Fórum das Águas se encerra discutindo governança

Um debate sobre "governança ambiental na gestão das águas" foi o último evento do 6º Fórum das Águas, realizado na As...

23/03/2007 - 00:00
 

Fórum das Águas se encerra discutindo governança

Um debate sobre "governança ambiental na gestão das águas" foi o último evento do 6º Fórum das Águas, realizado na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, nesta sexta-feira (23/3/07). Palestrantes e coordenadores do debate destacaram o papel da difusão da informação, do engajamento popular, descentralização e participação para o desenvolvimento de uma boa governança dos recursos hídricos.

Foram palestrantes no evento o coordenador-geral do Consórcio Intermunicipal da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba (Cibapar), Mauro da Costa Val; a assessora de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Patrícia Helena Gambogi Boson; o assessor especial da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, José Cláudio Junqueira; e o coordenador das Promotorias de Justiça da Bacia do Rio São Francisco, promotor Alex Fernandes Santiago. Coordenaram os debates o vice-presidente da Comissão de Participação Popular da ALMG, deputado Eros Biondini (PHS), e o diretor-geral do Igam, Paulo Teodoro de Carvalho.

Fazendo um balanço positivo de todo o Fórum, o deputado Eros Biondini afirmou que a maior importância de um evento desse tipo é sua capacidade de despertar a consciência da sociedade. Ele lembrou uma parábola em que São Francisco, ignorado pelas pessoas, passou a pregar para as águas de um rio, e os peixes vieram à tona para ouvir suas palavras. "Se os homens estão fechados, a própria natureza se abre para essas reflexões", declarou o parlamentar.

Informação - Mauro da Costa Val, em sua palestra, destacou a importância de um levantamento adequado de informações para balizar decisões eficazes de governança ambiental. Como exemplo da importância de uma base de dados bem fundamentada, citou uma análise do balanço de oxigênio dissolvido na Bacia do Rio Paraopeba, que selecionou e avaliou indicadores da qualidade das águas. A pesquisa mostrou que o tratamento de esgoto em Betim permitiria uma melhoria na qualidade das águas maior que obras equivalentes em todos os outros municípios da bacia.

Patrícia Boson preferiu salientar o papel da participação e da descentralização para o desenvolvimento de uma boa governança. Ela cobrou, da sociedade, um engajamento na luta pela preservação dos recursos hídricos. "Será que a sociedade se conforma com um governo centralizador? Ela quer dividir com o governo essa responsabilidade?", questionou.

Já dos governos, ela cobrou uma mudança na forma de tratar as agências e comitês de bacias hidrográficas. Ela critica os dirigentes públicos por não enxergarem os comitês como entes de estado: um exemplo extremo é a divergência entre o Comitê da Bacia do Rio São Francisco e a União, a respeito da transposição. "Os comitês devem ser vistos como entes públicos, e não como órgãos paralelos ou que estejam fora do Estado", defendeu Patrícia Boson.

José Cláudio Junqueira também discutiu a questão da representação. Criticou, de um lado, as decisões arbitrárias dos órgãos gestores. De outro, questionou se não falta, nos comitês de bacia organizados no País, um controle real da sociedade.

Promotoria destaca ações extrajudiciais

O promotor Alex Santiago falou sobre a atuação do Ministério Público na preservação dos recursos hídricos. Ele destacou que, no caso das Promotorias de Justiça da Bacia do Rio São Francisco, 97% dos casos são resolvidos por meio de termos de ajustes de conduta ou outras ações extrajudiciais. Na região de Divinópolis, as medidas compensatórias promovidas pelas siderúrgicas, segundo Santiago, já resultaram em investimentos de R$ 3 milhões. Entre os projetos financiados, estão o Projeto Nova Margem, de reflorestamento de matas ciliares; a regularização fundiária da Estação Ecológica Mata do Cedro; e criação de um Centro de Ensino e Pesquisa no Parque do Gafanhoto.

Já durante o debate, Alex Santiago foi questionado sobre o prazo de criação de promotorias em outras bacias. Ele afirmou que, em 12 de abril, está prevista a criação da Promotoria da Bacia do Rio Jequitinhonha.

Transposição - A transposição de águas do Rio São Francisco também foi comentada por alguns participantes do debate. Patrícia Boson disse ver erros técnicos no projeto. Ela disse não acreditar que o projeto atenda uma demanda social, mas apenas uma demanda econômica. Também questionou a idéia de procurar financiar, no semi-árido, um projeto de desenvolvimento inadequado às condições ambientais da região. "Porque o Nordeste tem que ter uma fábrica de cerveja ou arroz irrigado?", perguntou. Ela também afirmou que Minas, responsável pela geração de 73% da água da bacia do São Francisco, também merece investimentos para suas áreas semi-áridas.

Como integrante do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, Patrícia Boson também denunciou que as deliberações do órgão sobre a transposição não respeitaram seu próprio regimento interno, algo que poderia ser questionado judicialmente. "Foi declarado regime de urgência para o processo, algo que não existe no regimento do Conselho", afirmou Patrícia.

 

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