Mineradoras e órgãos públicos divergem sobre fiscalização no
Sul
Problemas na fiscalização feita pelos órgãos
ambientais e dificuldades financeiras resultantes do cenário
econômico nacional foram algumas das adversidades relatadas por
prefeitos, representantes de associações e sindicatos de mineradoras
responsáveis pela extração do quartzito na região de São Tomé das
Letras, no Sul de Minas. Eles participaram de audiência pública da
Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais nesta quarta-feira (16/5/07), que contou
ainda com a presença de representantes de instituições públicas,
que, por sua vez, rebateram as denúncias e defenderam as ações
fiscalizadoras do Estado.
O presidente da Associação das Empresas
Mineradoras, Beneficiadoras e do Comércio de Quartzito da Região de
São Tomé das Letras, Antônio Francisco da Silva, afirmou que todas
as empresas já sabem que para exercer sua atividade é preciso
respeitar a legislação ambiental. Entretanto, ele defendeu uma
mudança na forma como a fiscalização é feita, pois é preciso levar
em consideração o fato de que a exploração do quartzito é
fundamental para economia local. Segundo ele, a atividade é
responsável pela geração de 5 mil empregos em oito municípios.
Nesse sentido, o diretor regional do Sindicato
Intermunicipal da Indústria de Rochas Ornamentais de Minas Gerais
(Sinrochas), Cristiano Vilas Boas, apresentou denúncias sobre a
fiscalização que está sendo feita na região. De acordo com ele, não
existe uma homogeneidade na aplicação das multas e na definição de
condicionantes a serem cumpridos. "Cada empresa é fiscalizada por um
fiscal diferente e cada um interpreta a lei de um jeito", disse.
Para o diretor regional, a fiscalização também não está sendo
eficiente para a preservação do meio ambiente, já que a ação do
Estado não teria resultado em nenhuma melhoria ambiental. Por fim,
ele afirmou que outro problema vivido pelo setor é a valorização do
real em relação ao dólar, que estaria inviabilizando a atividade
econômica.
Metralhadoras - Os
prefeitos dos municípios de Cruzília, José Carlos Alckim; de São
Tomé das Letras, Luiz Vilela Paranaíba; e de Luminárias, Leónidas
Augusto de Oliveira, se manifestaram contrariamente a uma ação de
fiscalização feita pelos órgãos ambientais, que foi denominada
Operação Sul de Minas. Segundo Luiz Vilela Paranaíba, que também
representou a Associação de Municípios da Microrregião do Circuito
das Águas, a operação teve a presença de policiais armados com
metralhadoras e de um helicóptero, fato que teria intimidado a
população. Paranaíba defendeu a presença fiscalizadora do Estado,
mas afirmou que ela não pode ser feita como ocorreu.
O prefeito também disse que as empresas da região
estariam desenvolvendo tecnologia com o objetivo de diminuir o
impacto ambiental: "Houve uma grande evolução na tecnologia, o que
vem permitindo o aproveitamento de 18% dos resíduos resultantes da
atividade". Segundo ele, os resíduos já estão sendo aproveitados na
produção de tijolos, blocos e pisos. Paranaíba ainda sugeriu que os
valores obtidos com o recolhimento das multas sejam usados em
projetos de recuperação ambiental, como recuperação paisagística,
por exemplo.
Órgãos públicos defendem ação fiscalizadora
Apesar das reclamações dos prefeitos e
representantes das empresas mineradoras, a diretora de Monitoramento
e Fiscalização da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Alice
Soares; e o chefe substituto do 3º Distrito do Departamento Nacional
de Produção Mineral (DNPM), Renato Mota de Oliveira, defenderam a
fiscalização sobre a extração do quartzito feita pelos órgãos
públicos.
Alice Soares discordou das denúncias de que a
Operação Sul de Minas não teria resultado em ganhos ambientais para
a região. Ela afirmou que vários problemas resultantes da ação das
mineradoras foram encontrados no local, como o assoreamento de
nascentes e a degradação de reservas ambientais. Alice Soares
explicou ainda que a operação contou com a presença de agentes do
Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), pois como são utilizados
explosivos na mineração, era necessário levar policiais que pudessem
lidar com o material. Segundo a diretora da Feam, a presença dos
policiais armados não teve como objetivo intimidar a população, mas
apenas garantir a segurança dos fiscais.
Já Renato Mota explicou que o uso de helicópteros
em operações de fiscalização visa agilizar a ação, aumentando a área
percorrida pelos fiscais; e que todos os documentos resultantes da
fiscalização são de domínio público. Também destacou que a aplicação
de multas resulta em receita para a população local, pois parte dos
valores obtidos destina-se para as prefeituras. Alice Soares também
rebateu as críticas sobre as multas, que são aplicadas, segundo ela,
conforme a legislação determina. Cada caso é analisado isoladamente,
pois as empresas têm tamanhos diferentes e causam impactos
ambientais diferentes.
Ela lembrou que a legislação já prevê a aplicação
de 50% dos valores recolhidos pelas multas em projetos de
recuperação ambiental, desde que sejam encaminhados pelos municípios
para aprovação do governo do Estado. Ela afirmou que o governo
defende o debate com os empresários para buscar um caminho que
permita o desenvolvimento e atenda as exigências ambientais.
Deputados defendem desenvolvimento
sustentável
Diante das diferenças de posicionamento entre os
empresários e os órgãos ambientais, vários deputados defenderam o
desenvolvimento sustentável como solução para a situação. O
presidente da Comissão de Meio Ambiente, deputado Sávio Souza Cruz
(PMDB), afirmou que é importante manter as atividades, que geram
empregos e renda para a região, mas que a fiscalização deve ser
feita, pois é necessário proteger o meio ambiente.
O vice-presidente da comissão, deputado Fábio
Avelar (PSC), defendeu o abandono das posições radicais que, de um
lado, defendem o desenvolvimento a qualquer custo, e do outro,
consideram o meio ambiente intocável. Para ele, é preciso buscar o
desenvolvimento mantendo o respeito ao meio-ambiente. O deputado
Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), autor do requerimento pela reunião,
também defendeu o desenvolvimento sustentável como solução para a
crise. Para o deputado Wander Borges (PSB), é preciso também
analisar as condições de trabalho na região, verificando se a
legislação trabalhista é respeitada.
Já o deputado Neider Moreira (PPS) considerou que,
se está havendo tratamento desigual na aplicação de multas e
desrespeito à legislação, é importante que os empresários tragam as
denúncias para a ALMG para que providências sejam tomadas. Ele
afirmou que a presença de agentes do Gate para desarmar explosivos
desrespeitou a legislação, já que essa seria uma função exclusiva do
Exército. Por fim, cobrou dos órgãos públicos o cumprimento dos
prazos para a concessão dos licenciamentos ambientais.
Debates - Empresários da
mineração, contrários à forma como a fiscalização foi feita;
trabalhadores, pedindo melhores condições de trabalho; e
ambientalistas, alertando para os possíveis prejuízos ambientais
causados pelas mineradoras, falaram na fase dos debates. O
jornalista Paulo Vicente, de uma rádio local, sugeriu aos órgãos
ambientais que instalem ao menos um escritório na cidade para
facilitar o contato da população.
Requerimentos - O deputado
Dalmo Ribeiro Silva apresentou dois requerimentos ao final, que
devem ser votados em breve. Um deles solicita à Feam um detalhamento
de todas as ações de fiscalização, constatações e notificações que
indicam degradação ambiental nas nascentes de São Tomé das Letras,
bem como a relação das empresas citadas nas denúncias.
O outro pede à Secretaria de Estado de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável a formação de um grupo de
trabalho para, em 60 dias, analisar e propor soluções para os
problemas sócio-econômicos ligados à mineração na região de São Tomé
das Letras. A proposta é que participem governo estadual, Copam,
DNPM, mineradoras, municípios e a ALMG. "Tenho certeza de que
poderemos avançar muito com esse grupo de estudos", afirmou Dalmo
Ribeiro Silva.
Presenças - Deputados
Sávio Souza Cruz (PMDB), presidente da comissão; Fábio Avelar (PSC)
vice-presidente; Almir Paraca (PT), Rômulo Veneroso (PV), Wander
Borges (PSB), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), Neider Moreira (PPS),
Padre João (PT), Deiró Marra (PR), Doutor Viana (DEM) e Antônio
Carlos Arantes (PSC). Além dos convidados citados, participaram
também o presidente do Sinrochas, José Ferreira da Silva; e o
representante da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico,
Luiz Antônio Fontes Castro.
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