MP denuncia irregularidades no sistema de táxis da
Capital
Representantes do Ministério Público Estadual (MP)
apresentaram às Comissões de Turismo, Indústria, Comércio e
Cooperativismo e de Assuntos Municipais e Regionalização da
Assembléia Legislativa de Minas Gerais explicações para a ação civil
pública impetrada pelo órgão que obrigaria a BHTrans a licitar os
quase 6 mil permissionários de táxi de Belo Horizonte. Em reunião
conjunta das comissões, realizada a pedido do deputado Vanderlei
Miranda (PMDB), na manhã desta quinta-feira (3/5/07), representantes
dos taxistas questionaram a medida, tendo em vista o impacto social
das licitações.
O promotor do MP, Leonardo Barbabela, um dos
autores da ação civil pública, disse que a forma como a BHTrans
concede as placas de táxi na Capital fere a Constituição Federal,
por se tratar de processo irregular e ilegítimo. Segundo ele, os
critérios para a permissão de uso das placas são definidos com base
em um Ato Normativo da BHTrans, sem a realização de licitação
pública, conforme obriga a legislação. "Mais que isso, a
transferência das concessões a terceiros feita pelos permissionários
representa a comercialização de um bem público", disse. O MP propôs
um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que concederia as placas
por 20 anos, prorrogáveis por mais 20, sem a possibilidade de
transferência, mas a BHTrans e os taxistas não concordam. O também
promotor do MP, João Medeiros, disse que o TAC seria aplicado
durante o julgamento da ação e atenderia aos profissionais, sem
prejudicar a Constituição. "A inconstitucionalidade e a ilegalidade
nas transferências de concessão de placas de táxi são flagrantes e a
ação quer pôr fim a essa anomalia", concluiu.
O assessor da BHTrans, José de Fátima Furbino,
defendeu o órgão ao afirmar que o sistema de táxi em Belo Horizonte
é considerado o melhor da América Latina e serve de referência para
outros Estados brasileiros. De acordo com ele, o documento que
regulamenta o serviço foi construído com base nos preceitos da Lei
Orgânica do Município e em consenso com os permissionários e
auxiliares que atuam em Minas. "Entendemos que o sistema é legal e
legítimo, pois disciplina e prevê todos os critérios de concessão do
uso de táxi na Capital", afirmou, "Não estamos abrindo mão dos
preceitos legais, só queremos que o processo licitatório aconteça
dentro da lei, que permite sua realização até 2010", ponderou. Sobre
as denúncias de que haveria empresas sublocando placas de táxi no
Estado, a BHTrans colocou-se à disposição para auxiliar nas
investigações.
Taxistas alertam para impacto social das
licitações
"Não podemos acabar com o melhor sistema da América
Latina e pôr em risco a sobrevivência de milhares de pessoas que
vivem do serviço". O apelo foi feito pelo presidente da Cooperativa
Mista de Transporte de Passageiros de Minas Gerais, Sérgio Antônio
Cunha. Segundo ele, é preciso que o MP aja com cautela, pois se
trata de um processo de alta relevância social.
Os presidentes da Cooperativa de Rádio Comunicação
de Belo Horizonte, Gérson Lemos; da Coomotáxi, Antônio Francisco da
Silva; da Federação Nacional dos Taxistas, Edgar Ferreira de Souza,
e da Coavemig, Tânia Alvarenga, concordaram. Para eles, o sistema
funciona normalmente e a perda da concessão das placas dos atuais
permissionários representará uma catástrofe social. "Há
profissionais que ficaram doentes em conseqüência da insegurança e
medo de perderem seu ganha-pão. É preciso que haja razoabilidade e
sensibilidade por parte do MP", pediu Sérgio Antônio.
Para Edgar Ferreira de Souza, o maior prejudicado
com a medida será o usuário. Segundo ele, o sistema de táxi de Belo
Horizonte é o mais qualificado do Brasil, graças ao rigor na
fiscalização feita pela BHTrans. "Está sendo perdido o foco da
população fixa e flutuante da Capital, que hoje é um importante
centro de turismo de negócios do País. A lei não pode retroagir para
prejudicar o profissional e, principalmente, o usuário",
disse.
Deputados propõem debate que contemple todos os
envolvidos
O deputado Wander Borges (PSB) sugeriu, ao final da
reunião, que seja feito um diagnóstico consolidado da real situação
do sistema de táxi em Belo Horizonte, para que se defina a melhor
forma de condução do processo. Para ele, o ideal é que se realize um
debate que envolva BHTrans, Prefeitura de Belo Horizonte, ALMG e
Ministério Público. "É fundamental que façamos juntos um
levantamento das demandas e do universo de taxistas na Capital, para
que a ação civil pública seja eficaz e traga melhoria para todos",
solicitou.
Para o deputado Vanderlei Miranda, é preciso haver
flexibilidade, para que a maioria dos envolvidos seja atendida.
"Precisamos ajustar a condução do processo até 2010, conforme
determina a lei", disse. Já o deputado Délio Malheiros (PV) alertou
para necessidade urgente de se dar tranqüilidade aos profissionais e
seus familiares. "O sistema envolve toda a Região Metropolitana de
Belo Horizonte e a maioria que trabalha de forma regular não pode
pagar uma minoria que realiza transferências irregulares", concluiu.
Presenças - Deputados Vanderlei Miranda
(PDMB), presidente; Wander Borges (PSB) e Délio Malheiros
(PV).
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