ONGs e indústria divergem sobre águas minerais; Copasa relata ações

O debate sobre a gestão das águas minerais, no 6º Fórum das Águas, nesta quinta-feira (22/3/07), revelou divergências...

22/03/2007 - 00:00
 

ONGs e indústria divergem sobre águas minerais; Copasa relata ações

O debate sobre a gestão das águas minerais, no 6º Fórum das Águas, nesta quinta-feira (22/3/07), revelou divergências e embates entre organizações não-governamentais do Sul de Minas e a indústria de águas minerais, além de terem sido feitas críticas à Copasa, companhia de saneamento do Estado. O ciclo de debates, que acontece no Plenário da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, integra a programação do fórum, que termina nesta sexta (23). O painel sobre águas minerais foi coordenado pelo vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente, deputado Fábio Avelar (PSC).

A Copasa, que vai explorar economicamente os recursos dos parques das águas, prometeu proteção ambiental modelar para as fontes, parceria com a comunidade e comercialização da água engarrafada elevando o nome das cidades. Para a ONG Nova Cambuquira, no entanto, a Copasa caminha para a privatização, e o patrimônio das águas minerais está sendo entregue para o capital estrangeiro com total omissão das autoridades. Em contraponto à defesa das ONGs de que água mineral é recurso hídrico e não mineral, a associação que reúne as indústrias afirmou que essa questão já foi resolvida na Justiça - que teria decidido pela segunda opção.

Copasa anuncia investimentos; ONG Nova Cambuquira faz críticas

O superintendente do Departamento de Águas Minerais da Copasa, Eugênio Álvares de Lima e Silva, afirmou que a companhia se orgulha de ter assumido a exploração econômica dos parques de águas. Informou que, entre agosto de 2006 e março deste ano, a Copasa está trabalhando na aquisição de equipamentos, em obras civis e na montagem de uma rede de distribuição e comercialização. Ele anunciou investimentos da ordem de R$ 15 milhões, além de confirmar que a subsidiária da Copasa criada pela Lei 16.693, de janeiro de 2007, vai contratar antigos funcionários da empresa Superágua por seis meses a um ano. Em Caxambu, serão 100 pessoas; em Cambuquira, 20; em Araxá, 25; e em Lambari, 15.

Eugênio de Lima e Silva explicou que a vazão espontânea das águas é suficiente para a comunidade e para os turistas, mas que há muita água que sobra, "que pode ser envasada e comercializada". Segundo ele, a intenção, numa primeira fase, é vender essa água nas regiões Sudeste e Sul, avançando depois para outras regiões brasileiras. Não está certa a exportação, mas é uma possibilidade. O superintendente da Copasa enfatizou que a companhia pretende trabalhar em parceria com a sociedade, promovendo a conscientização ambiental e a mobilização comunitária. Afirmou ainda que é preciso preservar as características terapêuticas das águas minerais, o que implica a manutenção das áreas de recarga dos mananciais. Também disse que a empresa vai respeitar a vazão espontânea das águas, apoiar os esforços para a recuperação do turismo e a proteção ambiental dos parques.

Contraponto - A presidente da ONG Nova Cambuquira, Marília Noronha, fez duras críticas à forma como foi votada a lei que criou a subsidiária da Copasa. "De quem era a urgência de engarrafar a água, se a cidade necessita do turista in loco e não de exportar?", questionou. Afirmando que a companhia caminha para a privatização, com a venda de 30% das ações para o capital estrangeiro, indagou: "Quem vai explorar as águas minerais? A Copasa ou, pós PPP (parceria público-privada), alguma multinacional predadora?"

Marília Noronha também condenou a ausência, no ciclo de debates, de representante do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão gestor desse setor. Ela cobrou o posicionamento do departamento, ao criticar a composição atual da Comissão Permanente de Crenologia, instituída pelo órgão. Segundo ela, a comissão continua centralizadora e empresarial, nas mãos do próprio DNPM e da Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais (Abinam). Essa comissão se propunha a elaborar e a implementar uma política de saúde pública baseada no uso terapêutico das águas. Marília Noronha informou que prefeitos do Sul de Minas já contestaram a comissão, em documento remetido ao DNPM.

Representando várias ONGs presentes ao evento, ela defendeu que água mineral é recurso hídrico - e não mineral - e, por isso, deve ser regulada nos marcos da política nacional de recursos hídricos. Na sua opinião, o DNPM e o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) deveriam se integrar, estabelecendo regras comuns para o setor. Marília Noronha defendeu, ainda, um projeto de desenvolvimento sustentável para o Circuito das Águas, que tem a maior concentração de fontes de águas minerais gaseificadas do mundo. Esse projeto teria como bases, entre outras, a recuperação da medicina das águas e o fortalecimento do conceito de saúde. Para a ONG Nova Cambuquira, o engarrafamento da água mineral deve ser uma atividade secundária, pois não gera emprego nem renda, além de o envase provocar a perda do valor terapêutico da água.

São Lourenço - Marília Noronha citou São Lourenço como exemplo da expoliação do patrimônio público pela Nestlé. Lembrou que, depois de uma ação civil pública, foi firmado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em que a empresa se comprometeu a paralisar a produção da Pure Life e estancar o processo de desmineralização das águas. "A Nestlé, no entanto, voltou a dilapidar nossas riquezas, um crime já denunciado na Casa Civil da Presidência da República. E que providências foram tomadas?", questionou.

Indústria das águas rebate críticas de ONG; Crea destaca valor terapêutico das águas

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais (Abinam), Carlos Alberto Lancia, questionou os argumentos apresentados pela ONG Nova Cambuquira. Segundo ele, as pessoas não consomem água mineral por causa de suas propriedades terapêuticas, mas porque tem poucas calorias, permite hidratação diária, elimina toxinas e purifica o corpo, entre outros fatores que listou. Sobre a Comissão Permanente de Crenologia, Lancia afirmou não ser contra a participação de qualquer segmento, mas ponderou que a associação tem acesso à pesquisa e à tecnologia e que não há, hoje, profissionais habilitados no tema.

Também em resposta à defesa de que a água mineral é recurso hídrico, Lancia replicou que "doa a quem doer, a lei tem que ser cumprida". Na opinião do representante das indústrias, a Justiça já decidiu que este é um recurso mineral. "Se vocês acham que as águas minerais não são minerais, que entrem na Justiça. A Abinam adora a Justiça. Temos cara, endereço, estamos aqui. Quando quiserem debater, nos chamem", rebateu.

Propriedades terapêuticas - A defesa das propriedades terapêuticas como um fator que define o que é água mineral foi feita por Gabriel Tadeu Franqueira Junqueira, inspetor da Câmara Técnica de Geologia e Engenharia de Minas da Inspetoria do Crea/MG do Circuito das Águas. Segundo ele, o Código de Águas determina que a água mineral é aquela que tem ação terapêutica. Ele também criticou o fato de águas engarrafadas serem classificadas como minerais. Já o assessor de Águas e Meio Ambiente da Presidência do Crea/MG, Odair Santos Júnior, falou sobre o aquecimento global e a escassez de água, relacionando caminhos para reverter o quadro de crise, como o tratamento dos resíduos sólidos, o uso de fontes renováveis de energia e o reflorestamento.

Ausência do DNPM - Sobre a ausência do DNPM, o deputado Fábio Avelar, que coordenou a mesa dos trabalhos, explicou que a programação do ciclo de debates foi definida por um conjunto de entidades e instituições do poder público, além da Assembléia.

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 2108 7715