Ciclo discute subsidiária da Copasa para o Projeto Jaíba II

Ainda sem a presença de uma subsidiária para o Jaíba II, cuja criação está prevista no Projeto de Lei 3.374/06, a Cop...

07/03/2007 - 00:00
 

Ciclo discute subsidiária da Copasa para o Projeto Jaíba II

Ainda sem a presença de uma subsidiária para o Jaíba II, cuja criação está prevista no Projeto de Lei 3.374/06, a Copasa já está atuando há cerca de dois anos no projeto, que se localiza no Norte de Minas. Por meio de dois contratos com as Secretarias de Planejamento e Gestão (Seplag) e Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), a empresa mineira de abastecimento de água e saneamento investiu R$ 10 milhões nessa fase preliminar. A presença de uma subsidiária da empresa vai permitir operações localizadas como tarifação regionalizada e mais eficiência.

As informações foram prestadas pelo chefe do Departamento de Novos Negócios da Copasa, Cláudio Dotti, e pelo assessor da Seplag, Gabriel Lara Rodrigues, nesta quarta-feira (7/3/07), último dia do Ciclo de Debates "Novas diretrizes do saneamento básico - contribuições para o debate do Projeto de Lei 3.374/06, que cria as subsidiárias da Copasa", realizado pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais em parceria com 17 entidades, nesta terça e quarta-feiras. Participaram da mesa de trabalhos os deputados Wander Borges (PSB), que coordenou os trabalhos, e Fábio Avelar (PSC). Vários outros deputados estiveram presentes na atividade.

Em uma exposição sobre o Jaíba II, Cláudio Dotti explicou que a presença da Copasa no projeto passa pela coordenação técnica, com operação das instalações gerais, inclusive ambientais. Segundo ele, com a subsidiária, prevista no PL 3.374/06, o projeto poderá contar com estrutura de apoio tecnológico e comercial, além de ações futuras como tratamento de resíduos sólidos e proteção de áreas ambientais.

Para o assessor da Seplag, Gabriel Lara Rodrigues, o Jaíba é encarado pelo governo como um projeto único, apesar das quatro etapas: o Jaíba I é gerido pelo governo Federal, por meio da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), e as demais etapas pelo governo estadual, por meio da Seplag.

A preocupação do governo Estadual, segundo Gabriel Rodrigues, é com a sustentabilidade do programa, item previsto na legislação federal sobre perímetros urbanos irrigáveis, bem como no convênio com o Banco Japonês, financiador do projeto e que investiu R$ 184 milhões no Jaíba II.

Ele explicou que a presença da Copasa no projeto deve-se ao fato de sua excelência como empresa fornecedora de água e outros serviços e é resultado de contrato com a Ruralminas, empresa do sistema da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A operação pela Copasa representa, segundo o assessor da Seplag, a segurança de fornecimento para as empresas e a redução dos custos operacionais. E como forma de oferecer serviços diferenciados, específicos para projetos de irrigação como os do Jaíba, a subsidiária irá permitir preços regionais, que não onerem o produtor e nem inviabilizem os projetos.

Etapas do projeto - O Jaíba é o maior projeto de irrigação da América Latina. A etapa I tem 1.816 lotes de 5 hectares destinados a colonos e 325 áreas de 20 a 30 hectares para empresas. O Jaíba II é destinado exclusivamente a empresas e foi dividido em 684 lotes de 10 a 90 hectares, adquiridos por 120 empresas. Na primeira etapa, as culturas predominantes são a banana, limão, uva, maracujá. . E na segunda, são banana, cana-de-açúcar, café e pinhão manso. A Copasa já administra 180 quilômetros de canais construídos há cinco anos pela Ruralminas.

Gerenciamento- O Distrito de Irrigação do Jaíba (DIJ) é uma associação privada, sem fins lucrativos, que congrega 1.859 produtores e tem a infra-estrutura gerida pela Codevasf, por meio de convênio, além da participação de outras empresas. De acordo com o gerente-executivo do distrito, Bernardino Gervásio Araújo, a missão do distrito é garantir o fornecimento de água aos produtores e fazer gestão com instituições governamentais e não-governamentais para apoiar a produção. A etapa I do projeto, onde moram 23 mil pessoas, produz 170 toneladas de alimento por dia, sendo que mais de 70 produtos são comercializados na Ceasa. Ali já estão certificadas 14 propriedades com autorização para comercialização na Europa, as únicas no Estado.

Produtor questiona integração do projeto

Após as exposições detalhando o funcionamento do projeto, o representante dos produtores do Jaíba I, César Augusto Bellini, fez críticas quanto à integração entre as etapas do projeto. Para ele, o bom desenvolvimento da etapa II, que tem grandes empresários com condições de investimentos de recursos próprios, contrasta com a realidade do que já existe no local, há 20 anos. Segundo ele, a produção da etapa I está encolhendo, entre outros motivos, por falta de um estudo que indicasse as culturas que deveriam ser ali implantadas. "O produtor foi acumulando problemas", disse, citando ainda dificuldades como falta de crédito e competitividade e equipamentos de irrigação dispendiosos e ultrapassados, além do déficit habitacional no local.

O representante da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetaemg), Eduardo Arantes do Nascimento, fez críticas aos números do projeto, que para ele apresenta muitas dificuldades, como as diferenças entre as demandas dos pequenos irrigantes e as dos empresários. Segundo ele, mesmo tendo iniciado as atividades nos anos 70, o Jaíba ainda está em processo de licenciamento ambiental. Nascimento informou que o Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) se reunirá para tratar o assunto nos próximos dias e que, na reunião, ele encaminhará questões sobre a etapa I, como o déficit habitacional e a falta de estudos sobre aterros sanitários. Ele também disse entender que a inserção de uma subsidiária da Copasa no Jaíba não é cabível, em função da possibilidade de elevação de tarifa e da necessidade de universalização do serviço de saneamento, que não pode ser submetido a critérios de geografia.

A preocupação com o aumento das tarifas, com a participação da Copasa no projeto, também foi citada pelo superintendente técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faemg), Affonso Damásio Soares. Para ele, porém, a Copasa poderá entender as peculiaridades da gestão da irrigação e avançar na questão.

Debates

Durante a fase de debates, o gerente-executivo do DIJ, Bernardino Gervásio Araújo, explicou que o distrito é deficitário, em função da pouca ocupação no Jaíba, o que gera ociosidade nos equipamentos. Informou ainda que não tem atribuições para cuidar do saneamento no projeto. Sobre isso, segundo ele, existe apenas um estudo-piloto da Universidade Federal de Viçosa para a instalação de mini Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs). Questionado pelo deputado Paulo Guedes (PT) sobre a possível perda de receita do DIJ com a chegada da subsidiária da Copasa, Araújo enfatizou que o distrito opera no Jaíba I (etapa federal), enquanto a subsidiária atuaria na etapa estadual.

Produtores rurais presentes à discussão perguntaram ainda o que a Copasa poderia fazer para reduzir a tarifa de água no projeto. O assessor da Seplag, Gabriel Lara Rodrigues, explicou que a Copasa paga pelo contrato que tem no Jaíba um valor maior do que pagaria como detentora do serviço. "A Copasa traria mais segurança, inclusive patrimonial, e mais tecnologia. E já está fazendo um estudo para saber onde cortar custos na estrutura do projeto", informou. Cláudio Dotti, da Copasa, acrescentou que todo conhecimento da companhia em automação seria transferido para o projeto.

O deputado Almir Paraca (PT) salientou que os problemas do Jaíba são os mesmo de dez anos atrás e que é preciso que a Copasa chegue com o espírito de solucionar esses impasses. Já a deputada Elisa Costa (PT) sugeriu que o DIJ continue com sua atribuição no Jaíba, preservando a Copasa para cuidar do saneamento em Minas Gerais. "Temos que repensar a companhia com sua função social", enfatizou. A parlamentar reforçou ainda a necessidade da retirada do regime de urgência do PL 3.374/06, para que a discussão possa se aprofundar, inclusive com a realização de audiências públicas no Jaíba e com um maior debate com os municípios.

O deputado Fábio Avelar (PSC) afirmou que a criação de uma subsidiária da Copasa para o Projeto Jaíba irá facilitar o desenvolvimento da região e que a empresa possui o conhecimento necessário para tanto. Entretanto, Fábio Avelar destacou que a criação das subsidiárias para os municípios do Norte de Minas e Vales do Jequitinhonha, Mucuri e São Mateus deve ser melhor discutida. Ele voltou a defender que o governador retire o pedido de urgência do projeto para que a ALMG possa discutir melhor a implicação da criação das subsidiárias.

Nesse sentido, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos do Estado de Minas Gerais (Sindágua/MG), José Maria dos Santos, defendeu que o projeto seja desmembrado, pois a subsidiária para o Projeto Jaíba e as subsidiárias para os municípíos do Norte de Minas e Vales do Jequitinhonha, Mucuri e São Mateus possuem objetivos diferenciados. Ele afirmou ainda que o sindicato é contrário a criação das subsidiárias.

 

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