Secretário defende aprimoramento dos mecanismos de gestão das águas

"Quando falamos de água, estamos tratando de um recurso essencial à vida. O homem consegue viver sem o petróleo, mas ...

21/03/2007 - 00:02
 

Secretário defende aprimoramento dos mecanismos de gestão das águas

"Quando falamos de água, estamos tratando de um recurso essencial à vida. O homem consegue viver sem o petróleo, mas não consegue viver sem a água. Esta é a questão crucial que deve pautar nossa discussão". Com essa reflexão, o secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, José Carlos Carvalho, iniciou sua fala na palestra de abertura do 6o Fórum das Águas, intitulada "Escassez da água: realidade ou possibilidade?", na manhã desta quarta-feira (21/3/07), no Plenário da Assembléia Legislativa de Minas Gerais.

Segundo o secretário, se forem considerados os padrões internacionais de escassez da água, o Brasil não deveria ter este problema já que, mesmo em regiões mais secas do País, o volume de água da chuva é de 500 a 600 milímetros anuais. O que falta, na avaliação de José Carlos Carvalho, é aprimorar os mecanismos de gestão das águas.

O secretário acredita que a falta do recurso hídrico no Brasil remete à uma questão de fundo, que trata da escassez da oferta e da disponibilidade da água para a população, e não de sua escassez física. "Nesse conceito, temos um situação crítica de água que não é ofertada. É neste ponto que precisamos definir as políticas públicas de acesso democrático à água", afirmou José Carlos Carvalho. Ele alertou ainda para a desigualdade, no sentido de que a Amazônia responde por 68% da água do País e concentra apenas 5% da população, e que Minas Gerais reproduz essa questão. "Precisamos fazer investimentos para reservar e distribuir a água em regiões mais críticas, como o semi-árido mineiro", disse. Pela inexistência de políticas públicas para distribuir água, atualmente há falta do recurso no Norte de Minas e nos Vales do Jequitinhonha/Mucuri.

O secretário reafirmou ainda a necessidade de aprimorar os mecanismos de gestão das águas, já que hoje existe uma escassez exacerbada no semi-árido mineiro, e lembrou que o conflito aumenta na medida que existe a falta de água. Informou ainda que, entre os programas estruturadores do governo Aécio Neves, está previsto um de fortalecimento da gestão dos recursos hídricos das bacias hidrográficas.

Transposição do São Francisco marca debates pela manhã

A transposição das águas da bacia do Rio São Francisco para abastecer rios do Nordeste marcou os debates na manhã do primeiro dia do 6º Fórum das Águas. Em sua exposição, o secretário José Carlos Carvalho defendeu obras pontuais de infra-estrutura para adução e transporte da água e, nesse sentido, criticou grandes projetos como o do governo federal de transposição do Rio São Francisco. "Reitero aqui a posição do governo de Minas Gerais contrária ao projeto de transposição tal como está concebido", afirmou. "Não é um momento para dúvidas ou meias palavras porque é um grande investimento na contramão do que defendemos", completou.

Em resposta às críticas feitas pelo secretário e por outras autoridades ao projeto de transposição, o secretário nacional de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, João Bosco Senra, afirmou que a postura do governo federal sempre foi a de discutir amplamente o assunto. Ele ressaltou que o processo de licenciamento para implementar o projeto é precedido de um grande debate público. Completou que o governo levou essa discussão também para o Congresso Nacional por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A mesma crítica à transposição foi feita, na fase de debates, pelo presidente do Movimento Verde de Paracatu, Antônio Eustáquio Vieira, o Tonhão, para quem deveria haver um plebiscito nacional sobre o assunto. "Não há diálogo do governo federal com os movimentos populares e as comunidades da bacia", contestou. Um dos coordenadores da mesa dos trabalhos pela manhã, deputado Wander Borges (PSB), informou aos participantes do fórum que a Assembléia pretende discutir, em audiência pública, o tema da transposição, a requerimento do deputado Fábio Avelar (PSC). Uma passeata contra o projeto federal está marcada para esta sexta (23), em frente à ALMG.

Jaíba - Já a deputada Elisa Costa (PT) ponderou que o debate sobre a transposição não pode ocorrer no nível de acusações; caso contrário a reflexão não avançará. Ela enfatizou que o projeto inicial foi alterado e defendeu a revitalização da bacia. A deputada também quis saber mais sobre o volume de água do São Francisco que abastecerá o Projeto Jaíba, em Minas. Em resposta, o secretário José Carlos Carvalho opinou que o Projeto Jaíba permite uma reflexão importante sobre a transposição. Segundo ele, o somatório de outorgas em toda a extensão da bacia do Rio São Francisco é de 335 m³/seg (volume de água a ser retirado), incluindo os 80 m³/seg já outorgados para o Jaíba. Esses dados são de 2002. O secretário informou que a soma do volume já outorgado com o do previsto para a transposição supera o volume outorgável, que é de 360 m³/seg. "Está claramente projetado um conflito de uso das águas no futuro", alertou.

Ministério do Meio Ambiente comenta Plano Nacional de Recursos Hídricos

Os avanços conseguidos pelo Brasil na área de recursos hídricos foram enfatizados pelo secretário nacional de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, João Bosco Senra, que expôs detalhes do Plano Nacional de Recursos Hídricos, aprovado em 2006. Esse plano, com duração até 2020, traz um diagnóstico da situação e lista várias ações a serem implementadas na busca de soluções para os problemas da gestão das águas. Para Senra, o Brasil coleciona avanços, entre os quais a própria instituição do plano - formulado, segundo destacou, após ampla consulta popular e baseado numa visão sistêmica, que engloba não somente a perspectiva hídrica, mas também dimensões sociocultural e política, entre outras.

Outros exemplos que João Bosco Senra deu de avanços na implementação da política nacional de recursos hídricos (Lei 9.433, de 1997) foram baseados em números: a existência, no Brasil, de 130 comitês de bacias hidrográficas; de 24 conselhos estaduais de recursos hídricos; além da participação direta de mais de 7 mil pessoas na elaboração do plano nacional.

Tanto a lei nacional quanto a lei que detalhou a política estadual de recursos hídricos (Lei 13.199, de 1999) trazem como premissa que a gestão desses recursos será descentralizada, dela participando poder público, usuários e comunidades. Essa é uma mudança conceitual importante, um "divisor de águas", pois o poder de definir as diretrizes e os investimentos relativos ao uso dos recursos hídricos se desloca do Estado, onde sempre esteve, para os cidadãos que residem na bacia.

Agricultura convencional - A crítica à agricultura convencional foi destaque na palestra de Ana Primavesi, doutora em Engenharia Agronômica pela Universidade Rural de Viena. Ela relacionou os problemas da água aos do solo, enfatizando que a água doce é finita e que sua reposição ocorre somente em solos permeáveis. Para a especialista, os solos têm sido sistematicamente destruídos pelo agrobusiness (com o desmatamento e a agricultura convencional) e pela pobreza (com as populações queimando a terra para plantar). Na agricultura convencional, destacou, o solo é descoberto e compactado pelo peso das máquinas, aração profunda e adubação hidrogenada. Primavesi defendeu a agricultura orgânica como uma resposta ao quadro de crise.

Feira das Águas, aberta nesta quarta, terá a participação de crianças

Também nesta quarta (21), foi aberta a Feira das Águas, que acontece até esta sexta-feira (23) no Hall das Bandeiras da Assembléia. Nela, pode ser conferida a atuação do poder público, sociedade civil organizada e grandes usuários (como empresas) em prol da preservação das águas. Na abertura, o presidente da ALMG, deputado Alberto Pinto Coelho (PP), foi representado pelo deputado Sávio Souza Cruz (PMDB), que preside a Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais; e o governador Aécio Neves, pelo secretário José Carlos Carvalho.

A feira promete trazer à Assembléia, nos três dias do evento, cerca de 1,2 mil estudantes entre 9 e 12 anos, de escolas públicas do ensino fundamental, além de uma escola de educação especial de Belo Horizonte. As 10 instituições de ensino participarão de oficinas de arte e reciclagem a serem ministradas pela equipe da ONG "Arte no Ar", da Capital. Os trabalhos a serem desenvolvidos pelo grupo englobam a confecção de sacolas, atividades com origami de bichos e com boliches feitos de garrafas pet, além de um jogo chamado "trilha ecológica". A equipe de monitores é formada por candidatos e ex-alunos do curso de Licenciatura em Artes Visuais da Uemg.

 

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