Monocultura do eucalipto gera polêmica em Minas Novas

Cerca de 500 pessoas lotaram o ginásio da Escola Estadual Dr. Agostinho da Silveira, em Minas Novas, no Vale do Jequi...

08/05/2007 - 00:00
 

Monocultura do eucalipto gera polêmica em Minas Novas

Cerca de 500 pessoas lotaram o ginásio da Escola Estadual Dr. Agostinho da Silveira, em Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha, para participar da reunião da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, nesta terça-feira (8/5/07), que debateu o avanço da monocultura de eucalipto na região. Enquanto representantes de movimentos populares apresentaram dados de que a monocultura estaria trazendo degradação ambiental e social para o vale, representantes da empresa Acesita Energética afirmaram que sua atuação trouxe desenvolvimento para a região.

A representante do Centro de Assessoria aos Movimentos Populares do Vale do Jequitinhonha (Campo Vale), Conceição Aparecida Luciano, disse que a chegada do eucalipto trouxe degradação ambiental, além de deteriorar as condições de vida da população local. De acordo com Conceição Aparecida Luciano, a Acesita não está respeitando a legislação ambiental brasileira e está plantando eucalipto nas nascentes dos rios. Ela afirmou ainda que a monocultura de eucalipto utilizou terras que há muito tempo já eram ocupadas por trabalhadores rurais.

Entretanto, o presidente da Acesita Energética explicou que as terras onde existe a monocultura do eucalipto foram compradas pela empresa do governo estadual na década de 1970, sendo que a transação foi aprovada por vários órgãos públicos, entre eles, o Senado Federal e a Assembléia. Segundo ele, as terras do Vale do Jequitinhonha que possuem plantação de eucalipto encontram-se em situação melhor do que o restante da região. O diretor florestal da Acesita, Paulo Sadi, afirmou que nas terras que foram adquiridas pela empresa eram do Estado e não havia população no local.

Segundo o diretor florestal, atualmente a Acesita possui 126 mil hectares no Vale do Jequitinhonha, sendo que 33 mil hectares fazem parte de reserva ambiental.Investimentos - Paulo Sadi destacou ainda que a empresa gera desenvolvimento na região, investindo a cada cinco anos mais de R$ 250 milhões. "A Acesita também é responsável pela geração de três mil empregos, sendo que cada 25 hectares plantados corresponde a um emprego gerado", destacou. Outro dado apresentado pelo diretor florestal foi o crescimento significativo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios da região, com Capelinha, Minas Novas e Itamarandiba. "Foram os municípios em Minas Gerais que apresentaram o maior crescimento do IDH", afirmou.

Pesquisadores apresentam dados desfavoráveis ao eucalipto

A monocultura do eucalipto no Vale do Jequitinhonha estaria gerando degradação ambiental e social. Essa é a opinião dos engenheiros ambientais, Juliana Calixto e Vico Mendes Pereira, que apresentaram dados de pesquisa desenvolvida na região. Segundo Juliana Calixto, o principal resultado da monocultura de eucalipto no Vale foi a concentração de terras. Ela afirmou que, em 1970, a agricultura familiar ocupava 65% da área e que, em 2005, essa área ocupada pelos trabalhadores rurais foi reduzida a 31%.

De acordo com Juliana Calixto, atualmente 50% da área na região pertence às grandes propriedades. Ela ainda apresentou dados sobre a geração de empregos contrários aos apresentados pelos representantes da Acesita. De acordo com a engenheira ambiental, a empresa gera apenas um emprego a cada 82 hectares, enquanto a agricultura familiar geraria um emprego a cada quatro hectares.

Juliana Calixto também discordou dos dados apresentados pela Acesita quanto ao desenvolvimento econômico da região. "Meus estudos indicam que a agricultura familiar é responsável por movimentar na região anualmente R$ 79 milhões, enquanto a Acesita movimenta apenas R$ 15 milhões", afirmou. Para ela, a pesquisa indica que, mesmo sem receber apoio governamental, a agricultura familiar no Vale do Jequitinhonha gera mais emprego e renda para a região.

Já o engenheiro ambiental Vico Mendes Pereira apresentou dados indicando que a monocultura do eucalipto estaria contribuindo para a degradação ambiental. Segundo ele, o estudo realizado indica que a monocultura do eucalipto possui uma capacidade menor de armazenamento de água do que o cerrado. "As nascentes dos rios estão sendo afetadas com a plantação do eucalipto", afirmou.

Deputados defendem ponto de equilíbrio

Os deputados Padre João (PT), vice-presidente da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial e autor do requerimento para realização da reunião, e Carlos Pimenta (PDT) defenderam o papel da Assembléia para intermediar a questão visando encontrar uma solução para o impasse provocado pelo plantio do eucalipto na região. O deputado Padre João afirmou que é preciso construir um caminho para que todos possam ter qualidade de vida, em especial a população local do Vale do Jequitinhonha. Para ele, se por um lado a Acesita possui as terras, por outro lado, é justa a reivindicação dos trabalhadores rurais que querem ficar no campo mas não possuem terra. Padre João ainda considerou que é importante verificar se a empresa possui todas as licenças ambientais para o cultivo do eucalipto.

Já o deputado Carlos Pimenta considerou que é preciso encontrar um ponto de equilíbrio, pois tanto a monocultura do eucalipto quanto a agricultura familiar são importantes para a economia e o desenvolvimento da região. Carlos Pimenta também defendeu uma presença maior do governo estadual e federal no Vale do Jequitinhonha, com o investimento de recursos para solucionar o problema da terra.

Manifestações - Durante os debates, várias manifestações contrárias e favoráveis à presença da Acesita Energética e da monocultura do eucalipto foram feitas por professores universitários, trabalhadores rurais, trabalhadores sem-terra e por representantes comunitários. Também estiveram presentes prefeitos de vários municípios da região, entre eles, de Itamarandiba, Minas Novas, Turmalina, Capelinha e Veredinha.

O prefeito de Itamarandiba e presidente da Associação dos Municípios do Alto e Médio Jequitinhonha (Amaje), Afonson Arinos de Campos, defendeu a atuação de empresas como a Acesita Energética na região. Segundo ele, a presença da empresa trouxe progresso e desenvolvimento, melhorando a infra-estrutura e a situação econômica do Vale do Jequitinhonha. Já o representante da Comissão Pastoral da Terra, frei Gilvander Luiz Moreira, disse que a monocultura do eucalipto não gera renda para a população local, além de prejudicar o meio-ambiente.

Presenças - Deputados Padre João (PT), vice-presidente da comissão; Carlos Pimenta (PDT); e, além das autoridades citadas, o presidente do Instituto de Terras do Estado de Minas Gerais (Iter), Luiz Antônio Chaves; o prefeito de Minas Novas, José Henrique Gomes Xavier; o presidente da Câmara Municipal de Minas Novas, vereador Jairton Edimilson Vieira de Castro.

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715