Empresas reconhecem que não há tecnologia para bloqueio de celulares

Convocada para discutir novas medidas para reprimir o uso de celulares em presídios, a Comissão de Segurança Pública ...

20/03/2007 - 00:02
 

Empresas reconhecem que não há tecnologia para bloqueio de celulares

Convocada para discutir novas medidas para reprimir o uso de celulares em presídios, a Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, em reunião nesta terça-feira (20/3/07), constatou que ainda não existe uma tecnologia que bloqueie o sinal dos aparelhos, de acordo com informações das empresas convidadas, Telemig Participações, Tim e Oi. O que está sendo feito para diminuir o problema é a fiscalização mais rigorosa das visitas e um trabalho de inteligência para detectar a corrupção interna nestes estabelecimentos.

A vistoria por meio de um aparelho de Raio X e a vigilância dos agentes penitenciários, para evitar a comercialização dos aparelhos junto aos presos, são as ações descritas pelo subsecretário de Estado de Administração Penitenciária, da Secretaria de Estado de Defesa Social, Genilson Ribeiro Zeferino. A reunião, solicitada por requerimento dos deputados Délio Malheiros (PV) e Leonardo Moreira (PTB), discutiu ainda as questões de segurança pública em Minas, diante das propostas do pacote antiviolência do governo Federal.

O deputado Leonardo Moreira não ficou satisfeito com a resposta das operadoras de telefonia celular, de que não há uma forma para bloquear o sinal nos presídios, lembrando que em São Paulo foi instalado o equipamento. Segundo as operadoras, há uma colaboração com os órgãos de segurança, em nível nacional, por meio da associação que congrega as empresas, tudo dentro da lei.

O subsecretário Genilson Zeferino reconheceu a inexistência dessa tecnologia, informando que não há nada no mercado "nem interno nem externo" e que o que já foi testado, como aparelhos de Israel e Holanda, além de muito onerosos, tornam-se obsoletos rapidamente. Enfatizando a política de impedir a entrada dos celulares, Genilson Zeferino informou que no ano passado foram apreendidos 500 aparelhos nos presídios mineiros e que o detector por Raio X está em teste há um mês.

Poder público cobra colaboração das operadoras

O representante da Telemig, João Damata Neto lembrou que as operadoras vêm colaborando dentro do que prevê a lei e, nesse aspecto, foram feitas no ano passado, segundo ele, 1,2 milhão de interceptações judiciais. Mas o delegado Edson Moreira da Silva, chefe da Delegacia de Operações Especiais (Deoesp) contestou a colaboração enfatizada pelas operadoras, afirmando que não há uma conferência de documentação nas vendas e habilitações de celulares. Ele exemplificou com casos em que o esclarecimento de crimes esbarra em dados falsos fornecidos por bandidos às operadoras. E reclamou da demora no fornecimento do mapeamento de chamadas pelas operadoras, o que prejudica investigações, "como aconteceu com a Oi: mesmo diante da ameaça de um desfecho fatal, como no caso do seqüestro de um gerente de banco, em Uberlândia, tudo culminou com a morte do envolvido". O representante da Oi, Carlos Eduardo Pinto Azevedo solicitou ao delegado a remessa dos documentos do caso, para investigação e correção de possíveis erros.

Na defesa das operadoras, João Damata Neto afirmou que as empresas têm interesse em coibir as fraudes, mas existem limitações legais e regulatórias, como o sigilo e o cadastro telefônicos, que só podem ser quebrados mediante autorização judicial, e a obrigação das operadoras de aceitar a habilitação de telefones pré-pagos, desde que conferida toda a documentação. Procedimento este, segundo o representante da Telemig Celular, que é feito com rigor.

Além de maior colaboração das operadoras, com mais cuidado na habilitação, o delegado Edson Moreira sugeriu a elaboração de leis que penalizem quem leva o celular para o preso e também para o próprio preso que o utiliza, "nesse caso, com aumento da pena, por exemplo". O presidente da comissão, deputado Sargento Rodrigues (PDT) concordou com a exigência de uma legislação para punir o tráfico de celulares em presídios e de um cadastro efetivo de usuários de telefones. A punição para o uso dos telefone pelos presos e para quem permite sua entrada também foi defendida pelo coronel Alexandre Sales Cordeiro, assessor institucional da Polícia Militar

O deputado Leonardo Moreira lamentou a não apreciação de projeto de lei de sua autoria, que prevê a instalação de bloqueadores de celulares em presídios do Estado. Ele informou que desarquivou o ex-PL 678/03, apelando aos demais deputados para que apoiem a tramitação. Já o deputado Sargento Rodrigues criticou a ineficácia da Lei Federal 10.703, de 2003, que dispõe sobre o cadastramento de usuários de celulares pré-pagos. Para ele, a lei é "muito simplória e traz uma lacuna enorme" ao não exigir documentação detalhada de quem deseja habilitar um aparelho.

Defesa Social investe no aumento de vagas do sistema

Em sua exposição, o subsecretário de Administração Penitenciária, Genilson Zeferino destacou que as metas do órgão para combater a criminalidade passam pela mudança de filosofia, que transformou a subsecretaria num órgão técnico que atua em "perfeita sintonia com as polícias Civil e Militar"; e pelo aumento de seis mil vagas carcerárias, com a construção de mais 11 unidades prisionais, a reforma de outras nove e a implantação de mais sete Apacs. Ele disse que a guarda de presos está passando para a gestão da subsecretaria gradualmente, liberando as polícias Civil e Militar para os trabalhos de investigação e policiamento ostensivo, respectivamente.

Para o deputado Délio Malheiros, o momento é de discutir as formas de coibir o uso dos aparelhos nos presídios, diante das informações de que o Estado terá 100% de cobertura de telefonia celular e do novo pacote antiviolência. Ele lembrou que os celulares permitem mil oportunidades, como o comando das ações de dentro dos presídios, o falso seqüestro e o planejamento de fugas. Destacou ainda que, como os bloqueadores de celular não estão funcionando, é preciso buscar alternativas tecnológicas, como uso de chip e pulseira eletrônica nos presos e afirmou: "É lamentável que a tecnologia do celular não esteja sendo usada para monitorar os criminosos". Criticou também o fato de que não adianta investir em bloqueadores de celular e a penitenciária ser um verdadeiro "queijo suíço", onde entram celulares e baterias. Denunciou ainda a instalação de um bloqueador na penitenciária Nelson Hungria, orçado em R$ 1,168 milhão, que não está funcionando.

Requerimentos dão prosseguimento à audiência pública

Em virtude das sugestões apresentadas pelos deputados, quatro requerimentos foram aprovados sobre o assunto tratado na audiência pública. Três são do deputado Leonardo Moreira, solicitando que o subsecretário de Administração Penitenciária seja oficiado para prestar as seguintes informações: sobre a licitação em andamento para aquisição de portais de Raio X a serem instalados nas penitenciárias do Estado; sobre o laudo técnico, valor, marca do aparelho, data de aquisição e os motivos pelos quais o bloqueador de celular na penitenciária Nelson Hungria não está funcionando; e a data de nomeação, nome, grau de instrução e lotação dos diretores das penitenciárias, dos presídios, das cadeias públicas e dos hospitais penitenciários.

O quarto requerimento, de autoria da comissão, solicita o envio das notas taquigráficas da audiência pública às operadoras de telefonia presentes na reunião - Telemig Celular, Tim e Oi - pedindo atenção especial e sugerindo um convênio, entre as operadoras e o Estado, de cooperação técnica para a troca de informações e implantação de microcélulas.

Os deputados aprovaram ainda outros quatro requerimentos, que tratam de assuntos diversos. São eles:

* do deputado Sargento Rodrigues, solicitando à Promotoria de Defesa do Patrimônio Público cópia de denúncia contra o diretor-geral da Administração de Estádios de Minas Gerais (Ademg), coronel José Eustáquio Natal, sobre o contrato de aluguel do Mineirão, firmado com a empresa DM Promoções e Eventos. Também do parlamentar, outros dois de aplauso por ações de policiais militares na apreensão de drogas; e

* do deputado Gustavo Valadares (PFL) solicitando audiência pública para discutir a venda de bebidas alcóolicas no Mineirão, diante da proibição feita pelo Ministério Público.

Presenças - Deputados Sargento Rodrigues (PDT), presidente; Paulo Cesar (PFL), vice; Délio Malheiros (PV) e Leonardo Moreira (PTB). Além dos convidados citados na matéria, participou da audiência pública o titular da Casa da Polícia Civil, Paulo Roberto de Souza.

 

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