o assessor de imprensa do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), Robson Sávio Reis Souza.

 

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