Lei federal sobre saneamento é questionada

Para fazer com que 20 milhões de brasileiros passem a contar com água encanada e outros 80 milhões tenham serviços ad...

06/03/2007 - 00:00
 

Lei federal sobre saneamento é questionada

Para fazer com que 20 milhões de brasileiros passem a contar com água encanada e outros 80 milhões tenham serviços adequados de esgoto, o Brasil teria que investir 0,63% de seu Produto Interno bruto nos próximos 20 anos. Atualmente, os investimentos correspondem a 0,20% do PIB. Diante deste cenário, o analista de planejamento da Assessoria Técnica da Copasa, Ronaldo Resende Pereira, questionou a utilidade da Lei 11.445, que fixa as diretrizes nacionais para o saneamento básico. "Tenho minhas dúvidas se esse setor precisa realmente de mais leis. Além disso, o Brasil tem muitas leis suíças para uma realidade africana. O que precisamos mesmo é de recursos para investir. As empresas da área são oneradas sempre, demonstrando claramente que saneamento não é prioridade".

Ronaldo Pereira lamentou ainda o fato de que a quase totalidade do esgoto produzido no País ainda seja jogada "in natura" nos rios e lagos. "Saneamento é vida. A falta dele prejudica o meio ambiente e é nociva à saúde", opinou.

Já o presidente da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento (Assemae), Silvano Silvério da Costa, mostrou-se mais otimista. Segundo ele, o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo Federal "traz um cenário novo e promissor" para a questão. "Haverá R$ 40 bilhões para serem investidos nos próximos anos. O PAC, a Lei 11.445 e a Lei dos Consórcios formam um tripé sobre o qual o setor deve se amparar", opinou.

O representante da Assemae lembrou que muitos municípios sozinhos não podem arcar com os serviços de água e esgoto; por isso, a saída está na formação de consórcios. Ele propôs a elaboração de uma campanha nacional incentivando a produção de planos regionais para o setor. "Há ainda outros desafios, como a formação de conselhos estaduais de saneamento, a realização de mais debates técnicos, a fiscalização do contingenciamento de recursos para o setor", concluiu.

Avanços - O assessor técnico de saneamento da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), Edson Aparecido da Silva, considerou a Lei 11.445 um avanço, embora reconheça que ela não agrada a todos, considerando a diversidade de opiniões e conflitos de interesse dessa área. "O diploma separa planejamento, regulação e prestação de serviço, o que já é um passo à frente. Ela define melhor o papel de cada um dos envolvidos no sistema e ainda fornece, mesmo que timidamente, instrumentos para controle social", afirmou.

Edson Aparecido questionou o atual papel das companhias especializadas em serviços de água e esgoto. Para ele, algumas delas só pensam nos lucros, esquecendo a finalidade social. "Não tenho nada contra uma empresa ser bem administrada, com resultados positivos, mas não se pode pensar só no negócio", disse.

Ele ainda chamou a atenção dos deputados estaduais mineiros para que não votem em hipótese alguma o projeto que cria subsidiárias da Copasa sem terem domínio total sobre o assunto. "Isso precisa ser muito discutido, inclusive o estudo de viabilidade técnica", finalizou.

Debates - Na fase de debates, o deputado Fábio Avelar (PSC) aproveitou a oportunidade para apresentar suas preocupações com a nova lei federal. "Tenho uma visão totalmente contrária à privatização do saneamento e me preocupa o enfraquecimento do papel dos estados em relação ao tema", afirmou.

Ele também fez um questionamento: "Não seria possível criar consórcio municipal, sem necessidade de criação de subsidiárias?" A coordenadora do curso de Especialização em Direito Administrativo da FGV/SP e consultora jurídica do Projeto Universalização do Serviço de Saneamento nos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e São Mateus, Vera Monteiro, argumentou que a formalização de um consórcio público é um processo bastante complexo e que a criação das subsidiárias foi a solução encontrada para, por uma via mais simples, permitir a diferenciação de tarifas, o que significa, segundo ela, a possibilidade de tarifas menores para a população das regiões onde serão criadas.

O coordenador de Programa de Melhoria no Setor de Saneamento do Ministério das Cidades, Ernani Ciríaco de Miranda, afirmou que a lei federal aprovada foi um consenso e que a necessidade, agora, é de discussão para regulamentá-la. Ele frisou que, ao contrário do receio do deputado Fábio Avelar em relação à privatização do setor, a lei fortalece o serviço público.

 

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