Professor indiano fala sobre direitos humanos na conquista da
paz
Direitos Humanos não são só uma luta contra as
arbitrariedades e a prepotência. Numa esfera mais ampla, são também
uma atitude de resistência contra todas as injustiças do mundo,
contra os preconceitos e intolerâncias, pela conquista da paz. Essa
é a essência da palestra do professor Harbans Lal Arora, indiano
naturalizado brasileiro, PhD em Física Quântica, proferida na noite
desta segunda-feira (24/4/07) no auditório da Assembléia
Legislativa, como atividade da Comissão de Direitos Humanos.
Ao apresentar o professor Arora, que vive
atualmente em Fortaleza, onde cuida de aidéticos, dependentes de
drogas e prostitutas vítimas de violência, o deputado Durval Ângelo
(PT), presidente da Comissão, disse que "a situação caótica dos
direitos humanos e a escalada das agressões e da violência precisam
de uma nova abordagem, um novo olhar e firmeza de princípios, para
que possamos obter uma visão mais integradora e mais humana". Durval
informou que o convidado coordena a Universidade da Paz (Unipaz) e
questiona o paradigma científico vigente, baseado no saber, mas
dissociado da arte, da filosofia e da tradição. Lembrou também que a
Comissão de Direitos Humanos "não discute orçamentos, prazos,
verbas. Aqui discutimos a dor dos pobres".
Harbans Lal Arora começou afirmando que tudo no
mundo está interligado, que os direitos humanos, a paz e a violência
formam um triângulo interconectado, e que, se há muitas ações que
põem em risco a paz, também há movimentos importantes pela paz no
mundo. Disse que a área humana que lhe interessa se resume no nome
de uma fruta nordestina: o cajá. E desdobrou a sigla "Caja":
Criança, Adolescente, Jovem e Adulto. Recomendou que todos devemos
pensar nos direitos junto com os deveres que correspondem a esses
direitos, e sentenciou, com a segurança de um físico, que "é mais
fácil quebrar um átomo do que um preconceito".
Lista das ameaças à paz e aos direitos
humanos
Com uma visão filosófica ampla sobre o mundo, o
palestrante começou a listar as maiores ameaças aos direitos
humanos. A pior delas seria o fundamentalismo, seja religioso ou
político, porque respeito é diferente de obediência cega. A exclusão
social vem em seguida. Em terceiro lugar, ele assinala a poluição do
ar e os subprodutos industriais que sujam o ambiente e provocam o
efeito estufa. "O direito de respirar livremente, num clima
favorável, é o mais essencial dos direitos humanos", ilustrou.
Na lista, seguem-se a ausência ou a baixa qualidade
do ensino, o comércio de drogas que causam dependência química, a
alta carga tributária que compromete os investimentos sociais, os
juros altos da dívida pública, o uso exorbitante de combustíveis
fósseis, o preço dos remédios, o déficit de moradia, a falta de
acesso à Justiça e até mesmo a mídia sensacionalista que mostra
cenas de violência às crianças. "O horário nobre fala pouca coisa
nobre", alertou.
Há também uma lista de ações e de exemplos que lhe
dão esperança de ver um mundo pacífico, como a organização Médicos
sem Fronteiras e as ongs formadas para eliminar minas terrestres em
países recém-saídos de guerras e conflitos. Com exemplos, começa com
o de seu compatriota Mahatma Gandhi, cujo princípio de
não-cooperação e não-violência praticado por 400 milhões de indianos
levou a Índia a libertar-se do jugo inglês.
Exemplos dos missionários
Depois Arora relata como Madre Tereza de Calcutá
sonhou que Jesus lhe aparecia e dizia que o futuro dela não era no
Vaticano, mas entre os pobres do mundo. Com a saúde fragilizada, mas
sustentada por uma força espiritual espantosa, Madre Tereza viveu
além dos 80 anos em sua missão de tratar dos enfermos e acudir os
necessitados. O terceiro exemplo foi Albert Schweitzer, médico
alemão que era um exímio pianista e foi trabalhar como missionário
médico nas regiões mais miseráveis da África. Preso durante a
Primeira Guerra Mundial, Schweiter ganhou o Prêmio Nobel da Paz em
1952 e morreu no Gabão.
Outros exemplos citados pelo professor Arora são
Abraham Lincoln, Martin Luther King e Robert Kennedy. Dentre os mais
animadores projetos que lhe dão esperança no Brasil estão os
assentamentos do MST, a Pastoral da Criança, o Projeto Ayrton Senna
e os investimentos sociais feitos pelo jogador de futebol Ronaldinho
Gaúcho. O deputado Durval Ângelo disse que pretende disponibilizar a
palestra em CD.
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