Proibição da venda de bebida alcóolica no Mineirão divide audiência

Relatório apresentado pela Polícia Militar na audiência da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa de...

10/04/2007 - 00:03
 

Proibição da venda de bebida alcóolica no Mineirão divide audiência

Relatório apresentado pela Polícia Militar na audiência da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, realizada nesta terça-feira (10/4/07), mostra que houve redução de 71% no número de ocorrências policiais no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, em jogos do Mineirão, após a proibição de venda de bebidas alcóolicas no estádio. Mas este dado foi criticado por representantes dos permissionários de bares e dos ambulantes do Mineirão, do Clube Atlético Mineiro, por deputados e pela Defensoria Pública de Minas Gerais, que destacaram ser o número de ocorrências policiais maior em outros eventos; e que apesar de este percentual ser alto, o número de ocorrências era pouco significativo - 99 casos em três meses, para público superior a 50 mil torcedores. Além disso, os vendedores do Mineirão se queixaram da perda de até 80% de suas receitas.

A recomendação do Ministério Público (MP) de se proibir a venda de bebidas no Mineirão, que se transformou em norma administrativa da Ademg em janeiro passado, foi discutida, a requerimento do deputado Gustavo Valadares (DEM). Os motivos da reunião, segundo o deputado, foram a exclusão da Assembléia, "órgão competente para legislar", da medida; os resultados prejudiciais somente a dois clubes e a discriminação com o futebol, já que outros eventos, como os de música, continuam fora da proibição. Valadares entende que a proibição só poderia ocorrer por meio de lei, extensiva a todos os estádios mineiros, bem como a todos os eventos e depois de ampla discussão.

A proibição foi regulamentada por Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado dia 20 de março pelo MP e Ademg, também criticada por deputados e pelo presidente do Atlético, Luiz Otávio Ziza Valadares, sob o argumento de desconhecer a medida. Os deputados Gustavo Valadares, Leonardo Moreira (DEM) e Sargento Rodrigues (PDT) criticaram a interferência daquele órgão no futebol, bem como a ausência no debate. Ziza Valadares reclamou ainda da diminuição de público nos jogos.

Entre os defensores da proibição, estão as Polícias Militar e Civil e a Ademg, que apesar de reconhecer ter perdido renda (R$ 112 mil por mês) apóia a medida em função da melhoria na segurança pública, segundo seu presidente, José Eustáquio Natal. O coordenador do 1º Departamento de Polícia Civil, delegacia do Mineirão, Roberto Neves Silva, disse que depois da proibição não foi registrada nenhuma ocorrência. Segundo o tenente coronel Samuel Gonçalves Ferreira, comandante do Batalhão de Polícia de Eventos, a medida se reflete em outras áreas da segurança, como o de acidentes com veículos após as partidas de futebol. E defendeu que a proibição se estenda para outros estádios e eventos, com regulamentação legal, que permita uma atuação efetiva da PM. E contestou a informação de que a proibição da venda de bebida alcóolica tenha espantado o público. "Houve uma mudança seletiva de público, com maior freqüência de mulheres e crianças", acrescentou.

Proibição é vista como interferência indevida do MP

Para o coordenador regional da Defensoria Pública de Minas Gerais, Marcelo Tadeu de Oliveira, o MP atropelou os trabalhos da Comissão de Monitoramento da Violência em Eventos Esportivos e Culturais (Comovec), composta por várias entidades, e que não foi convidada a participar e opinar na decisão sobre a proibição. Ele disse que o foro adequado para tal resolução é a Assembléia. Também o representante da Associação dos Feirantes da Área Externa do Mineirão, Ernane Francisco Pereira criticou a falta de consulta à Comovec.

Queixas de desrespeito à Assembléia foram feitas também pelo deputado Alencar da Silveira Jr (PDT), autor do Projeto de Lei (PL) 310/07 que trata da proibição da venda e do consumo de bebida alcóolica nas dependências dos estádios de futebol e disciplina o transporte de passageiros em dias de jogos. Lembrando que sua iniciativa aconteceu pela primeira vez em 1997, quando o projeto tramitou e depois não foi votado em Plenário, o deputado destacou que qualquer regulamentação do assunto tem que passar pelo projeto dele. O PL 310 prevê a proibição da venda até 20 minutos antes do início dos jogos e até 20 minutos após o término, nos estádios e no entorno de até 500 metros. Segundo Alencar, esta é a forma de atender ao aspecto da segurança e não prejudicar os comerciantes.

Muitas reclamações foram feitas em relação ao aspecto restritivo da proibição só nos jogos de futebol e só no Mineirão. Ziza Valadares disse que enquanto em três meses as ocorrências de violência, conforme relatório da PM, foram 99 casos, "aí incluídos furtos, assaltos, arrastões, que nada têm a ver com bebida, em dois dias de Axé Brasil, houve 106 ocorrências, com um público composto 50% por menores de idade". O representante da Associação dos Feirantes Ernane Francisco Pereira pediu que a proibição seja aliviada, permitindo-se a venda na saída. A entidade congrega 132 feirantes e mais 100 ambulantes.

Deputados questionam Termo de Ajustamento de Conduta

O TAC foi considerado unilateral e arbitrário pelos parlamentares que participaram da reunião. Segundo o deputado Luiz Tadeu Leite (PMDB), a Constituição mostra que qualquer TAC deve ter a anuência e a assinatura de todos os envolvidos, e que isso não aconteceu no episódio da proibição da venda de bebidas alcóolicas no Mineirão. Em concordância com ele, o deputado Délio Malheiros (PV) afirmou que o MP, como curador dos consumidores, pode recomendar medidas, mas não agir de forma arbitrária e inconstitucional. Os deputados Antônio Júlio (PMDB) e Carlos Pimenta (PDT) também reforçaram que a medida não é regular, uma vez que os clubes envolvidos, os torcedores e os vendedores de bebida no estádio são contrários à determinação e não assinaram o termo.

O tenente-coronel Samuel Gonçalves Ferreira disse não desconsiderar o impacto social da medida, mas acredita que o Estado possa compensar os vendedores de alguma outra forma. Para ele, se a medida for mantida o efetivo da PM nos dias de jogos deverá ser reduzido já no segundo semestre de 2007.

O presidente da Comissão de Segurança Pública, deputado Sargento Rodrigues, acredita que os dados apresentados pela corporação sejam confiáveis, mas que a ação do MP foi unilateral e que a melhor forma de resolver a questão será a apreciação do PL 310/07 na ALMG. "Só assim poderemos dar voz a todos os envolvidos e lapidarmos essa decisão", concluiu.

Presenças - Deputados Sargento Rodrigues (PDT), presidente; Délio Malheiros (PV), Leonardo Moreira (DEM), Luiz Tadeu Leite (PMDB), Alencar da Silveira Jr. (PDT), Gustavo Valadares (DEM), Antônio Júlio (PMDB) e Carlos Pimenta (PDT). E além dos convidados citados na matéria, o presidente da Associação dos Permissionários de Bares do Mineirão, Virgílio Araújo Filho.

 

 

 

 

 

 

 

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715