Em Minas Gerais, 50% do gado abatido é ilegal

O abate ilegal de bovinos foi discutido na reunião desta quinta-feira (26/4/07) da Comissão de Política Agropecuária ...

26/04/2007 - 00:00
 

Em Minas Gerais, 50% do gado abatido é ilegal

O abate ilegal de bovinos foi discutido na reunião desta quinta-feira (26/4/07) da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Durante o debate, o diretor técnico do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Pedro Hartung, afirmou que 50% do gado abatido em Minas Gerais é clandestino. "Temos 1 milhão de cabeças no Estado e exportamos 2 milhões de couros", avaliando que a única explicação para o fato é a clandestinidade do abate. Na mesma reunião foi aprovado com emendas o parecer de 1° turno ao Projeto de Lei (PL) 409/07, de autoria do governador.

O requerimento para a realização da reunião, proposta pelo então presidente da comissão, o ex-deputado Vanderlei Jangrossi (PP), foi assinado também pelos deputados Padre João (PT), Getúlio Neiva (PMDB), Antônio Carlos Arantes (PSC) e Chico Uejo (PSB). Presidido pelo vice-presidente da comissão, Padre João, o debate começou com a fala do cidadão Júlio Mendes, que apresentou a denúncia e suscitou a reunião.

Júlio afirmou que "um governo comprometido com a qualidade de vida não pode se furtar a discutir esse assunto. Estado e prefeituras não têm dado atenção a esse problema, que se arrasta há anos". Ele pediu que o governo faça investimentos para ajudar municípios a ter abatedouros em conformidade com a legislação, além de promover ações educativas em conjunto com o Ministério Público e intensificar a fiscalização do IMA. "As entidades públicas deveriam realizar uma força-tarefa contra os abatedouros ilegais", sugeriu.

O diretor técnico do IMA, Pedro Hartung, argumentou que existe política estadual para o setor, e que o governo do Estado não está inerte. "Trabalhamos com seriedade, firmeza e equilíbrio. Um exemplo é o Programa Minas Carne, que tem interface com vários órgãos do Estado", disse. Em abril do ano passado, o governo estadual lançou o programa Minas Carne, que visa fortalecer a cadeia produtiva e aumentar as exportações mineiras. Esse programa prevê também a implantação de abatedouros regionais e centrais municipais de desossa e distribuição de carne para erradicar o abate clandestino.

Hartung também ressaltou que a guerra fiscal tem sido causa do fechamento de muitos frigoríficos no Estado, o que gera aumento do abate ilegal de gado, para atendimento do mercado. "Até o momento, já são 17 frigoríficos de grande porte fechados", informou. "A certificação e a defesa sanitária fazem parte do projeto estruturador do governo, o que também é um avanço".

O diretor da Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde, Nilton Cabral Vasconcelos Neto, afirmou ser imprescindível trabalhar com o conceito de consciência sanitária e que as secretarias de Agricultura e Fazenda e o Ministério Público estão trabalhando juntos em torno do tema, procurando uma "forma de contemplar a seguridade alimentar". "Os abatedouros regionais e o fortalecimento da cadeia de transporte são algumas das alternativas a essa situação", disse. A diretora adjunta do órgão, Cláudia Parma Machado, solicitou que o tema seja tratado em um seminário. "A Assembléia sempre foi um fórum local muito importante. Um seminário organizado por essa Casa fortaleceria as ações já desencadeadas", argumentou.

O deputado Padre João lamentou a ausência de representantes do Ministério Público à reunião. Sobre o incentivo à legalização dos abatedouros, ele salientou que o IMA poderia oferecer as orientações básicas para construção de locais de abate, de acordo com a legislação vigente. "A exemplo da Emater, que oferece a planta completa de uma agroindústria", comentou. Segundo informações da Agência Minas, os maiores índices de abate clandestino são registrados no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha. O diretor do IMA, Paulo Hartung, afirmou que o instituto já dispôs de um setor encarregado de elaborar projetos dentro das normas sanitárias e com baixo custo. No entanto, segundo ele, todas as plantas estavam sendo consideradas ilegais por não se adequarem às exigências federais e o setor foi desativado.

Deputados defendem privatização de abatedouros

O deputado Getúlio Neiva defendeu a privatização dos abatedouros e teve o apoio do colega Antônio Carlos Arantes, do diretor do IMA, Paulo Hartung e do coordenador do Minas Carne, João Batista de Lima Soares. De acordo com Arantes, seriam necessários de R$ 700 mil a R$ 1 milhão para a instalação de um abatedouro pequeno e as prefeituras não têm condições de arcar com esse custo. "Além disso, é tanta burocracia que alguns prefeitos chegam a perder verbas por não conseguirem aprovar o projeto dos abatedouros", continuou.

Flexibilização - Os deputados Getúlio Neiva, Chico Uejo e Antônio Carlos Arantes defenderam a flexibilização das normas para que o produtor não tivesse tanta dificuldade em se adequar à legislação. "Seria possível relaxar um pouco as exigências e ainda assim atender o mercado externo?", questionou Chico Uejo. "A fiscalização não poderia ser mais preventiva que punitiva", continuou. Para Arantes, seriam necessários mecanismos de simplificação, sem perder a qualidade. Já o deputado Padre João não acredita que seja possível simplificar uma questão tão complexa. Segundo ele, o que está em jogo é a segurança alimentar, o direito do consumidor de ter acesso a um produto de qualidade.

Ao final da reunião, o deputado Padre João informou que apresentará requerimento da comissão, em Plenário, pedindo uma reunião de debates para continuar a discussão sobre o tema, com a participação dos ministérios e secretarias de Estado ligadas ao tema, deputados federais, representantes do Ministério Público e da Associação Mineira de Municípios. O ex-deputado Vandereli Jangrossi enfatizou que o assunto precisa mesmo ser debatido com mais profundidade porque o consumidor continua comendo carne de abatedouros clandestinos. "As soluções precisam sair do papel", concluiu.

Subvenção ao seguro rural recebe parecer de 1º turno

Após debate extenso entre os deputados, foi aprovado o parecer de 1º turno, com emendas, ao PL 409/07, do governador do Estado, que dispõe sobre a subvenção econômica ao prêmio do seguro rural. A relatoria do projeto é do deputado Padre João. O projeto tem o objetivo de cumprir o artigo 83 da Lei 11.405, de 1994, que contém as diretrizes da política de desenvolvimento agrícola do Estado. A subvenção econômica ao prêmio do seguro rural é o instrumento técnico de operacionalização de redução do valor do prêmio do seguro rural que consiste na implementação de um programa estadual, gerido e executado pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), no qual o Estado assume, pecuniariamente, parte do prêmio de seguro rural contratado junto às seguradoras habilitadas a operar no programa.

O prêmio de seguro rural é o valor a ser pago a título de custo de contratação do seguro rural. "Esse projeto é um anseio de décadas nosso e dos agricultores do Estado", lembrou o deputado Padre João. "Estamos votando um dos instrumentos mais importantes para a garantia da safra em nosso Estado", comentou o deputado Getúlio Neiva.

De acordo com o projeto, a subvenção econômica, destinada a cobrir parte do custo do prêmio do seguro rural, tem como objetivo ampliar o acesso a esse seguro, propiciando a sua disseminação no meio rural; atender às necessidades dos pequenos produtores, garantindo ao segurado a cobertura das perdas provenientes de adversidades incontroláveis de origens diversas; incorporar o seguro rural como instrumento para a estabilidade da renda agropecuária; e desenvolver o uso de tecnologias adequadas e modernizar a gestão do empreendimento agropecuário.

Emendas - Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o projeto recebeu três emendas, que retiram do texto do projeto menções feitas aos "pequenos produtores rurais", substituindo-as por "produtores rurais", apenas. A Comissão de Política Agropecuária aprovou parecer favorável ao PL, com as emendas nº 2 e 3, da CCJ, com as emendas nº 4 a 7, e com a Subemenda nº 1 à Emenda nº 1, da CCJ. A Subemenda modifica a terminologia "pequeno produtor" por "agricultor familiar", segundo o relator "em consonância com a Lei Federal 11.326, de 2006, que traz as diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar". A Emenda n. 4 faz referência à "prioridade às atividades dos agricultores familiares".

Já a Emenda n. 5 inclui a participação de câmara especializada do Conselho Estadual de Política Agrícola (Cepa) no planejamento e na execução do programa. Logo após a aprovação do parecer, o deputado Getúlio Neiva pediu a exclusão do trecho "e na execução". O debate entre os deputados se estendeu por conta da impossibilidade regimental de voltar atrás na votação para contemplar o pedido de Neiva. Padre João salientou que a alteração pode ser feita ainda no 1º turno, na Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária ou no Plenário, sem prejuízo do tempo de tramitação.

A Emenda nº 6 modifica o artigo 5º, que trata dos objetivos da subvenção econômica, ressaltando, novamente, a prioridade aos agricultores familiares, além da ênfase às práticas agroecológicas. A Emenda nº 7 altera o artigo 7º, que define os beneficiários da subvenção econômica, estendendo a prioridade dada aos agricultores familiares a "outros grupos, como posseiros, arrendatários, meeiros e assentados, povos e comunidades tradicionais e pescadores artesanais, aqüicultores e extrativistas".

Proposições - Na reunião, foi aprovado o parecer favorável ao Projeto de Resolução (PRE) 361/07, que aprova a alienação de terra devoluta, em Rio Pardo de Minas. O PL 496/07, que dispõe sobre a Política Estadual de Incentivo à Cultura da Bucha Vegetal, não teve parecer apreciado. O relator, deputado Antônio Carlos Arantes, apresentou requerimento (que foi aprovado) solicitando que o PL seja baixado em diligência à Seapa, para receber opinião sobre a conveniência do projeto.

Outros dois requerimentos foram aprovados. Do deputado Paulo Guedes, que solicitava realização de audiência pública em Janaúba, sobre o incentivo à produção de mandioca. O requerimento aprovado modificou o local do evento, que será a ALMG. Do deputado Doutor Viana, foi aprovada solicitação de audiência pública em Curvelo, para debater a repercussão no agronegócio local da construção de barragens na região.

Presenças - Deputados Padre João (PT), Getúlio Neiva (PMDB), Antônio Carlos Arantes (PSC) e Chico Uejo (PSB). Como convidados, além dos citados na matéria, estiveram presentes o diretor-geral do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Altino Rodrigues Neto; e o gerente de inspeção de produtos Renato Nunes de Faria.

 

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