Projeto de tombamento procura salvar mercados distritais em BH

A defesa dos mercados distritais do Cruzeiro e de Santa Tereza, em Belo Horizonte, que estão ameaçados de desativação...

26/04/2007 - 00:00
 

Projeto de tombamento procura salvar mercados distritais em BH

A defesa dos mercados distritais do Cruzeiro e de Santa Tereza, em Belo Horizonte, que estão ameaçados de desativação pela Prefeitura de Belo Horizonte, ganhou importantes reforços durante audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, realizada na manhã desta quinta-feira (26/4/07). Os deputados João Leite (PSDB), Ademir Lucas (PSDB) e Durval Ângelo (PT), assinaram projeto de lei pedindo o tombamento das estruturas pelo Patrimônio Histórico.

Artistas importantes e agitadores culturais estão se engajando no movimento de resistência dos feirantes. Um deles é Yé Borges, presidente da Associação dos Moradores do Bairro Santa Tereza, membro de uma das famílias que formaram o Clube da Esquina. Outro é o poeta Chico Amaral, letrista do conjunto Skank. Amaral denunciou que a Prefeitura pretende fazer um projeto "modernoso" inspirado nos shoppings, para abrigar bares yuppies e um estacionamento para os alunos da Fumec. "Aquela região não precisa de mais bares, nem de estacionamentos", disse o poeta.

Yé Borges protestou contra o autoritarismo da Prefeitura, por não consultar a comunidade antes de formular um projeto que descaracteriza um espaço público e despersonaliza o bairro Santa Tereza. Disse que sua associação acionou o Ministério Público e que está encontrando grande apoio no promotor de Justiça João Medeiros Neto.

Inúmeros feirantes relataram suas histórias de vida, como dependem de suas lojas para viver e criar a família, e consideraram truculenta e covarde a maneira como a Prefeitura pretende despejá-los, sem propostas de recolocação ou alternativas para sua sobrevivência. Sérgio Martins, churrasqueiro há 15 anos no Cruzeiro, disse que Fernando Pimentel foi lá pedir votos e apertou a mão de todos. "Agora vem nos apunhalar pelas costas. Onde estão nossos vereadores? Para que servem?", indagou.

Mário de Assis pediu o engajamento do deputado André Quintão (PT), que é de Santa Tereza e foi eleito pelo bairro. Lembrou que o bairro é de terceira idade e que a administração precisa respeitar o direito dos velhinhos de caminhar até o mercado para comprar suas verduras. O concessionário do restaurante Sentido do Gosto, argumentou que o usuário procura não só produtos de qualidade, mas entretenimento e comida autêntica, que não se encontra nos shoppings.

Mercados são testemunhas da história, abrigos da arte e da cultura

A audiência pública foi marcada a requerimento do deputado João Leite, mas ele atribuiu a iniciativa ao deputado Ademir Lucas. O presidente da Comissão, deputado Durval Ângelo (PT), constatou mais uma vez a ausência de representantes da Prefeitura, mas ressalvou que, desta vez, os convites foram emitidos com atraso, o que pode ter contribuído para que a PBH não enviasse representantes. Os feirantes e freqüentadores dos mercados, porém, compareceram em peso, lotando o auditório da Assembléia.

Durval relatou uma visita recente que fez ao mercado San José, em Barcelona, construído há 500 anos e uma das mais importantes referências culturais da Espanha. Na sua opinião, o turismo em Belo Horizonte depende essencialmente dos bares, botecos e dos pontos de encontro tradicionais da comunidade.

João Leite também reforçou a importância dos mercados para a história e a cultura de Belo Horizonte. "Em vez de propor sua revitalização, melhorar a segurança e a iluminação, tentam fechar a nossa história. Querem construir um quartel da Guarda Municipal em Santa Tereza e um estacionamento no Cruzeiro. E o mais grave é o desconhecimento, a falta de diálogo com a população", disse Leite.

O deputado Ademir Lucas também fez um amplo relato da importância do papel dos mercados e das feiras na história de Minas, desde os bandeirantes e dos tropeiros que os abasteciam. Segundo ele, a tradição criada nas cidades históricas, onde os mercados eram pontos de disseminação de idéias políticas e movimentos culturais, é importante até hoje, além do papel essencial de abastecimento que cumprem. Em seguida, exibiu o que considera uma incongruência: um guia turístico da Prefeitura de Belo Horizonte recomendando os mercados distritais como pontos de encontro e lazer.

Ameaças de fechamento são antigas

Os representantes dos feirantes relataram que as tentativas de desalojá-los não são recentes. Giovani Laureano Teixeira, presidente da Associação dos Permissionários do Mercado Distrital de Santa Tereza, disse que a Prefeitura instalou ali a cozinha industrial dos restaurantes populares, sem contribuir para os custos de manutenção do local, e vem mantendo a pressão para expulsá-los. Neusa Resende da Fonseca, do Distrital do Cruzeiro, informou que há 58 lojas em funcionamento com produtos de primeira e 500 funcionários que dependem daquele trabalho. Muitos são idosos que não conseguiriam outro emprego.

No encerramento da reunião, o deputado Durval Ângelo assegurou que o projeto de lei de tombamento entrará em tramitação o mais rápido possível, e que os deputados se encarregariam de colher assinaturas dos presidentes das comissões mais importantes. No entanto, conclamou os feirantes a manterem a luta e os compromissos assumidos ali. "Nós apenas abrimos as portas, mas são vocês que passarão por elas", afirmou.

Requerimentos - Dois requerimentos foram aprovados na reunião. Um pede a realização de uma audiência pública na Câmara Municipal, para envolver os vereadores na causa dos mercados. O outro programa visitas aos dois mercados distritais, para atrair atenção para o tema.

Presenças: Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; João Leite (PSDB) e Ademir Lucas (PSDB).

 

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