Assembléia cobra Vara Especial para Criança e Adolescente

A Comissão de Participação Popular da Assembléia Legislativa de Minas Gerais realizou, nesta sexta-feira (18/5/07), a...

18/05/2007 - 00:00
 

Assembléia cobra Vara Especial para Criança e Adolescente

A Comissão de Participação Popular da Assembléia Legislativa de Minas Gerais realizou, nesta sexta-feira (18/5/07), audiência pública dedicada ao Dia Nacional de Enfrentamento à Violência, Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A prioridade do evento, assim como de outros atos realizados neste dia por entidades dedicadas ao tema, é o combate à impunidade, traduzido pela criação de uma vara judicial especializada em crimes contra a criança e o adolescente, reivindicada junto ao Poder Judiciário. A reunião parlamentar aconteceu por requerimento do deputado André Quintão (PT), presidente da Comissão, que atendeu solicitação do Fórum Estadual de Enfrentamento à Violência contra a Criança e o Adolescente.

Durante a audiência, o deputado Eros Biondini (PHS), vice-presidente da Comissão de Participação Popular, comentou o encontro realizado pela manhã com o presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, desembargador Orlando Adão Carvalho, para que as entidades de defesa da infância e juventude entregassem o pedido de criação da vara especial. "O desembargador apontou uma solução mais rápida, que seria transformar uma das varas atuais em vara privativa para casos de violência contra a criança e adolescente", afirmou Biondini, concluindo que a audiência foi positiva.

Além de tratar da questão específica da vara judicial, as autoridades participantes da reunião na Assembléia fizeram uma prestação de contas sobre a atuação dos órgãos especializados nesse tipo de violência. Entre as informações apresentadas, chamaram atenção os dados sobre denúncias e investigação de crimes contra menores, além do atendimento às vítimas.

Denúncias de casos são quase 5 mil

O subsecretário de Estado de Direitos Humanos, João Batista de Oliveira, revelou, entre outros dados, os registros do Disque Direitos Humanos (0800 31 1119), que tem o objetivo de receber denúncias de violações de direitos humanos, inclusive as que envolvem crianças e adolescentes. Entre 2003 e abril de 2007, foram 4.871 denúncias de violação dos direitos de crianças e adolescentes. Os registros começaram com 242, em 2003, saltaram para 1.505 em 2005, e este ano, até abril, chegaram a 585.

As denúncias deram um salto em 2005, quando Belo Horizonte foi identificada como um dos sete centros prioritários para o combate à exploração infanto-juvenil. Neste ano, o governo federal implantou no município o Programa de Ações Integradas e Referenciais (Pair) para enfrentamento desse tipo de violência, e o Estado implementou o Serviço de Enfrentamento à Violência, à Exploração e ao Abuso Sexual contra Crianças e Adolescentes (Sentinela), que tem objetivo de prestar atendimento psicossocial e assessoria jurídica às vítimas desses crimes, além de articular redes de proteção. Dos atendimentos feitos pelo Sentinela, 41,05% são originados por abuso sexual, 88% envolvem menores de até 14 anos e em 68,97% dos casos, as vítimas são meninas.

O presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, Dagoberto Batista, apresentou o número de casos investigados pela Polícia Civil em 2006, tratando de violência contra crianças e adolescentes. Foram 2.044 em todo o Estado, sendo 1.772 no interior de Minas, 179 em Belo Horizonte e 93 no restante da Região Metropolitana. No interior, a regional que mais investigou esse tipo de denúncia foi Governador Valadares, com 64 casos.

Parentes são responsáveis por 65% dos abusos

A presidente do Conselho Municipal da Criança e Adolescente de Belo Horizonte, Lúcia Helena Junqueira, afirmou que são atendidas hoje, no Sentinela de BH, 437 menores, sendo que 87% dos casos são de abuso sexual. Em 65% desses casos, o agressor é um parente da vítima, principalmente o pai. "Não temos a ingenuidade de pensar que esses casos representam a totalidade das ocorrências. Ainda é forte a idéia de que esse é um problema de ordem privada", afirmou Lúcia Junqueira.

Também fizeram um balanço da atuação de seus órgãos a representante do Conselho Tutelar de Belo Horizonte, Elizabeth Ferreira Silva; o superintendente substituto da Polícia Rodoviária Federal de Minas Gerais, Helênio Almeida, que destacou a gravidade do problema nas BRs Fernão Dias e Rio-Bahia; o chefe da Assessoria de Articulação e Estrutura/Prevenção Ativa da Polícia Militar, major Armando Leonardo; a coordenadora da Frente Municipal Parlamentar em Defesa da Criança e Adolescente de Belo Horizonte, vereadora Neila Batista; e a promotora da Infância e Adolescência, Maria de Lurdes Santagema.

O deputado Durval Ângelo (PT) destacou o trabalho da Comissão Parlamentar Conjunta para investigação do desaparecimento de crianças e adolescentes, que registrou 57 desaparecimentos em Minas, desde 2005. O deputado afirmou que a identificação do corpo de Daniel Almeida da Silva reforçou a suspeita de utilização de crianças em rituais satânicos. Ele também cobrou a regulamentação, em Minas, da lei que permite que a mulher e a criança vítimas de violência não precisem ir ao Instituto Médico Legal (IML) para fazer o exame de corpo de delito. "Em São Paulo, essa alteração aumentou as denúncias de seis para 24 por mês", afirmou.

O deputado Carlin Moura (PCdoB) disse estar preocupado com a atitude de autoridades que preferem enfatizar a idéia de reduzir a maioridade penal, ao invés de priorizar a proteção à criança e adolescente. O deputado João Leite (PSDB) chamou atenção para a violência divulgada pelos programas de TV, que, para ele, influenciam na ocorrência de crimes envolvendo menores.

Prioridades - Já o deputado André Quintão chamou atenção para a necessidade de mobilização das entidades no sentido de participar da discussão do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG), a fim de assegurar recursos para o combate à violência contra menores no orçamento estadual. Segundo ele, o fórum de entidades ligadas ao tema já está construindo uma pauta de sugestões, que incluirá, entre outros pontos, a implantação e implementação de um núcleo de atendimento às vítimas de crimes violentos (NAVCs) em Governador Valadares, Juiz de Fora, Uberlândia, Uberaba, Teófilo Otoni e Itaobim; manutenção das NAVCs de Montes Claros e Ipatinga; formação, capacitação e qualificação de juizes, promotores, defensores públicos e conselheiros tutelares para a questão; implementação do programa de educação afetivo-sexual no ensino fundamental e médio; e apoio financeiro aos centros de referência no atendimento à mulher, criança e adolescente.

Presenças - Deputado André Quintão (PT), presidente; deputado Eros Biondini (PHS), vice; deputados João Leite (PSDB), Carlin Moura (PCdoB) e Durval Ângelo (PT); e a coordenadora do Pair/BH, Rosalva Portela, além de outras autoridades citadas anteriormente.

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715