Material genético de parentes de desaparecidos na ditadura é
recolhido
Para as famílias das vítimas da violência do regime
militar, a tortura ainda não acabou. Passados mais de 20 anos do fim
da ditadura, eles ainda não tiveram o direito de enterrar seus
familiares, tampouco saber como, quando e onde foram mortos. Pelo
menos para 13 parentes de desaparecidos políticos mineiros, abriu-se
uma perspectiva na tarde desta segunda-feira (7/5/07), quando eles
tiveram mostras de sangue coletadas para o Banco de DNA de Mortos e
Dasaparecidos Políticos Brasileiros, a fim de identificar as ossadas
que estão atualmente sob tutela da Secretaria Especial dos Direitos
Humanos da Presidência da República. Representando a Comissão de
Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, os
deputados Durval Ângelo (PT) e Carlin Moura (PCdoB) participaram do
ato público, no Instituto Helena Greco, em Belo Horizonte.
Os familiares de Antônio Joaquim de Souza estão
entre os que lutam há mais de três décadas para saber o que
aconteceu com o jovem advogado, preso pela Marinha no Rio de
Janeiro, em fevereiro de 1972, quando tinha 29 anos. "Ele saiu para
trabalhar e nunca mais voltou. Fomos informados pouco depois de que
ele fora preso, acusado de subversão. Desde então, nunca mais
desistimos de saber o que houve. Só teremos paz depois que a verdade
vier à tona", contou Maria Rosa Campos Magalhães, irmã da vítima. A
família só conseguiu a certidão de óbito de Antônio Joaquim em 1996,
assim mesmo, o documento traz motivo e local da morte "ignorados".
Segundo o ministro da Secretaria Especial de
Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, há atualmente no Brasil 150
desaparecidos políticos, pessoas que sumiram na época da ditadura e
nunca mais foram vistas. Ele se comprometeu a fazer o possível para
acelerar o processo de identificação e reconheceu que há
dificuldades: "a principal delas é localizar o paradeiro de mais
ossadas. Vamos ouvir escritores, militantes, jornalistas,
pesquisadores e qualquer pessoa que possa nos dar pistas. Um Estado
Democrático de Direito não pode conviver com indefinições como essa.
Os desaparecidos não eram bandidos, não eram terroristas, mas gente
que lutava por um Brasil melhor. Até os povos mais primitivos
permitiam a seus inimigos enterrar seus mortos com dignidade",
afirmou.
O deputado Durval Ângelo ressaltou a importância do
procedimento. "Não se trata apenas de uma simples coleta de sangue.
O contexto é muito maior, serve para acender a luta pela apuração
dos crimes ocorridos num período negro de nossa história. Precisamos
abrir os arquivos da ditadura", opinou.
|