Agressão a grevistas da Saúde em Contagem tem versões conflitantes

No último dia 26 de abril, uma passeata dos profissionais de Saúde de Contagem, em greve por melhores salários e cond...

08/05/2007 - 00:00
 

Agressão a grevistas da Saúde em Contagem tem versões conflitantes

No último dia 26 de abril, uma passeata dos profissionais de Saúde de Contagem, em greve por melhores salários e condições de trabalho, terminou em pancadaria na Avenida João César de Oliveira. Policiais militares e guardas municipais, a pretexto de conter mais de mil pessoas em apenas uma faixa da avenida, liberando as demais para o trânsito, bateram de cassetete nos manifestantes, deixando dez feridos. O incidente foi debatido acaloradamente em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, iniciada no fim da tarde desta terça-feira (8/5/07), no Plenário da Câmara Municipal de Contagem.

Os fatos foram relatados aos deputados por sindicalistas do SindiSaúde e pelos próprios manifestantes agredidos, e contraditados pelos representantes da Polícia Militar, pelo secretário da Defesa Social de Contagem e pelo comandante da Guarda Municipal presentes à Mesa. A platéia lotada manifestava-se com aplausos, vaias e debates paralelos, exigindo diversas intervenções do presidente da Comissão, deputado Durval Ângelo, para moderar os exaltados.

A enfermeira Roberta Tavares e seus colegas Marco Aurélio Batista, José da Conceição Ferreira Filho e Rose Vieira da Silva, e os sindicalistas Paulo Carvalho, Carlos José da Silva e Fabrício Fernando Aires relataram que a passeata transcorria pacífica, mas extravasava do espaço delimitado pela PM. Por volta das 11h30, os policiais perderam a calma e começaram a agredir os manifestantes. Os depoentes deram os nomes de seus agressores e descreveram as pancadas que receberam. Disseram que, quando começaram a tomar notas dos nomes, os PMs retiraram a identificação de velcro dos uniformes e aumentaram a violência.

Constituição assegura livre direito de manifestação

O major Paulo Antônio dos Santos, comandante da 133ª Cia. da PMMG, disse que a democracia pressupõe direitos e deveres, e que a manifestação estava violando o direito do restante da população da cidade de se locomover. No entanto, o deputado Durval Ângelo exibiu a Constituição Federal e leu o inciso XVI do artigo 5º, que assegura o livre direito de reunião pacífica em lugares públicos, sem armas, sem autorização prévia da autoridade. O deputado assegurou que a Constituição nada menciona sobre trânsito, e disse que a Polícia, nos lugares mais civilizados do mundo, desvia o trânsito para proteger as manifestações populares.

O comandante da Guarda Municipal, major Eid Pereira Jr, disse que sua corporação estava sempre a postos para defender os profissionais de saúde dos riscos de agressão por parte dos pacientes, e tentou desqualificar um dos denunciantes, Marco Aurélio Batista, por estar respondendo a processos na Justiça. Essa atitude foi repudiada pela platéia e pela mesa. Durval Ângelo disse que naquela reunião Batista estava como cidadão e trabalhador, e se tinha contas a prestar à Justiça, isso se resolveria no julgamento.

A principal dificuldade enfrentada pelo major, no entanto, surgiu quando sustentou que apenas dois motociclistas da Guarda Municipal tinham sido enviados para apoiar a Transcon no controle do trânsito, e que ambos tinham sido afastados até que os excessos sejam apurados. Rose Vieira da Silva testemunhou que "uma fileira" de guardas municipais acompanhou a passeata até o ponto de conflito, e o sindicalista Antônio Pedro Lacerda de Almeida assegurou que há fotos que provam o envolvimento de grande número de guardas municipais, cujo uniforme azul-escuro contrasta com o da PM.

Deputado quer guardas municipais nos moldes da extinta Guarda Civil

Outro sindicalista, Fabrício Fernando Aires, desmentiu o afastamento dos guardas agressores, e afirmou que ambos continuavam fardados e intimidando os grevistas. Aires pediu o afastamento do major por "incompetência". O deputado Durval Ângelo insistiu em apurar quem estaria mentindo acerca do número de efetivos da guarda municipal empregados no conflito. O gestor de Defesa Social, Gustavo Tostes, informou que inicialmente foram destacados dois motociclistas, mas depois outro destacamento foi enviado como reforço, devido à dimensão da manifestação.

O deputado João Leite (PSDB), autor do requerimento, disse que é preciso rediscutir o papel das guardas municipais, e que a Assembléia vai dedicar-se no dia 21 de maio a essa discussão. "Eu tinha grandes esperanças na formação das guardas municipais, que fossem uma força cidadã nos moldes da Guarda Civil extinta pelo Movimento Militar de 1964. Infelizmente minhas esperanças não estão se concretizando", lamentou o deputado.

O deputado Carlin Moura (PCdoB), que era vereador em Contagem até o último pleito, defendeu o direito dos trabalhadores de livre manifestação, e disse que a guarda municipal da cidade é uma instituição recente, criada para corresponder a um anseio da sociedade. Moura disse acreditar que os guardas violentos sejam casos isolados, e que tais desvios de conduta deviam ser corrigidos para manter sadia a imagem da corporação.

Requerimentos: Três requerimentos foram aprovados na reunião. O primeiro recebe um abaixo-assinado de líderes comunitários da região da Ressaca, denunciando a má situação do atendimento de saúde na Policlínica e nas farmácias populares. Outros dois requerimentos pedem o envio de cópias das notas taquigráficas da audiência para a Prefeitura, a Polícia Militar, a Corregedoria da Guarda Municipal e para o promotor de Justiça de Contagem, para conhecimento e providências.

Presenças: Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; João Leite (PSDB) e Carlin Moura (PCdoB). Além dos citados acima, participaram o presidente da Câmara Municipal de Contagem, vereador Havaí Salvador, e todos os demais 19 vereadores da cidade.

 

 

 

 

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