Abertura de comércio aos domingos divide até empresários

O debate sobre a regulamentação do funcionamento do comércio aos domingos em Belo Horizonte, promovido nesta quinta-f...

08/03/2007 - 00:01
 

Abertura de comércio aos domingos divide até empresários

O debate sobre a regulamentação do funcionamento do comércio aos domingos em Belo Horizonte, promovido nesta quinta-feira (8/3/07) pela Comissão de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, mostrou que as divergências não estão só entre comerciários e comerciantes, mas entre os próprios comerciantes. Alguns defendem a abertura; outros, que seja facultativa; e outros, como os pequenos empresários, são contra. O debate foi requerido pelo presidente da comissão, deputado Vanderlei Miranda (PMDB).

A comissão discutiu o assunto à luz dos últimos acontecimentos, como o veto total do projeto de lei da Câmara Municipal de Belo Horizonte, que proibiu a abertura do comércio, e a consulta pública via internet, que a Prefeitura realiza até o início de abril. Os deputados Vanderlei Miranda, Eros Biondini (PHS) e Bráulio Braz (PTB) manifestaram esperança de que o tema encontre um ponto de equilíbrio entre os interesses de empresários e trabalhadores, bem como a certeza de que o debate contribuirá para que o governo municipal encontre o melhor para o funcionamento do comércio, além de fortalecer a democracia, pelo debate e não pelo confronto.

O deputado Célio Moreira (PSDB) lembrou o lado familiar e humano dos trabalhadores do comércio, para se posicionar contra a abertura aos domingos. Já o deputado Vanderlei Miranda, citou a cidade de Curitiba como exemplo para a questão. De acordo com ele, a cidade, conhecida como "modelo", abre apenas nos domingos próximos a datas especiais. "No afã de defender o crescimento econômico, não podemos esquecer de valorizar o lado humano", lembrou.

Em contraponto à questão familiar, o deputado Antônio Júlio (PMDB) acredita que o enfraquecimento doméstico está ligado ao desemprego. Ele defende, portanto, a liberdade para que os lojistas abram o comércio quando acharem válido. "Precisamos conduzir o debate sem perder de vista a realidade brasileira. O que desintegra a família e é uma das maiores causas da violência doméstica e urbana é a falta de trabalho", disse.

As posições convergentes, pela abertura ou pela faculdade de abrir, foram defendidas pelos representantes da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio), Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Associação Comercial de Minas Gerais (ACMinas) e Associação dos Lojistas de Shoppings Centers (Aloshopping). Já a Associação dos Comerciantes do Hipercentro de Belo Horizonte, que congrega os pequenos e médios comerciantes do centro da Capital, compartilha da posição do Sindicato dos Empregados do Comércio de Belo Horizonte e Região Metropolitana, de defesa do fechamento do comércio nos domingos e feriados.

Os defensores da abertura lembraram a vocação de turismo de negócios de Belo Horizonte e a integração do comércio neste segmento. E ainda o atendimento do consumidor, que segundo pesquisa da Fecomércio, anunciada pelo vice-presidente da entidade, Hiram dos Reis Corrêa, se posicionou a favor da abertura aos domingos. Segundo Corrêa, 68% dos entrevistados declaram fazer compras neste dia e desejar que o comércio continue aberto. A abertura aos domingos foi regulamentada em lei municipal de 1997.

Os empresários fizeram questão de enfatizar que a discussão não é um embate de classes, segundo a assessora da ACMinas, Cláudia Volpini, que defendeu a abertura facultativa. Como ela, também os representantes da Aloshopping, César Albuquerque, e da CDL, Salvador Ohana, lembraram a possível migração de divisas para cidades limítrofes, como Betim e Contagem, cujas lojas e shoppings abrem nos domingos e feriados, caso Belo Horizonte tenha o comércio fechado. Para o deputado Bráulio Braz (PTB), é preciso dar liberdade para que cada categoria decida a necessidade ou não de abertura do comércio aos domingos. "Como empresário, sempre defendi a democracia na relação entre patrão e empregado. Acho que a discussão e a decisão final devem ser concebidas dentro da própria empresa", ponderou.

Pequenos lojistas e trabalhadores são contra flexibilização

A abertura aos domingos, ou a flexibilização concedida ao empresário, é criticada pelos pequenos comerciantes do hipercentro de Belo Horizonte e pelos comerciários. Também a representante da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Maria Lúcia Scarpelli, que é presidente da Comissão de Defesa do Consumidor do legislativo municipal, se posicionou contra, destacando o lado humano da questão. Segundo José Alves Paixão, do Sindicato dos Comerciários, o índice de doenças na categoria subiu muito desde 1997, quando foi permitida a abertura aos domingos, período em que também se registrou o maior índice de separações de casais na classe, segundo ele.

José Alves Paixão garantiu, ainda, que a entidade tem números que comprovam não ter havido aumento de vendas e nem de empregos. Ele também criticou a consulta da Prefeitura, informando que 60% dos 320 mil trabalhadores não têm acesso à internet. "O que defendemos não é o fechamento, mas a regulamentação do funcionamento aos domingos. Faço um desafio aos empresários: vamos funcionar 24 horas, no sistema de turnos, ou adotar a jornada de 36 horas semanais? Só assim geraremos emprego e renda para todos", sugeriu. O vice-presidente da CDL, Salvador Ohana, afirmou que não tem dados sobre média de vendas aos domingos, mas que são arrecadados cerca de R$ 40 milhões diários somente nos 13 shoppings da Capital.

Presenças - Deputados Vanderlei Miranda (PMDB), presidente; Bráulio Braz (PTB), vice; Eros Biondini (PHS), Célio Moreira (PSDB) e Antônio Júlio (PMDB).

 

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