Ameaça de fechamento de mercados preocupa comerciantes

Nos últimos 53 anos, Jair Zanetti vive da venda de verduras e legumes. Ele tem uma banca no mercado distrital de Sant...

10/05/2007 - 00:00
 

Ameaça de fechamento de mercados preocupa comerciantes

Nos últimos 53 anos, Jair Zanetti vive da venda de verduras e legumes. Ele tem uma banca no mercado distrital de Santa Tereza desde a sua fundação, em 1974. Aos 72 anos, ele se vê na iminência de perder a ocupação que lhe deu o sustento da vida inteira, pois a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) pretende desativar o espaço. "Estão acabando não só com o mercado, mas com a minha vida", desabafa. A possibilidade de encerramento das atividades do mercado preocupa os deputados da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, que visitaram as suas instalações nesta quinta-feira (10/5/07).

O distrital de Santa Tereza já teve 99 boxes, mas hoje conta com apenas 15 feirantes. Trabalham no local cerca de 120 pessoas (somando-se os funcionários de um supermercado dentro de suas dependências). Apesar da decadência, é um bom ponto de comércio. Giovani Laureano Teixeira, que preside a Associação dos Permissionários do Mercado de Santa Tereza, conta que vende um caminhão de frutas por semana. "Não posso reclamar, tenho clientela formada. Mas o movimento já foi maior", comenta. Segundo ele, cerca de 600 pessoas passam pelo local todos os dias.

Atualmente, existem 36 boxes desocupados, e Laureano garante que existiriam pelo menos 74 pessoas interessadas em ocupá-los. Segundo ele, a PBH não promove licitações para ocupar esses espaços há seis anos, o que explica o abandono do local. Muitos feirantes morrem ou se mudam, e vão sobrando os espaços vazios. A PBH pretende instalar no local a nova sede da Guarda Municipal, e notificou os comerciantes para que eles desocupem o mercado. O prazo vence nesta quinta-feira (10), mas muitos permissionários dizem que não vão arredar o pé do lugar. "Eu vou conseguir recomeçar a vida em outro lugar? É quase impossível", questiona Jair Zanetti.

A questão preocupa os parlamentares que solicitaram a realização da visita. Para o presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), é possível revitalizar o espaço. Ele disse que está tentando sensibilizar a PBH para repensar sua decisão de acabar com o mercado. "As cidades são pensadas só como espaços de lucro ou moradia, e não de lazer, cultura e convivência", comenta o deputado. Ele avalia que o espaço poderia ser melhor aproveitado, com a instalação de agências de correios, bancos e até posto de saúde.

O deputado João Leite (PSDB) considera lamentável a decisão da PBH de acabar com o distrital de Santa Tereza. "Belo Horizonte não é uma cidade histórica, mas Santa Tereza é um sítio histórico que precisa ser preservado", defende. O deputado Ademir Lucas (PSDB) acrescenta que a PBH não tem o direito de mudar a destinação do espaço com uma decisão unilateral. "Foi uma decisão precipitada da prefeitura, que não discutiu a questão com a comunidade", afirmou.

Mercado do Cruzeiro também sob ameaça

Os deputados da comissão também visitaram o mercado distrital do Cruzeiro, onde os comerciantes também estão inseguros quanto ao futuro do local. A presidente da Associação dos Comerciantes do Mercado Distrital do Cruzeiro, Neusa Resende da Fonseca, relata que não recebeu nenhum comunicado oficial da PBH, mas ficou sabendo pela imprensa que existe a intenção de transformar o espaço em uma espécie de centro gastronômico. Os feirantes receberam da prefeitura um comunicado de desafetação, que significa a intenção de mudar a destinação do imóvel. Longe da situação de abandono de Santa Tereza, o mercado do Cruzeiro tem 58 lojas em atividade e recebe cerca de 8 mil pessoas semanalmente.

Para impedir o fechamento dos dois mercados, um grupo de 19 deputados apresentou o Projeto de Lei 1.016/07, que declara os dois espaços tombados pelo patrimônio histórico estadual. Ao final da visita, o deputado Durval Ângelo informou que pretende fazer uma audiência pública conjunta com as comissões que vão analisar o projeto: Constituição e Justiça e Cultura.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; João Leite (PSDB), Ademir Lucas (PSDB), André Quintão (PT), Fábio Avelar (PSC), Ruy Muniz (DEM), Alencar da Silveira Jr. (PDT), Délio Malheiros (PV) e Wander Borges (PSB).

 

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