Políticas públicas contra a escassez de água são debatidas na ALMG

O aperfeiçoamento da sistemática de avaliação de projetos ambientais foi um dos pontos discutidos no 2º painel da tar...

21/03/2007 - 00:01
 

Políticas públicas contra a escassez de água são debatidas na ALMG

O aperfeiçoamento da sistemática de avaliação de projetos ambientais foi um dos pontos discutidos no 2º painel da tarde desta quarta-feira (21/03/07), "Políticas Públicas para o Desenvolvimento e o Combate à Escassez de Água", dentro da programação do 6º Fórum das Águas, na Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Quem tratou do tema foi o consultor e presidente da Câmara Técnica do Plano Nacional de Recursos Hídricos do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, Antônio Eduardo Leão Lanna, que também questionou a seriedade do trabalho das consultoras ambientais. A mesa foi coordenada pelo 2º-vice-presidente da ALMG, deputado José Henrique (PMDB).

Antônio Eduardo Leão Lanna argumentou que a grande falha nas análises de alguns projetos ambientais do governo é a prévia convicção, antes da realização do estudo, de que eles são viáveis. "No caso da transposição do rio São Francisco, por exemplo, sempre me pareceu que as alegações contra o projeto são um tanto exageradas, no entanto percebo que os benefícios apresentados são hipotéticos. Hoje, não há controle para avaliar se existe uma mínima certeza para saber se os benefícios realmente vão ocorrer", avaliou.

Palestras - A contextualização do tema coube ao consultor de Meio Ambiente da ALMG Pedro Carlos Garcia Costa. Ele salientou que a Assembléia vem desenvolvendo um trabalho voltado para a solução da escassez de água já há quase duas décadas. "A política mineira de recursos hídricos é baseada nos seminários que reuniram mais de 600 representantes da sociedade e do Estado", lembrou. Ele também abordou problemas como o papel dos conselhos e a falta de ordenamento jurídico. "O conceito de público-não-estatal, enquanto órgão social paralelo ao Estado, está longe de ter sido equacionado pelo direito nacional", comentou.

"Minas Gerais é considerada a caixa d'água do País, mas é preciso que haja estruturação legal para permitir e incrementar o acesso à água. Atualmente, as ações mais empregadas no combate à escassez são de cunho social, como a disponibilização de carros-pipas, a construção de cisternas e a perfuração de poços tubulares profundos. A construção de barragens, por exemplo, é política de visão limitada." Segundo ele, manter a vazão dos rios e estimular a infiltração da água no subsolo são iniciativas fundamentais para combater a escassez de água.

Inventário Florestal de Minas Gerais será publicado em setembro

O pró-reitor de Pesquisa e professor titular em Manejo Florestal da Universidade Federal de Lavras (Ufla), José Roberto Scolforo, apresentou parte dos resultados de uma política pública executada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) com a participação da Ufla. O "Inventário Florestal de Minas Gerais" mapeou os cursos d'água ao longo da Bacia do Rio São Francisco, identificando as Áreas de Preservação Permanente, as áreas de recarga e de entorno das nascentes. "A identificação das variáveis ambientais aliada ao conhecimento da vegetação, possibilita que seja realizada a revegetação correta das áreas", explicou. A conseqüência é proteção dos recursos hídricos e a melhoria no processo de revitalização da água. O professor afirmou que, durante os estudos, já foram identificadas 2.300 espécies arbóreas, sendo 100 delas ainda não-catalogadas. Todo o trabalho será publicado e deverá ser lançado ainda este ano, em setembro.

O mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos Alberto Simon Schvartzman apresentou o que está sendo feito em Minas Gerais, conduzido pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), em relação ao tema. "Desde 2003, a partir do Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado, o PMDI, subsidia a definição de políticas públicas. A região com menor Índice de Desenvolvimento Humano, o Norte e Nordeste mineiro, também é a região com maior escassez de água, portanto, é área prioritária para desenvolvimento das políticas", contou. Alberto também lembrou a legislação existente, como a Lei Federal 9.433, de 1997, a Lei Estadual 13.199, de 1999, além de decretos e das portarias do Igam. "Programas como o Proágua, que atua no semiárido, e o projeto Vida no Vale, em nível estadual, são ações concretas que ajudam a ampliar a oferta de água em regiões carentes desse recurso", pontuou

"A visão burocrática de gestão de água é prejuízo", salientou o coordenador do Fórum Nacional da Sociedade Civil na Gestão de Bacias Hidrográficas (Fonasc) e representante da sociedade civil no Conselho Nacional de Recursos Hídricos, João Clímaco Soares de Mendonça Filho. Ele argumentou que o Estado tem dificuldade de aceitar a descentralização do sistema de gestão dos recursos hídricos, prevista na lei. "Percebemos uma limitação do aparato institucional para uma nova prática política, que insere o cidadão. Os conselhos de gestão têm que ser conselhos de solução. Para isso, a sociedade civil precisa saber se legitimar. Isso não é papel do governo", frisou.

Debates - Durante o debate, o deputado Almir Paraca (PT) defendeu a utilização das pequenas barragens na recuperação de rios. Alberto Schvartzman e Pedro Carlos Garcia Costa concordaram com a importância da técnica, mas advertiram que ela não pode ser vista como uma "solução mágica", que se aplica a todos os casos.

Representantes do Comitê de Bacia do Rio Paracatu disseram que a população local está preocupada com o projeto de barragem no Rio Caatinga, que inundará 80 mil hectares de terras produtivas. Antônio Lanna afirmou que o projeto foi discutido com o Estado, mas que talvez essa discussão não tenha chegado de forma ampla à população local. Ele aconselhou os moradores a se organizarem para obter maiores informações e influenciarem na condução do projeto.

Uma das sugestões feitas pelo engenheiro Nísio de Souza foi a utilização do material retirado de rios assoreados, como areia e cascalho, na construção civil. Paulo Célio de Figueiredo, do Fórum Nacional da Sociedade Civil na Gestão de Bacias Hidrográficas (Fonasc), advertiu, no entanto, que o desassoreamento vai muito além de simplesmente retirar o material do leito. Inclui o reflorestamento das margens de rios e topos de morros.

O professor Cláudio de Souza, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, questionou se há algum projeto de transposição de águas que tenha sido bem-sucedido no mundo. Antônio Lanna citou os projetos da Califórnia e a transposição de águas do Rio Piracicaba para a cidade de São Paulo.

José Roberto Scolforo, respondendo a um questionamento do cidadão Marcos Rocha, afirmou que a recuperação da cobertura florestal é a melhor forma de regenerar as fontes de água de uma pequena propriedade. João Clímaco, respondendo a outra pergunta de Marcos Rocha, defendeu a necessidade de fortalecer a dimensão política dos comitês de bacia. Ele afirmou que, em muitos casos, a tutela do Estado os transforma em "uma espécie de parlamento alegórico". Também defendeu punições fiscais mais efetivas para quem usa mal o solo rural.

 

 

 

 

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