Contratualização em hospitais filantrópicos divide opiniões

Os pontos positivos e os pontos negativos do Programa de Reestruturação e Contratualização dos Hospitais Filantrópico...

25/04/2007 - 00:00
 

Contratualização em hospitais filantrópicos divide opiniões

Os pontos positivos e os pontos negativos do Programa de Reestruturação e Contratualização dos Hospitais Filantrópicos conveniados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foram debatidos, nesta quarta-feira (25/4/07), na reunião da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Enquanto os representantes do Ministério da Saúde e da Secretária de Estado da Saúde (SES) explicaram o funcionamento do programa de contratualização, e mostraram os benefícios das alterações desse novo modelo de organização e financiamento da rede hospitalar, os representantes dos hospitais e de associações hospitalares apresentaram as dificuldades trazidas pelo programa e deram sugestões de modificações que podem ser feitas.

O médico e representante do Ministério da Saúde, José Júlio Freire, afirmou que o programa tem como objetivo reduzir os alto níveis de informalidade na gestão pública da saúde. A superintendente de Regulação da SES, Myriam Araújo Coelho, e a coordenadora do PRO-HOSP, Marilene Fabri Lima, explicaram as alterações trazidas pelo programa de contratualização e como ele está sendo implantado em Minas Gerais. Através da contratualização, o representante legal do hospital e o gestor municipal ou estadual do SUS firmam um contrato ou convênio no qual estabelecem metas quantitativas e qualitativas que visem à melhoria do atendimento. De acordo com Marilene Fabri Lima, em Minas Gerais, o programa de contratualização está sendo integrado às políticas de melhoria da qualidade da assistência hospitalar já existentes, como o PRO-HOSP, que também repassa recursos aos hospitais. Segundo ela, no Estado, 130 hospitais já aderiram ao programa.

Myriam Araújo Coelho explicou que o programa oferece aos hospitais o repasse de recursos de duas maneiras distintas. Para os procedimentos definidos pela tabela do SUS como de alta complexidade, permanece o sistema anterior, em que os hospitais recebem o pagamento por cada serviço prestado. Já para os procedimentos de média complexidade é definido um valor pré-fixado a ser recebido pelo hospital, sendo que o recebimento integral da quantia está atrelado ao cumprimento de metas de produção (total de procedimentos realizados) e de qualidade (implantação e desenvolvimento de políticas assistenciais, de formação e de gestão hospitalar). De acordo com a superintendente da SES, nos hospitais que se candidataram a participar do programa, esse valor foi definido a partir de uma média de serviços realizados no período de outubro de 2005 a setembro de 2006.

Novos recursos - As representantes da SES explicaram que o Ministério da Saúde ofereceu aos hospitais que aderiram à contratualização um incentivo financeiro (IAC), cujo valor é calculado a partir da produtividade de cada instituição. Segundo Marilene Fabri Lima, em 2006, o Ministério da Saúde pagou um valor correspondente a 40% do IAC aos hospitais e, neste ano, já existe a previsão para o pagamento de 100% da quantia definida, em 12 vezes. Ela apresentou vários exemplos dos valores dos recursos do IAC que os hospitais filantrópicos estão recebendo, como a Fundação Hospitalar de Montes Claros, que deve receber em 2007 mais de R$ 900 mil.

Representantes dos hospitais apontam problemas no contrato

O secretário executivo da Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos de Minas Gerais (Federassantas), Saulo Converso Lara, afirmou que o programa de contratualização precisa de modificações. Segundo ele, hoje os hospitais filantrópicos vêm passando por grandes dificuldades financeiras, sendo que são responsáveis por 58% do atendimento da clientela do SUS. Ele diz que em municípios como Juiz de Fora, Divinópolis e Belo Horizonte, as instituições filantrópicas têm encontrado dificuldades para aderir ao programa.

Lara ainda apontou alguns problemas existentes no contrato, como a ausência de fixação de uma data para o repasse dos recursos e de correção dos valores. "Entretanto, considero como uma medida positiva o contrato vincular o repasse de parte dos recursos ao cumprimento de metas de desempenho pelos hospitais", afirmou. O presidente da Associação dos Hospitais de Minas Gerais, Carlos Eduardo Ferreira, disse que o contrato apresentado pelo Ministério da Saúde é arbitrário e unilateral. "Nos encaminhamos um ofício ao ministro da Saúde solicitando a realização de modificações", informou.

Segundo a advogada da Associação dos Hospitais de Minas Gerais, Kátia Rocha, a assinatura do contrato em sua forma atual pode trazer conseqüências negativas para os estados, municípios, hospitais, e para os usuários. Ela explicou que o contrato prevê que, no caso de os hospitais ultrapassarem o limite dos valores repassados para a execução dos procedimentos, o Ministério da Saúde não será responsável pelo pagamento do excedente e sim os estados e municípios. Kátia Rocha ainda destacou que o governo federal está atraindo os hospitais para o programa através dos novos recursos oferecidos (IAC), mas que não existe nenhuma garantia de que nos próximos anos esses valores continuarão a serem pagos.

O superintendente da Santa Casa de Montes Claros, Samuel Souza Figueira, defendeu a correção da tabela do SUS e apresentou as dificuldades financeiras do hospital. Ele afirmou que a instituição é um destaque nacional no atendimento pelo SUS, tendo recebido o maior valor pago pelo Ministério da Saúde através do IAC, mas que mesmo assim enfrenta grande crise financeira. Segundo Samuel Souza Figueira, devido aos valores desatualizados da tabela do SUS, em 2006, o hospital apresentou um déficit de mais de R$ 10 milhões.

Deputados apontam falta de verbas como principal problema

Os parlamentares concluíram, após as intervenções dos convidados, que a redução do repasse federal de verbas para a saúde é a principal causa do caos no sistema. Segundo o deputado Rêmolo Aloise (PSDB), desde a criação do SUS, o financiamento para a saúde caiu pela metade. Para ele, o sistema é fadado à falência. Para o deputado Doutor Rinaldo (PSB), o Ministério da Saúde vem garantindo o desenvolvimento de programas de prevenção, mas não assegura a atenção ao doente e ao profissional. "Existem hospitais em Minas que não têm interesse em fazer convênios com o SUS, afinal, não vale a pena trabalhar com a quantidade de verbas que o governo repassa", disse.

Os deputados Carlos Mosconi (PSDB), presidente da Comissão de Saúde; Ruy Muniz (DEM) e Carlos Pimenta (PDT) e a deputada Ana Maria Resende (PSDB) lembraram que o reajuste da tabela do SUS deve ser feito com urgência. "A remuneração mais justa aos hospitais é o mínimo para manter os funcionamento dessas instituições filantrópicas. Concordo com a contratualização, pois além de tornar o financiamento mais viável, será a oportunidade para se avaliar melhor a qualidade dos serviços prestados", afirmou Ruy Muniz.

Ao final, o representante do Ministério da Saúde, José Júlio Freire, e o presidente da Associação dos Hospitais, Carlos Eduardo Ferreira, pediram aos deputados e demais convidados que façam pressão para que a contratualização seja implantada de forma a beneficiar as instituições e, principalmente, o usuário do SUS. Já o procurador de Justiça, Antônio Joaquim Fernandes Neto, defendeu o processo de contratualização, pois, para ele, somente através da assinatura de contratos é possível estabelecer metas e definir responsabilidades.

Requerimentos - Na reunião foram aprovados quatro requerimentos. O primeiro, dos deputados Carlos Mosconi e Roberto Carvalho (PT), solicita a realização de um debate público para avaliar a situação dos hospitais em Minas Gerais em virtude da falta de regulamentação da Emenda 29, à Constituição Federal. O segundo, do deputado Dinis Pinheiro (PSDB), pede a realização de uma audiência pública para debater a diabetes infantil e seus tratamentos. O terceiro, da deputada Ana Maria Resende, solicita a realização de audiência pública conjunta com as Comissões de Saúde e de Educação, Ciência, Tecnologia e Informática para debater as conseqüências das hiperatividade e o déficit de atenção na saúde pública. E o último requerimento, apresentado pelo deputado Ruy Muniz, solicita o encaminhamento de votos de congratulações aos diretores da empresa Novo Nordisk, que está instalando uma fábrica de insulina em Montes Claros.

Presenças - Deputados Carlos Mosconi (PSDB), presidente da comissão; Hely Tarqüínio (PV), vice-presidente; Carlos Pimenta (PDT), Doutor Rinaldo (PSB), Ruy Muniz (DEM), Ana Maria Resende (PSDB), Rêmolo Aloise (PSDB), Carlin Moura (PCdoB) e Gil Pereira (PP); e além dos convidados já citados o consultor jurídico do Colegiado dos Secretários Municipais de Saúde de Minas Gerais.

 

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